Na Semana de Oração pelos Seminários, padre Hélder Miranda adianta que a formação académica e intelectual é importante mas não chega
Diante do ìnverno´ vocacional, com os seminários a verem reduzidos os candidatos e uma série de factores sociais e eclesiais a serem pouco cativantes para os jovens, o reitor do Seminário Episcopal de Angra considera que o tempo é de “reflexão nacional”.
“Sou da opinião que todo o país se deveria juntar, refletir profundamente e avançarmos para horizontes mais largos. Não nos podemos contentar com o horizonte diocesano. Por que não seminários especializados em etapas formativas? Não podem existir dioceses de primeira e de segunda. Somos tão pequenos e os problemas da vizinhança devem ser de todos. Se há dioceses sem clero, as outras terão de ir em auxílio. Por que não partilharmos competências, formadores e professores? Se quisermos, não há distâncias, apenas diferenças. O caminho ainda é longo…” afirma numa entrevista ao Sítio Igreja Açores na Semana de Oração pelos Seminários que decorre até ao próximo domingo.
“Penso que a formação sacerdotal não passa somente por títulos académicos. Isso não resolve as inúmeras lacunas. Há que assumir que a formação no Seminário é apenas inicial” refere ainda o sacerdote.
“Um padre que não se atualize, depois do seminário, fica ultrapassado em pouco tempo. A minha experiência de 10 anos como reitor ensina-me que a questão intelectual não pode ser tão sobrevalorizada em detrimento de outras dimensões, especialmente a humana e espiritual” salienta.
“As pessoas procuram homens de Deus, por isso ricos de humanidade, de sentido de serviço, generosidade e competência, mas que sejam sobretudo ricos de Deus! Não podemos ser “funcionários do sagrado” e muito menos cair na tentação do clericalismo. A sabedoria de um padre acontece com o povo de Deus, o estudo dos homens e a intimidade com o Cristo Vivo!” prossegue na entrevista que pode ser lida aqui.
Nesta entrevista, o sacerdote, que dirige o Seminário Episcopal de Angra há dez anos e vive agora um dos momentos mais dificeis – pelo segundo ano consecutivo não houve novas entradas no Seminário e sairam três seminaristas- lembra que a própria igreja vive momentos dificeis com a diminuição da prática dominical mas também fortemente afectada pela problemática dos abusos sexuais.
“Estamos num momento delicado da Igreja em Portugal e há que agarrar a formação sacerdotal com a máxima seriedade e competência. A realidade ensina-nos que essa falhou nos casos que vão surgindo. São histórias muito lamentáveis e deve-se procurar fazer justiça e reparar os danos causados às vítimas” refere o sacerdote.
“Tem sido uma vergonha para toda a comunidade cristã. Os danos colaterais são também terríveis. Atingem particularmente a pastoral vocacional. Por isso, os Seminários tornam-se instituições centrais na renovação. Temos de ser firmes nas decisões, muito atentos e perspicazes”, afirma ainda.
“A espiritualidade tem de assentar em homens psicologicamente equilibrados e sem a mínima suspeita desse tipo de patologias. Infelizmente a natureza humana está manchada pelo mal, mas esta crise ensina-nos que temos de dar o máximo, sermos mais competentes e eficazes, e que nunca poderemos baixar a vigilância”, conclui.