A festa em honra de Nossa Senhora dos Milagres, na Serreta, é a mais popular da ilha Terceira durante o verão
Milhares de peregrinos de toda a ilha Terceira, nos Açores, chegam a partir desta sexta feira ao Santuário da Serreta, onde decorrem, entre os dias 8 e 9, as festas de Nossa Senhora dos Milagres.
São várias as peregrinações organizadas ou espontâneas, que chegam a este santuário mariano durante o mês de setembro e que se intensificam no chamado fim de semana da Serreta, com os principais movimentos de apostolado a organizarem-se para animar as diferentes celebrações, sobretudo durante o novenário que precede as festas propriamente ditas.
Este Santuário, que terá no novo ano pastoral um novo reitor, o Pe. João Pires (que substitui o Cónego Manuel Carlos Alves), acolhe todos os anos milhares de peregrinos mas é neste fim de semana que a afluência é maior e por isso está aberto em permanência durante os dias da festa que começa sempre com um novenário, que ainda decorre, e termina com a ultima procissão em honra de Santo António que é feita sempre um dia depois do bodo que coincide com a “segunda-feira da Serreta”.
Desde 2005 que o Conselho Pastoral Paroquial optou por direcionar o novenário de preparação como momento propício de evangelização que visa alguns segmentos populacionais como a família, idosos, doentes, juventude, catequistas, entre outros.
No dia 9 haverá missa solene, pelas 16h00, seguida de procissão. Na segunda feira, dia 10, terá lugar o Bodo de Leite (com o tradicional pic nic das famílias e tourada à corda) e no dia seguinte realiza-se a procissão em honra de Santo António, que encerrará as festas deste ano.
Estas festas são as mais importantes da ilha Terceira e remontam ao século XVII.
O historiador terceirense Ferreira Drumond, baseado numa tradição oral, refere que a ida da imagem de Nossa Senhora dos Milagres para a Serreta se deve a um sacerdote de nome Isidro Machado que se refugiou neste extremo ocidental da ilha e construiu uma pequena ermida colocando lá a imagem de Nossa Senhora com o Menino ao colo. Por morte do padre, a imagem foi recolhida na igreja paroquial de então, a Igreja das Doze Ribeiras.
A devoção popular pela Nossa Senhora dos Milagres está, de resto, ligada a fases cruciais da história da ilha. É exemplo disso o século XVIII, quando Portugal se viu envolvido na guerra entre a França e a Espanha contra Inglaterra. Encontrando-se a ilha Terceira “desprovida de fortificações e pouco defensável”, as autoridades militares e civis ao depararem com a imagem de Nossa Senhora dos Milagres, na Igreja das Doze Ribeiras, formularam um voto de se “tornarem seus escravos e promoverem-lhe festa anual se a ilha não sofresse qualquer investida inimiga. E porque assim sucedeu se firmou o voto, subscrito pelos principais cavalheiros militares e eclesiásticos, autoridades e algumas damas de fé”.
A primeira festa foi celebrada a 11 de setembro de 1764, data da fundação da Irmandade dos Escravos de Nossa Senhora, mas a sua realização não foi continua. Só a partir de 1842, altura em que foi construída a igreja paroquial da Serreta e elevada a paróquia 20 anos depois, a Festa foi ganhando novos contornos atraindo muitos angrenses. Desde então a festa realiza-se todos os anos.
No começo da devoção procurou-se proteção divina contra a guerra; hoje razões de saúde, crises familiares, desemprego, etc, são motivos que fazem com que milhares de terceirenses peregrinem a pé ao Santuário da Serreta pedindo e agradecendo a intercessão de Nossa Senhora dos Milagres.
Em apenas três dias chegam ao santuário cerca de 10 a 12 mil peregrinos, fora os que anualmente visitam este templo, elevado há 12 anos ao estatuto de Santuário Diocesano, por D. António de Sousa Braga.
À semelhança de outros anos, o Governo Regional dos Açores concederá tolerância de ponto aos funcionários da Administração Pública Regional, cujos serviços estão sediados na Terceira, por ocasião da tradicional festa da “segunda-feira da Serreta”.