Realidades princípios e valores

Por Renato Moura

Algumas das pessoas que têm tido a paciência de ler, com assinalável regularidade, o que escrevo no «Igreja Açores», têm-me perguntado como são escolhidos os temas. Valerá por isso a pena partilhar com os demais.

Toda a comunicação deve traduzir as realidades e com verdade; a comunicação de um meio da Igreja tem, por maioria de razão, a obrigação de o fazer. As realidades, mesmo que duras ou desagradáveis, não são para esconder, mas para enfrentar; sejam de natureza cívica, política, ou religiosa, são temas escolhidos.

A Igreja, ainda que fundada por Deus, é dirigida por homens cujo empenho não é suficiente para evitar erros, ou sequer garantir sempre as melhores soluções para levar à prática o exemplo e a pregação de Jesus. E como a Igreja não é apenas a hierarquia, mas todos nós, então cabe a cada um o dever de lançar para a reflexão e ponderação as realidades, o sentimento dos que não têm meios par fazer ouvir a sua voz, bem como opiniões responsavelmente ponderadas.

O que se escreve e aqui se publica é, todavia, uma partilha destinada à reflexão e sujeita a contraditório. Tem sempre o objectivo de defender os princípios e os valores; e a Igreja tem o especial dever de os salvaguardar, através de todos os instrumentos ao seu alcance, não apenas dentro de si mesma, como também na sociedade em geral, de molde a acautelar o respeito pela dignidade humana e a promoção do bem comum.

Quem estiver minimamente atento verifica que se está a operar uma forte atenuação, ou mesmo anulação, dos princípios e dos valores humanos: há casos em que resulta da generalização de práticas que visam os fins, mas não privilegiam a legitimidade; noutros casos trata-se mesmo de iniciativas conscientes, ainda que usadas de forma encapotada, mas decisiva, para subverter princípios e valores ancestrais.

No campo da administração e a coberto da política, grassam procedimentos irregulares e até ilegais, cuja vulgarização cria tolerância, faz parecer legítimos, alimenta clientelas; e pasme-se: é que em vez de motivarem repúdio e justa denúncia, chegam a gerar uma dolorosa inveja aos não bafejados!

Desapareceram muitos dos jornais que noticiavam e denunciavam. Há demasiados jornalistas preocupados com a agenda mediática; há poucos jornalistas com coragem para informar com a verdade toda e contribuir para a formação humana no seu todo.

A Igreja açoriana está a procurar formar para a comunicação e a fazê-lo bem; mas não é aceitável que o esforço e o investimento sejam desperdiçados com ausências injustificáveis.

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