Por Renato Moura
O António Sousa Almeida, funcionário autárquico, quando herdou muitas relvas, decidiu dedicar-se, nas horas vagas, à criação de gado. Certo dia perguntei-lhe como estava correndo a actividade. Explicou-me como ao longo do tempo foram surgindo problemas e ele, que nunca fora lavrador, não os sabia resolver. Acabou concluindo: “oh meu amigo, quem não sabe não se meta”.
Recordo muito o ensinamento daquele amigo; por vezes quando vejo alguém aceitar cargos em Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS). Nestas é indispensável conhecer razoavelmente a instituição e faz falta saber de gestão. Mais grave não é a falta de conhecimentos, pois ninguém nasce sabendo. Seja qual for a controversa origem do “só sei que nada sei” deveria ser esse um princípio filosófico de quem vai assumir um lugar novo. Fatal é a sobranceria de não reconhecer que não se sabe tudo e a falta de humildade para querer aprender, sobretudo quando se ignora tanta coisa.
De tantas IPSS, muitas são da Igreja. Sobretudo nestas ninguém deveria aceitar cargos se não tem, ou ainda não tem, capacidade para assumir as responsabilidades. Bem sabemos haver na Igreja um problema ancestral de manutenção do poder, que o Papa Francisco tanto tem condenado. Uma antiga e deplorável prática de não atribuir responsabilidades maiores a leigos, votados a meros colaboradores, situação agravada tratando-se de mulheres.
Fará sentido que instituições para acolher e educar crianças sejam presididas por padres, eles sem experiência de constituição de família e criação de filhos?!
Já vi boas excepções nascidas de muita vontade em aprender, de aceitação da experiência ou conhecimentos dos demais directores e dos próprios trabalhadores. Há instituições cujo sucesso e até a própria sobrevivência se devem à dedicação dos vários trabalhadores e frequentemente de algum em concreto. Quem assume funções de direcção deveria ser portador de responsabilidade e expressar gratidão pela história da instituição; gratidão pela oportunidade de prestar um serviço de qualidade e melhorar sem destruir; gratidão aos trabalhadores que a servem e percepção do sinal de alarme se uns atrás de outros abandonam a instituição.
Quem dirige deve ser firme, mas agir com estudo e compromisso. Se assim o fizer, servindo sem nada esperar, mais tarde verá o seu trabalho reconhecido.
E se um dia, mesmo anos depois, um trabalhador lhe telefonar agradecendo a oportunidade de ter sido admitido, merecido confiança e sido feliz, essa inesperada gratidão recebe-se com emoção.