Rancho da Salga no Nordeste
56 ranchos de romeiros percorrem a partir de sábado a ilha de São Miguel, nos Açores, nas romarias quaresmais, que este ano têm a particularidade de integrarem um rancho que há mais de 30 anos não se fazia à estrada.
“Este ano seremos 56 ranchos de todos os concelhos de São Miguel, nos Açores, com incidência maior na parte ocidental da ilha, particularmente os concelhos de Ponta Delgada e Ribeira Grande, que, só por si, concentram mais de dois terços dos ranchos de romeiros”, realçou o responsável pelo grupo coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel, João Carlos Leite, em declarações à Agência Lusa.
As romarias quaresmais terão surgido na sequência de terramotos e erupções vulcânicas ocorridas no século XVI na ilha, que arrasaram Vila Franca do Campo e causaram grande destruição na Ribeira Grande.
Este ano, 2.500 homens estarão incorporados em 56 ranchos, dois dos quais de Toronto, Canadá. A média de elementos de cada um ronda os 50 homens.
João Carlos Leite destacou que este ano há “um rancho da Salga, no concelho do Nordeste, que há mais de 30 anos não organizava uma romaria”, mas volta a sair em 2016, depois de um grupo de paroquianos ter manifestado interesse em reiniciar esta tradição.
“É um retiro espiritual, uma caminhada de conversão e quem experimenta uma romaria pela primeira vez acaba por ir nos anos seguintes”, salientou o responsável do grupo coordenador, indicando que os primeiros 12 ranchos saem no sábado e assim sucessivamente durante as seis semanas da Quaresma, até 24 de março.
Só homens podem participar nestas romarias, de duração de uma semana, que têm um percurso sempre com mar pela esquerda, passando pelo maior número possível de igrejas e ermidas da ilha, tendo sempre como prioridade os templos marianos, dedicados a Nossa Senhora.
Segundo João Carlos Leite, este é um movimento religioso que continua a integrar muitos jovens, alguns dos quais já realizaram cinco e até seis romarias seguidas, havendo ainda homens com 70 e 80 anos que “chegam a ter mais de 60 romarias”.
Com o objetivo de preservar esta tradição, o Movimento de São Miguel tem projetada para breve a instalação de uma Casa do Romeiro.
“Já temos três propostas muito interessantes de autarquias de São Miguel no sentido de disponibilizarem um espaço físico e o apoio material e humano para podermos realizar este projeto”, salientou João Carlos Leite, indicando que a decisão será tomada antes do verão.
O responsável do grupo coordenador acrescentou que já foi criada uma equipa para se dedicar à elaboração de relatos, áudios, vídeos e reunir todo o acervo sobre romarias, atualmente “muito disperso”. De resto desde o inicio de janeiro e até ao final da Quaresma, há uma exposição itinerante, que agora está na Lagoa, que tem procurado contar as histórias de vida de uma prática de peregrinação que em 2022 completa 500 anos de história.
Os principais símbolos dos romeiros- o bordão, o xaile e a saca (ou cevadeira) têm estado em exposição em todos os concelhos da ilha de São Miguel, “uma experiência que tem sido muito forte e de grande alcance” como disse, ainda, o coordenador do Movimento.
Aliás a romaria deste ano começa com uma informação mais abrangente destinada também aos turistas, através de um moopi disponibilizado no aeroporto João Paulo II, em Ponta Delgada, com informação bilingue sobre a história e o itinerário devocional destas romarias.
Todos os anos os primeiros ranchos partem no fim de semana após a Quarta-feira de Cinzas e os últimos regressam às suas localidades na Quinta-feira Santa, este ano dia 24 de março.
Os romeiros de São Miguel usam um xaile e um lenço e transportam um bordão e um terço. Ao longo do percurso, entoam cânticos e rezam.
Durante a semana em que estão na estrada dormem em casas particulares ou em salões paroquiais, devendo iniciar a caminhada antes do amanhecer e entrar nas localidades logo a seguir ao pôr-do-sol.
João Carlos Leite adiantou, ainda, que este ano serão distribuídos em hotéis, no aeroporto e em empresas de aluguer de viaturas folhetos informativos em Português e Inglês sobre as romarias, com o objetivo também de sensibilizar os automobilistas para terem precauções na condução.
Refira-se ainda que estas peregrinações quaresmais estendera-se já às ilhas Terceira e Graciosa.
CR/Lusa