Primeira sessão formativa sobre o papel do “procurador das almas” regista adesão em massa
O auditório da Escola Secundária da Lagoa, em São Miguel, voltou a encher-se de romeiros que participaram, este domingo, na primeira “ação de formação” específica para “procuradores das almas”, os elementos dos ranchos de romeiros da Quaresma, que fazem a ligação com o exterior durante a romaria quaresmal, deslocando-se atrás do grupo.
O “procurador das almas” é o romeiro de ligação espiritual entre o rancho e a comunidade, em três vertentes: a parte da recolha de oração; contacto com a comunidade e o intercâmbio com o rancho, procedendo também à evangelização de uns e de outros.
Recebe do exterior os pedidos de “reza”, em número de Avé Marias e Pai Nossos, que marca nos terços que leva ao pescoço, comunica-os ao rancho, mas ao mesmo tempo, deve mobilizar os irmãos romeiros para o sentido de cada uma das rezas, explicando as histórias de vida que lhe são contadas por quem pede orações.
“Esta formação é a primeira do género de um plano pastoral que achamos que seja auspicioso e que dê bons frutos”, disse ao Sítio Igreja Açores o coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel (MRSM), João Carlos Leite.
“É importante que nós romeiros tenhamos a mesma perspetiva perante o que é esta caminhada quaresmal, que envolve muita gente e que, para além de física é sobretudo espiritual”, frisou João Carlos leite.
“Temos todos de ter a consciência que a comunidade deposita muitas expetativas em nós, de tal forma que às vezes, eu próprio, sinto que as pessoas acreditam mais no poder da nossa oração do que na oração delas e, por isso, temos de levar tudo isto muito a sério. Eu sei que já é assim mas se pudermos melhorar ganhamos todos”, conclui o dirigente.
A reunião deste domingo, dirigida especificamente aos “procuradores das almas” foi animada por três romeiros que desempenham esta função nos seus ranchos: Paulo Cesar Bulhões (Lombinha da Maia), Raul Medeiros (São Pedro de Ponta Delgada) e Eduíno Piques (Nossa Senhora da Estrela, Ribeira Grande) e é a primeira de uma série de “formações” previstas para este ano pastoral, seja no dominio da organização e vivência interna de cada grupo, seja no dominio da ação com o exterior seja, ainda, no dominio da espiritualidade.
“Hoje é um momento histórico na ilha de São Miguel porque estão aqui dezenas de irmãos só com esta função de procuradores e julgo que isso acontece pela primeira vez” referiu ao Sítio Igreja Açores Raúl Medeiros, “Procurador das almas” no Rancho de São Pedro, em Ponta Delgada, há 14 anos.
“O procurador tem um papel muito importante, sobretudo atendendo a que durante a romaria há momentos em que a concentração diminui, em que há ações externas que nos fazem desconcentrar e o procurador das almas tem, também nesses momentos, uma tarefa muito importante que é abrir o rancho para aqueles que são os problemas da comunidade, sensibilizá-lo e motivá-lo para a caminhada”, sublinha este romeiro.
O procurador é escolhido pelo mestre, mas durante a romaria pode ser substituído caso não se sinta “em condições para desempenhar o papel”.
Por isso, diz Paulo César Bulhões, Romeiro há 20 anos, “procurador das almas” há um, no Rancho da Lombinha da Maia, “as competências são muito importantes”.
“As atitudes, a capacidade de comunicar e de transmitir são fundamentais para o desempenho deste papel, até para conseguirmos manter o sigilo sobre a história que nos foi contada e para a triagem que é preciso ser feita em cada momento”.
“Ás vezes sentimo-nos os únicos ouvidos de uma história que precisa ser contada e as pessoas desabafam muito connosco… sobretudo agradecem imenso e pedem-nos que demos graças. As pessoas agradecem mais do que pedem aos Romeiros”, acrescentou ao Sítio Igreja Açores, Eduíno Piques, Romeiro há 14 anos no Rancho da Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, onde é “procurador das almas” há 13.
Durante esta tarde, além destes três “animadores” que procuraram, acima de tudo, transmitir a sua vivência enquanto procuradores das almas nos seus ranchos, foram vários os testemunhos, as dúvidas e as inquietações colocadas numa sessão “bastante participada”, onde também esteve presente o assistente espiritual do MRSM bem como os elementos do grupo coordenador.
Esta formação é a primeira de uma série prevista pelo Grupo Coordenador do MRSM que, sintonizado com as orientações de pastoral definidas pelo prelado diocesano, aponta para o desenvolviemnto de um plano de ação que passa pela “criação de um maior espirito de cooperação entre os agentes pastorais do movimento, pelo acompanhamento e dinamização da pastoral do movimento nas Paróquias e Ouvidorias, pela promoção da comunhão com outras realidades eclesiais e pela revisão do Regulamento”.
Durante o ano pastoral haverá formação em áreas como a comunicação, pastoral e cultura.