Movimento inaugura exposição itinerante “Romeiros Símbolos e Tradições I”
O Coordenador do Movimento dos Romeiros de São Miguel (MRSM) disse esta tarde que quer que os romeiros sejam “autênticos e ativos”, no testemunho e na ação.
Na inauguração da exposição “Romeiros: Símbolos e Tradições I”, que ocorreu este sábado ao fim da tarde no Museu do Franciscanismo, na Ribeira Grande, João Carlos Leite sublinhou a importância do trabalho dos Romeiros no seio das suas comunidades.
“Queremos ser autênticos e ativos como nos pediu o nosso Bispo na sua alocução aquando da nossa tomada de posse”, disse o responsável frisando que esta exposição visa “dar a conhecer o carisma deste movimento” e a dinâmica que ele envolve, nomeadamente “no crescimento humano, cívico e cristão” de cada homem que participa numa romaria.
Um crescimento que assenta em quatro grandes pilares: a aposta na Cultura, na comunicação, na formação e no trabalho pastoral “testemunhado os valores Evangélicos, ao serviço das instituições, com sentido de verdadeira cidadania, portadores de Esperança num Mundo novo onde reine a ternura entre as pessoas e o respeito pela nossa casa comum”, disse João Carlos Leite.
O responsável do grupo coordenador elogiou o trabalho da equipa da cultura que desenvolveu esta exposição itinerante cuja primeira paragem é a Ribeira Grande, mas que irá percorrer todas as ouvidorias da ilha de São Miguel até ao inicio da Quaresma.
João Carlos Leite anunciou, ainda que o MRSM iniciou “uma caminhada para a edificação da Casa do Romeiro, uma casa que nos ajude a congregar todo o acervo material dos Romeiros de S. Miguel”.
“Estamos abertos a todas as parcerias que possam surgir neste sentido e que nos possam ajudar a concretizar este sonho, que é simultaneamente um dever do Movimento”, concluiu.
A exposição inaugurada esta tarde conta com a presença de dois bordões e duas cevadeiras de cada um dos 54 ranchos existentes na ilha e pretende dar a conhecer um pouco da história e da vida dos romeiros das diferentes freguesias, através destes dois elementos da indumentária dos romeiros.
A cerimónia contou com a presença de inúmeros romeiros. Um deles, um dos mais antigos, Fernando Maré, ex mestre dos Romeiros da Ribeira Seca, na Ribeira Grande, percorreu a história das romarias de São Miguel.
“As romarias quaresmais de S. Miguel, apesar de serem conhecidas de toda a gente, são difíceis de explicar, é daquelas tradições em que só participando é que se pode saber o que é ser romeiro”, disse o Romeiro.
Referiu os vários autores que narram a história das romarias, com origem nos cataclismos naturais da ilha, o seu sentido penitencial mas ao mesmo tempo de agradecimento e a dedicação a Nossa Senhora “com a intenção e a confiança de que a força da oração protegia e guardava os bens e as pessoas no interior da Ilha”.
“Hoje em dia as romarias Quaresmais de S. Miguel já são um movimento da Igreja, com um regulamento autorizado pelo Bispo da Diocese, e uma das regras deste regulamento é que todos os romeiros deverão ter formação técnica e religiosa, no mínimo de 20 horas antes da saída”, recordou.
Fernando Maré, que completou mais de 50 anos de romarias ininterruptas, destacou ainda o facto de todas as freguesias da ilha de São Miguel se preocuparem em organizar um rancho de romeiros e falou da sua dinâmica.
Os ranchos são formados em duas alas, normalmente com o romeiro mais novo na frente ao meio com um crucifixo, ladeado com 2 guias, que são romeiros que conhecem melhor os caminhos; ao meio do rancho vai o lembrador das almas e os ajudantes que ajudam ao mestre nas orações, na preparação das refeições e outras coisas necessárias ao rancho. Atrás vai o mestre que é quem superintende em tudo o que é necessário para o êxito da romaria e a quem é devida obediência. Atrás do mestre vai também o procurador das almas que é o romeiro que vai recebendo os pedidos de orações das pessoas que vão pedir aos romeiros para rezarem pelas suas intenções. É com o procurador das almas que essas pessoas partilham as suas dores, a sua esperança, as suas tristezas, as suas lágrimas, a sua fé e esperança na oração. Este romeiro vai registando num terço todos os pedidos que lhe são feitos para depois na caminhada os romeiros rezarem por essas intenções, que para evitar algum esquecimento são sempre rezados em voz alta. Em contrapartida essas pessoas que pedem orações ao rancho terão que rezar tantas orações quanto o rancho de romeiros. De salientar também que o número de romeiros de um rancho é sempre aumentado por mais três, que são Jesus, Maria e José (Sagrada Família).
Esta exposição é itinerante. No dia 10 passará para Ponta Delgada, para O Centro Municipal de Cultura.
Disponibilizamos o áudio da apresentação desta exposição: