O secretário de Estado do Vaticano manifestou a disponibilidade da Santa Sé para “qualquer mediação” entre Israel e Palestina, para travar a escalada de violência na região.
“A Santa Sé está pronta para qualquer mediação necessária, como sempre. Entretanto, procura conversar com as organizações cujos canais já estão abertos. Qualquer mediação para pôr fim ao conflito deve, contudo, levar em conta uma série de elementos que tornam a questão muito complexa e articulada, como a questão dos assentamentos israelitas, a segurança e a questão da cidade de Jerusalém”, indicou o cardeal Pietro Parolin, em entrevista aos media do Vaticano.
O responsável da diplomacia da Santa Sé sustenta que uma solução para a atual crise só pode ser encontrada “no diálogo direto entre palestinos e israelitas, incentivado e apoiado pela comunidade internacional”.
“Não sei qual é o espaço para o diálogo entre Israel e a milícia do Hamas, mas se houver, e esperemos que haja, ele deve ser procurado imediatamente e sem demora”, apelou.
O Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007, lançou no último sábado um ataque surpresa contra o território israelita, sob o nome de operação “Tempestade al-Aqsa”; em resposta, Israel bombardeou a partir do ar várias instalações do Hamas naquele território palestino, numa operação que batizou como “Espadas de Ferro”.
O balanço mais recente aponta para quase três mil mortos dos dois lados: 1300 israelitas e 1445 palestinos.
O secretário de Estado do Vaticano considerou “desumano” o ataque terrorista contra milhares de israelitas que “estavam prestes a celebrar o dia da Simchat Torá, no final da semana da festa de Sukkot”.
“A Santa Sé expressa a sua total e firme condenação. Além disso, estamos preocupados com os homens, mulheres, crianças e idosos que estão a ser mantidos como reféns em Gaza. Expressamos a nossa proximidade às famílias afetadas”, indicou.
D. Pietro Parolin pediu que todas as partes deixem de lado “a lógica cega do ódio”, rejeitando a violência como solução.
“O atacado tem o direito de se defender, mas a autodefesa também deve respeitar o parâmetro da proporcionalidade”, precisou.
O colaborador do Papa mostrou-se preocupado com o “derramamento de sangue, como está a acontecer em Gaza, onde há muitas vítimas civis inocentes, em resultado dos ataques do exército israelita”.
“É justo que os reféns sejam devolvidos imediatamente, mesmo os que estão em poder do Hamas desde os conflitos passados: nesse sentido, renovo com veemência o vibrante apelo lançado e repetido pelo Santo Padre nos últimos dias”, declarou.
O secretário do Vaticano considerou ainda “justo que, em legítima defesa, Israel não coloque em risco os civis palestinos que vivem em Gaza”, desejando que “o direito humanitário seja totalmente respeitado”.
Parece-me que a maior justiça possível na Terra Santa é a criação de dois Estados, o que permitiria que palestinos e israelitas vivessem lado a lado, em paz e segurança, atendendo às aspirações da maioria deles”.
Esta manhã, o cardeal Parolin visitou a Embaixada de Israel junto da Santa Sé para levar “solidariedade e proximidade espiritual” ao embaixador Raphael Schutz, após o “trágico atentado sofrido no último sábado”.
“Neste contexto, quis expressar preocupação pelo respeito da população civil israelita e palestina, especialmente a de Gaza, no conflito em curso”, adianta o portal de notícias do Vaticano.
Israel emitiu uma “ordem de deslocação” para cerca de 1,1 milhões de pessoas no norte da Faixa de Gaza, em 24 horas, disse a ONU, que pediu a anulação da ordem.
Para o porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, Stéphane Dujarric, citado pela Lusa, uma evacuação desta dimensão é “impossível sem causar consequências humanitárias devastadoras”.
O número de deslocados na Faixa de Gaza ultrapassou os 338 mil, de acordo com o Gabinete de Coordenação da Ajuda Humanitária das Nações Unidas (OCHA).
(Com Ecclesia e Vatican News)