Santa Maria Madalena é o exemplo de uma Igreja que não se acomoda e quer ser o rosto de Jesus, afirma padre Nuno Sousa

Jovem sacerdote presidiu esta tarde à celebração da solenidade de Santa Maria Madalena, uma das grandes festas de verão no Pico

A festa de Santa Maria Madalena é um “autêntico itinerário de esperança de Maria para Deus, de cada um de nós, de cada crente, para Deus, para o seu e nosso Senhor” referiu esta tarde o padre Nuno Pacheco de Sousa, que presidiu à celebração da solenidade de Santa Maria Madalena, no Pico.

Numa celebração, que respeitou todas regras de segurança próprias deste tempo de pandemia, o sacerdote micaelense, que pregou o novenário de preparação desta festa -uma das três grandes festas religiosas da ilha montanha no verão-, lembrou o exemplo desta “apóstola” para interpelar a assembleia sobre o modelo de Igreja no pós-pandemia e o papel da mulher na sociedade e na Igreja.

A partir do episódio narrado no evangelho de São João, sobre a manhã de Páscoa, em que Madalena se depara com o sepulcro vazio e que, depois da perturbação inicial, parte para espalhar a noticia do desaparecimento e logo depois anuncia a ressurreição de Cristo, o padre Nuno Pacheco de Sousa salienta que este itinerário tem que se repetir na vida de cada crente, porque é do “espanto e da alegria da ressurreição” que nasce o “verdadeiro encontro com Deus”, “tornando-nos homens e mulheres novos para este tempo, nesta geografia onde vivemos” afirmou.

“É preciso aceitar a desordem e a perturbação da manhã de Páscoa!” frisou ao destacar que os cristãos não devem ficar presos na tristeza que decorre dos problemas, mas entusiasmarem-se com a esperança da ressurreição, que anuncia vida nova.

“No meio das lágrimas, eis o grito: Eu vi o Senhor!! É este o grito da manhã de Páscoa, o grito da esperança da nossa humanidade, exatamente porque Ela escutou a morte com o ouvido do seu coração e pôde ouvir a vida que lhe estava latente no meio de tanta confusão e dor”.

“Depois deste tempo que nos garroteia, deste tempo que nos deixa adoecidos, perguntemos com verdade e sem medo: Que sociedade ficará? Que Igreja nascerá? Semelhante à manhã de Maria Madalena, com um passo lento e chorosa; ou uma Igreja confiada e cheia de espanto?” interpelou.

O sacerdote prosseguiu sublinhando que a pandemia desafia a Igreja a sair, “uma Igreja que não seja uma fortaleza, mas antes um casa comum, que não sirva apenas para aguentar ou atacar, mas antes de tudo que se entrose entre a domesticidade dos dias, dando testemunho, não apenas falando por falar, mas sendo para o mundo e no mundo, um coração capaz de iluminar as sombras que persistem, antecipando os passos da humanidade”.

Na homilia desta Festa, assim declarada em 2016 por desejo do Papa Francisco, para ressaltar a importância desta discípula fiel de Cristo, o padre Nuno Pacheco de Sousa sublinhou ainda este dimensão de discipulado das mulheres dentro da sociedade e da Igreja.

“Maria de Magdala encerra em si todas as Marias deste mundo, todas as mulheres, ela é hoje modelo de muitas mulheres ainda ultrajadas e ofendidas pela sociedade e por ideias preconcebidas”, afirmou.

Por isso, acrescentou: “a festa de Maria Madalena é lugar para todas as mulheres esquecidas, para todas aquelas que ergueram comunidades e famílias sozinhas, enquanto os maridos, ora em botes baleeiros partiam durante tempos, ora emigravam, algumas vezes sem mais voltar. Mulheres tantas vezes estigmatizadas, como tantas vezes o foi Maria de Magdala, diminuídas na sua condição, abençoadas na sua possibilidade de gerar vida e de dar à luz, mais luz e mais mundo e colocadas de lado por sistemas que preteriam em vez de incluírem”.

E concluiu: “Temos de defender tantas mulheres como Maria Madalena que ainda hoje existem enquanto bodes expiatórios, de inverdades e de injustiças conjugadas no feminino, mesmo se isso acontecer no seio da Igreja Católica”.

“A verdadeira arqueologia, a verdadeira geografia, aponta-nos que Maria Madalena é de todas as mulheres, é da Madalena do Pico, é de Magdala, é dos crentes, mas é de todos porque foi e é da manhã da Ressurreição, esta manhã inicial, inteira e limpa, como nos diz Sophia, e que faz tudo ao contrário”.

Esta quinta-feira, na Solenidade de Santa Maria Madalena e feriado municipal do Concelho da Madalena, houve Missa pelas 10h30 com a celebração do Sacramento do Batismo e pelas 12h00 a bênção anual da viaturas com a saudação à Padroeira, com a presença dos Bombeiros Voluntários da Madalena, em dia de aniversário.

O ponto alto da Festa esta celebração  campal no Largo Cardeal Costa Nunes, onde todos os fieis tiveram de respeitar o distanciamento social, a higienização das mãos e uso de máscaras de proteção. Terminada a celebração festiva as filarmónicas da Vila saudaram a Padroeira.

Deve-se a São Tomás de Aquino este título dado a Maria Madalena, cujo nome deriva de Magdala, onde nasceu, aldeia de pescadores situada às margens ocidentais do Lago de Tiberíades. O evangelista Lucas fala sobre ela, no capítulo 8: “Jesus andava pelas cidades e aldeias anunciando a boa nova do Reino de Deus. Os Doze estavam com ele, como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e curadas de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios”.

Equívocos sobre a sua identidade

Segundo a exegese bíblica, a expressão “sete demônios” poderia indicar um gravíssimo mal físico ou moral, que havia acometido a mulher, do qual Jesus a curou. No entanto, a tradição, que perdura até hoje, diz que Maria Madalena era uma prostituta, porque, no capítulo 7 do Evangelho de Lucas, narra-se a história da conversão de uma anônima “pecadora da cidade, que ungia com perfume os pés de Jesus, convidado de um fariseu; após tê-los banhado com suas lágrimas, os enxugava com seus cabelos”.

Assim, sem nenhuma ligação textual, Maria de Magdala foi identificada com aquela prostituta anónima. Porém, há mais um equívoco, como explica o Cardeal Gianfranco Ravasi, biblista e teólogo: “A unção com óleo perfumado é um gesto feito também por Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro, em outra ocasião, como diz o evangelista João. Assim, Maria de Magdala foi identificada, por algumas tradições populares, com a Maria de Betânia”.

Aos pés da Cruz

Maria Madalena aparece ainda nos Evangelhos no momento mais terrível e dramático da vida de Jesus: quando o acompanha ao Calvário, com outras mulheres, e o contempla de longe. Ela aparece também quando José de Arimateia depõe o corpo de Jesus no sepulcro, que fora fechado com uma pedra. Foi ela, depois do sábado, na manhã do primeiro dia da semana, quem voltou ao sepulcro e descobriu que a pedra havia sido removida e correu avisar Pedro e João; eles, por sua vez, foram às pressas ao sepulcro e viram que o corpo do Senhor não estava mais lá.

Encontro com o Ressuscitado

Enquanto os dois discípulos voltam para casa, Maria Madalena permanece diante do sepulcro, em lágrimas. Ali, tem início um novo percurso: da incredulidade passa, progressivamente, à fé. Ao olhar dentro do sepulcro, viu dois Anjos, aos quais perguntou para aonde fora levado o corpo do Senhor. Depois, voltando para fora, viu Jesus, mas não o reconheceu, pensando que fosse o jardineiro; este lhe perguntou por que estava chorando e quem estava procurando. E ela respondeu: “Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar”. Jesus, então, a chama por nome: “Maria!”. E ela, voltando-se, disse: “Rabôni!”, que, em hebraico, quer dizer “Mestre!”. E Jesus lhe confia uma missão: “Não me retenhas, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”. Então, Maria de Magdala foi imediatamente anunciar aos discípulos: “Vi o Senhor! E ouvi o que ele me disse” (cfr. Jo 20).

 

Madalena proclama a ressurreição de Jesus

Maria Madalena foi a primeira das mulheres que seguiram Jesus e a proclamá-lo como Aquele que venceu a morte; foi a primeira apóstola a anunciar a alegre mensagem central da Páscoa. Quando o Filho de Deus entrou na história dos homens, esta mulher foi um daqueles que mais o amou e o demonstrou. Quando chegou a hora do Calvário, Maria Madalena estava aos pés da Cruz, junto com Maria Santíssima e São João. Ela não fugiu com medo, como os discípulos fizeram; não o renegou por medo, como fez o primeiro Papa, São Pedro, mas sempre esteve presente, desde o momento da sua conversão até ao Calvário e ao Sepulcro.

(Com Vatican News)

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