Por Renato Moura
A Ilha das Flores foi atingida em cheio pelo furacão Lorenzo. O Presidente do Governo dos Açores teve o bom senso de se deslocar para as Flores a tempo de acompanhar de perto a previsível crise e de deslocar meios para ajudar. Depois vieram também militares para acções urgentes. Posteriormente meios imediatos e excepcionais para abastecimento de combustíveis e alguns outros bens. Tudo louvável.
A ilha perdeu o porto, cuja falta, não obstante as suas limitações, se fará sentir ao longo de vários anos.
Agora é justo exigir que se encontrem meios e acções para encarar os próximos meses. Logo depois que se agarrem iniciativas consistentes quanto à calendarização de decisões, que não são apenas sobre a solução definitiva para o porto; são também de inventariação e estudo de recursos e medidas que permitam contornar a emergência duradoura.
A solidariedades europeia e nacional são relevantes, sobretudo financeiramente, mas a responsabilidade do Governo dos Açores é inalienável e vai ser posta à prova e julgamento em todos os níveis. Vai poder verificar-se e avaliar-se se o outro órgão de governo próprio, a Assembleia Legislativa Regional, saberá assumir com liberdade as suas competências de acompanhamento e fiscalização.
Não é, todavia, aceitável que as autarquias locais das Flores, as câmaras e assembleias municipais, não tenham assumido já um papel activo de diálogo com os agentes económicos, instituições locais e forças vivas da comunidade. Há que inventariar e quantificar necessidades e bloqueios, buscar sugestões de solução, garantir articulação solidária, operativa e diligente. Cabe no poder dos órgãos locais tomar posição perante os órgãos regionais e fazê-lo, o mais possível, representando a vontade conhecível das populações. Certamente me dirão que este era também um papel obrigatório para os deputados da ilha. É verdade, mas… e é o costume!
Recordem Giorgio La Pira – um político italiano e activista católico – que consagrou “A política é um compromisso de humanidade”. Já o lúcido Papa Francisco lembra que “A política é antes de mais um serviço (…) trata-se de um serviço de sacrifício e de dedicação, a ponto de que por vezes os políticos podem ser considerados «mártires» de causas pelo bem comum das suas nações”. Vinca mesmo que “O poder deve estar ordenado para o serviço a fim de não degenerar”.
Evite-se que os próximos meses se tornem caóticos; mas principalmente se assuma um plano que salve, do sombrio futuro económico e social, uma ilha. Nem se pedem mártires; tão só dignidade.