Pe Ricardo Tavares foi convidado pela Zona Pastoral da Cidade de Ponta Delgada para recordar Concílio Vaticano II
Um dos problemas da Igreja “senão o maior de todos” é “fazer muitas actividades e criar muitas pastorais e nada disso vem de Deus”, disse o Diretor Diocesano da Pastoral da Cultura durante uma conferência que se realizou na Igreja Matriz de São Sebastião, em Ponta Delgada, este sábado à noite.
“Falta-nos na vida pastoral da igreja a verdadeira ação de Deus, tempo para a oração, a reflexão e a meditação, interiorizando que a Evangelização é o mistério da sementeira” disse o Pe Ricardo Tavares.
O sacerdote, que foi o convidado da Zona Pastoral da Cidade, da ouvidoria de Ponta Delgada, para recordar o Concílio Vaticano II, que classificou de “Tesouro Encoberto”, lembrou que tal como Pedro desconfiou da capacidade de Jesus para pescar, ”também nós achamos que somos donos da verdade” e “é tempo de criarmos mais espaço para a oração e para o entendimento da verdade que Ele nos quer transmitir”.
Numa conferência pouco participada, o sacerdote que é professor de Educação Moral e Religiosa Católica na Lagoa, lembrou que o principal desafio do Concilio Vaticano II foi interpelar-nos para um “conhecimento do coração humano em cada tempo e em cada lugar para melhor comunicarmos Jesus”.
De acordo com o Pe Ricardo Tavares esse desafio traduziu-se na imagem de uma Igreja Católica apostada em acompanhar a sociedade em mudança.
A conferência que começou com a parábola do tesouro escondido, para sublinhar que o próprio Concílio “foi encoberto nos últimos anos” pela “comunicação social” e por todos aqueles que acham que o Concilio “acabou com os dogmas de sempre da igreja e relativizou o pensamento e a ação”, passou em revista a metodologia presente nos trabalhos e “o consenso de fé” alcançado.
Para o Pe Ricardo Tavares o grande objetivo dos padres conciliares, sobretudo de quem o convocou e terminou- os papas João XXIII e Paulo VI- foi recentrar a atenção das pessoas “no essencial que é a verdade de Deus” e na chamada à responsabilidade e compromisso de todos”, independentemente da sua posição na igreja.
Apesar do Concilio “ainda estar aquém da sua concretização” a verdade é que para o responsável pela pastoral cultural na diocese de Angra há um marco decisivo 30 anos depois do Concílio, que é a publicação do catecismo da Igreja Católica pelo Papa João Paulo II e pelo então Cardeal Joseph Ratzinger.
“Foi este documento que de uma forma sintética e clara faz a síntese de tudo, interpretando o espírito conciliar que quer uma igreja mãe amorosa, que se preocupa em especial com quem está mais afastado e promete uma felicidade que não é só terrena”, diz o sacerdote.
O Concílio Vaticano II foi convocado em 1962 por João XXIII mas só a 4 de dezembro de 65 se iniciou a fase conclusiva, já no pontificado de Paulo VI, que ofereceu na ocasião aos observadores “uma campainha de bronze, em recordação pelos momentos de oração em comum e na perspetiva de uma reunificação”.
D acordo com um artigo do jornal “L’Osservatore Romano” o dia 7 de dezembro foi “deveras histórico, denso de acontecimentos e de sinais”.
Naquela que foi a “última assembleia pública do Vaticano II”, foram “aprovados quase em unanimidade os últimos quatro documentos conciliares: os decretos sobre a liberdade religiosa, sobre as missões e sobre os sacerdotes; e a constituição pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo”.
Foi também lida “a declaração conjunta entre as Igrejas de Roma (católica) e Constantinopla (ortodoxa) sobre a eliminação da memória das excomunhões feitas em 1054 entre as duas sedes”.
O Papa Paulo VI selou o momento “com um abraço ao enviado do patriarca Atenágoras”, de Constantinopla.
Já o delegado ortodoxo presente no Concílio Vaticano II “colocou nove rosas no túmulo de São Leão IX”, que era Papa na altura do cisma, “recordando assim nove séculos de separação”.
Seguiu-se uma missa onde Paulo VI pronunciou, segundo o jornal do Vaticano, “um dos seus textos mais bonitos e inspirados” e no qual explicou “a essência do Concílio”.
“Talvez nunca como nesta ocasião a Igreja sentiu a necessidade de conhecer, aproximar, compreender, penetrar, servir, evangelizar a sociedade circunvizinha, e de a captar, quase de a seguir na sua rápida e contínua mudança”, salientou.
Para o Papa Montini, durante a assembleia conciliar, “a religião do Deus que se fez Homem encontrou-se com a religião (porque disto se trata) do homem que se faz Deus”.
O epílogo do Concílio Vaticano II chegou a 8 de dezembro, dia da Festa da Imaculada Conceição, em que Paulo VI afirmou o compromisso de uma Igreja Católica que quer estar aberta a todos.
“Para a Igreja católica ninguém é estrangeiro, ninguém é excluído, ninguém está distante”, completou.