Por Tomaz Dentinho
Foram dias intensos que passaram devagar estes cinco que estive em Lisboa. Dias realistas que convém escrever para que possam ser pensados e realizados.
Comecei com reuniões promissoras no Instituto Superior de Economia e Gestão, para preparar o Congresso Europeu de Ciência Regional; na Assembleia da República, para acertar pormenores da sessão plenária desse Congresso – onde se desafiam os políticos a explicitar as falhas de política que resultaram de erros da ciência – e no Instituto Superior de Agronomia para renovação do programa de doutoramento que a Universidade dos Açores tem com aquela escola, com Évora e com a Universidade de Trás-os-Montes.
No dia do pai senti-me mais velho e, talvez por isso, mais próximo das rotas dos velhos da capital. Passei pelo Colégio de São Tomás, colégio irmão do Colégio de São Francisco de Angra do Heroísmo, onde me lembraram, com exemplos simples de todos os dias, que São José era bom não só por ser santo mas também por fazer milagres. Fui ainda à Procissão do Convento de Santos o Novo onde existe uma das capelas mais bonitas de Lisboa que vale a pena visitar. Avancei num texto sobre a economia de Timor escrito com colegas da Universidade de Évora que vão dar aulas lá longe e escutei palavras sábias do Padre António Vaz Pinto nos seus 50 anos de Companhia de Jesus que lembrou também São José como o santo que só fez bem coisas simples; coisas que estão ao alcance de todos fazer, como cuidar da família e ouvir a consciência (não é mau lembrar isso todos os dias).
Dia 20 estive toda a manhã no Ministério da Economia a tentar explicar as minhas estimativas dos impactos do encerramento da Base das Lajes. E, depois de muitas mensagens de correio electrónico, o entardecer foi o tempo para festejar 40 anos de entrada para o curso de economia da Universidade Católica. Começámos pela missa e homilia do Padre João Seabra que apropriadamente lembrou não ter saudades de nada porque aquele momento era certamente o mais importante. Guilherme Almeida e Brito, em representação da Faculdade de Ciências Humanas, disse que a Católica não estaria melhor que no nosso tempo mas estava certamente diferente com 50% de alunos de pós-graduação estrangeiros. Finalmente João Luís César das Neves provou que, contrariamente áquilo que todos sentimos, os tempos de crise que vivemos são os melhores tempos para o Mundo e também para Portugal, pelo menos porque podemos trabalhar para esse mundo que melhora todos os dias; digo eu. Fomos jantar já meio surdos numa sala com má acústica de um restaurante da moda de Lisboa; deu para falar para o lado sobre contabilidade, filhos, reformas, Açores e televisão; daqui a cinco anos lá estaremos um pouco menos porque alguns, como agora, já terão morrido.
Dia 21 foi para a Primavera. Estava meio morcão apesar de tantos motivos para o celebrar com alegria. Vá-se lá entender o nosso comportamento quando não nos lembramos da santidade humilde e responsável de São José. Mas foi bom esse primeiro dia em que o dia é maior do que a noite. Dia de anos em que a família próxima de tios e irmãos mais velhos se encontra com os amigos novos dos filhos; dia de encontro de muitas esperanças e perplexidades que a oração dos parabéns e do discurso transformam em sorrisos da Graça.
De Domingo lembro a comparação dos evangelhos realistas recolhidos da oralidade de São Pedro complementados pelos evangelhos reais das reflexões de São João. Precisamos de ambos.