Diocese seguiu “à risca” compromisso assumido com Santuário O Resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a joia mais emblemática do tesouro composto por cinco peças, já se encontra de novo em Ponta Delgada, no Santuário, depois de ter integrado, durante mais de um mês, a exposição Splendor et Gloria, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
Apesar da existência de um relatório técnico que aponta para a urgente necessidade de intervenção na peça para a consolidar e do mesmo ter sido do conhecimento prévio dos responsáveis pelo Santuário do Senhor Santo Cristo que não quiseram pronunciar-se sobre a permanência da peça em Lisboa a fim de regressar ao laboratório José de Figueiredo para essa operação de conservação, a Diocese de Angra cumpriu com o que estava estipulado, fazendo regressar o resplendor à região no dia que estava acordado.
A jóia regressou à ilha de São Miguel ao final desta manhã, debaixo das mais restritas regras de segurança, tal como quando foi para Lisboa, no passado dia 10 de junho, a tempo de adornar a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, na festa do Cristo Rei, que se realiza no próximo dia 23 de novembro, como tinha sido garantido pela Diocese.
A Jóia foi transportada numa carrinha de valores do Museu Nacional de Arte Antiga até ao aeroporto da Portela, esta sexta feira de manhã, depois de devidamente fotografada e de ter sido assinado um termo de responsabilidade, com a hora e data de saída, tendo sido escoltada por elementos da força de segurança e acompanhada por um elemento do Serviço Diocesano dos Bens Culturais da Igreja e por um técnico do Museu Nacional de Arte Antiga.
Depois seguiu de avião para Ponta Delgada e já se encontra neste momento à guarda do Reitor do Santuário da Esperança, depois de ter sido transportada do aeroporto João Paulo II.
“Tudo correu conforme estava previsto e dentro da normalidade graças à excelente cooperação das diferentes forças de segurança e entidades envolvidas” disse ao Sítio Igreja Açores um dos responsáveis pela operação de transporte da Jóia.
A peça esteve em Lisboa e integrou, até ontem, a exposição Splendor Et Gloria, que reúne mais quatro peças de ourivesaria portuguesa do período barroco entre 1756 e 1780: a custódia da Sé Patriarcal de Lisboa, a custódia do Paço da Bem Posta, o Resplendor do Senhor dos Passos da Igreja da Graça e a Venere das cinco ordens de D. João V.
A exposição do Museu Nacional de Arte Antiga, que estará patente ao público até dia 4 de janeiro, tem sido “um sucesso”.
Inaugurada no dia 24 de setembro, com a presença entre outros do Núncio Apostólico e representantes da Diocese de Angra (Vigário Geral, Pe Hélder Fonseca Mendes e o Diretor da Comissão Diocesana de Bens Culturais da Igreja, Pe Duarte Melo) registou, só no primeiro mês, mais de 12 mil visitantes.
Durante a estada em Lisboa, no tempo que precedeu a abertura da exposição, a peça foi limpa no Laboratório José de Figueiredo, de acordo com regras de conservação, preservação e restauro.
Segundo o relatório do Laboratório, a Jóia apresenta sinais de deterioração que podem comprometer a “estabilidade futura” o que segundo os técnicos exige a tomada de medidas “preventivas urgentes” O documento aponta “graves problemas ao nível da fixação das pedras (gemas)” cuja “estabilidade futura pode estar comprometida” .
“Se numa primeira observação o estado de conservação do Resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres poderia ser considerado bom”, quando se procedeu à limpeza mais profunda verificou-se a existência “duma camada de poeiras, mais ou menos aderentes, sobre toda a superfície de ouro e pedras, pontualmente pingos de cera de velas, e as cravações de prata assim como o reverso encontravam-se muito oxidados”, adianta o relatório que foi entregue ao Santuário, de forma atempada, para que pudesse ser tomada uma decisão sobre o prolongamento da permanência da peça em Lisboa, para além da data acordada entre as diferentes autoridades.
Além disso, prossegue o documento, “a observação mais atenta e a desmontagem do centro do resplendor permitiu verificar que Já tinha tido algumas intervenções ao nível do suporte e dos elementos decorativos aplicados”.
“O ouro em algumas zonas apresentava fissuras que tinham sido reforçadas no interior inadequadamente, talvez com solda de chumbo/estanho, tendo sido fixadas com a mesma solda alguns elementos decorativos”, avança ainda o relatório.
“Algumas peças destacavam-se facilmente das cravações, havendo falta de pedras”, como aliás já tinha sido avançado preliminarmente por Galopim de Carvalho, no relatório que antecedeu o empréstimo da peça e que inventariava a quantidade, natureza e valor das gemas presentes nesta Jóia.
Dado o curto espaço de tempo para efetuar a intervenção de conservação numa peça com estas características, com aproximadamente 7019 gemas, “não foi possível retificar a fixação de todas as pedras pelo que pode estar em risco a sua estabilidade futura”, conclui o relatório do laboratório, que deixa um conjunto de recomendações.
“Após o término da exposição o Resplendor deveria regressar ao Laboratório para que a fixação das gemas nos engastes seja estabilizada”, conclui sublinhando a necessidade “urgente” de uma grande intervenção antes do Resplendor regressar para junto da imagem, conforme combinado.
Cabe agora ao Reitor e Conselho Administrativo do Santuário decidirem quando, onde e em que moldes a peça será recuperada, e como é que ela será preservada dentro do próprio Santuário, de modo a que o seu estado não sofra mais alterações.