Sacerdote refletiu esta noite sobre “A Família que se alarga” a partir da figura de Jesus, uma conferência no âmbito dos Encontros da Quaresma promovidos pela ouvidoria da Praia
A relação que se estabelece entre pais e filhos é o que define uma família afirmou esta noite o padre Pedro Lima na conferência “A família que se alarga” que teve lugar na Igreja da Agualva, na ilha Terceira, no IV Encontro da Quaresma, promovido pela ouvidoria da Praia.
“São os filhos e os pais que definem aquilo que é uma família” afirmou o sacerdote que é pároco de Santa Luzia, em Angra do Heroísmo, ao recordar que “ todos somos filhos”: “na vida podemos não nos tornar pai/mãe, porém seremos sempre filhos porque não somos a causa de nós próprios, mas somos sempre gerados por um outro” e é a partir da relação que se estabelece entre os vários entes que se define e forja uma família.
A partir do exemplo de Jesus, que foi filho e é pai, o sacerdote dissertou sobre os desafios que se colocam às relações parentais hoje em dia, para salientar que a condição de filho é a única que não mudou ao longo dos tempos, apesar das alterações existentes na família.
Factores como “a emancipação da mulher”, o “uso de contraceptivos”, o desejo da “formação académica”, a “carreira profissional” e a própria realidade económica dos jovens interferem no tempo e na forma de os mais jovens olharem para a hipótese de serem pais, mas a partir do momento em que tomam a decisão de ter um filho, ou mais, são os filhos que acabam por condicionar a vida dos pais, hoje tal como no passado.
“Que acontece quando nos esquecemos daquilo que somos: ser filho ou filha? Às vezes pode acontecer esquecermos o papel de pai ou mãe, avô, avó, tio, tia… como que uma neglicência. Mas também pode acontecer esquecermos o papel de filho, que é aquilo que nos define” sublinhou destacando a história desta relação filial e a forma como os filhos são encarados pela família ao longo dos tempos.
O padre Pedro Lima lembrou ainda o papel da família na educação dos jovens e sobretudo na riqueza relacional que se estabelece com a família alargada, nomeadamente quando há pais educadores, avós, tios ou outros, para reforçar que hoje a família “não é a única entidade responsável pela educação dos filhos”.
O sacerdote chamou, ainda, a atenção dos participantes neste IV Encontro da Quaresma, na ouvidoria da Praia, para novos modelos de família- como as famílias “reconstruídas” ou as famílias monoparentais cuja realidade deve ser atendida pela Igreja, apesar do modelo de família que a instituição protege.
“A relação entre pai e filho constitui um dos pilares fundamentais do próprio cristianismo, pois não há outro caminho para o Pai (Deus) senão a partir do seu Filho, que encarna na pessoa de Jesus, o Cristo “ lembrou a partir do evangelho de João.
O sacerdote, que é professor de Teologia Dogmática no Seminário de Angra retomou, ainda algumas questões levantadas pelo Papa Francisco na Exortação pós-sinodal Amoris Laetitia, sobre a família, para reforçar a importância do papel da família na educação cristã dos filhos, lembrando que “Os pais influenciam sempre, para o bem ou para o mal, o desenvolvimento moral dos seus filhos” e a “família não pode renunciar a ser lugar de apoio, acompanhamento, guia, embora tenha de reinventar os seus métodos e encontrar novos recursos”
“Por isso, eis as perguntas que faço aos pais: `Procuramos compreender onde os filhos verdadeiramente estão no seu caminho? Sabemos onde está realmente a sua alma? E, sobretudo, queremos sabê-lo?”, interpelou o sacerdote socorrendo-se da mesma pergunta que o Papa Francisco faz no referido documento do Magistério quando ressalva a importância dos pais cuidarem da educação dos filhos.
“Se a escola instrui para os temas académicos, a família deve educar para os temas éticos e para a afetividade”, sem descurar o “esforço de correção”.
“Cada família apresenta uma dinâmica e complexa arquitectura relacional, na qual se articulam três elementos externos: primeiro, cada família recém-formada resulta do cruzamento de duas outras histórias familiares precedentes (a família do marido e a família da esposa), em que cada uma condiciona e influencia a construção desta nova família; segundo, nesta mesma família exerce-se um arco multiplural de relações , em que se cruzam histórias individuais, experiências em conjunto e ligações inter geracionais e terceiro, cada família vive uma permanente tensão temporal, entre um conjunto de tradições e rituais do passado transmitidos pelas gerações mais velhas (avós), o drama dos desafios do presente vividos pela geração intermédia (pais) e os sonhos futuros projetados pelas gerações mais novas (filhos)” afirmou o sacerdote.
O padre Pedro Lima referiu ainda a importância dos sacramentos na Família.
O V e último Encontro da Quaresma realiza-se no próximo dia 29 e tem como orador o padre Gregório Rocha.