O Pe Luís Gabriel Cordeiro está há cinco anos em Turlock, na Califórnia, onde é pároco in solidum com um sacerdote filipino e outro mexicano na Igreja do Sagrado Coração
O maior desafio da Igreja Católica é viver em comunhão com todos “respeitando as diferenças”, disse ao Sítio Igreja Açores o padre açoriano Luís Gabriel Cordeiro, da paróquia do Sagrado Coração, em Turlock na Califórnia, onde reside uma importante comunidade portuguesa oriunda especialmente das ilhas Terceira e São Jorge.
“Ainda pensamos muito na nossa paróquia, no nosso padre e temos pouco sentido comunitário. Essa é a grande aprendizagem que temos pela frente, isto é, aprendermos que somos um enorme rebanho e não apenas meia dúzia de ovelhas pertencentes a uma família”, afirmou o sacerdote lembrando que este é o repto lançado pelo Papa Francisco.
“O Bispo da diocese onde sirvo- stockton- costuma dizer que nós perdemos os divorciados, os homossexuais, os jovens toxicodependentes, porque queríamos só gente perfeita; agora temos igrejas vazias” refere o sacerdote que diz que os católicos, sobretudo a hierarquia, têm que olhar para trás e repensar todo o acolhimento numa perspetiva de inclusão.
“Não se trata de acolher e deixar fazer tudo como se não existissem regras. Elas têm de ser cumpridas e respeitadas mas a caridade e a misericórdia ajudam-nos a integrar estas pessoas na sua diferença e nunca a excluí-las” refere ainda o sacerdote que diariamente diz enfrentar o problema dos divorciados, “cada vez em maior número” e, sobretudo dos divorciados recasados.
“O nosso apoio deve ir no sentido de os orientar numa nova caminhada e nunca de os excluir só porque optaram por um caminho que não é exatamente aquele que defendemos”, reforça o sacerdote que diz que o “apoio moral” é muito importante sobretudo “para evitar o isolamento destas pessoas que já sofrem o suficiente por terem chegado onde chegaram”.
Há cinco anos na Califórnia, este sacerdote da diocese de Angra, é desde o verão, o novo responsável pela pastoral das vocações da diocese de Stockton, o que o impede de equacionar um regresso aos Açores nos próximos “quatro ou cinco anos”.
“Sou padre desta diocese e vou voltar mas não é para já com certeza”, refere ao Sítio Igreja Açores.
A paróquia do Sagrado Coração é gerida in solidum por três sacerdotes- um português, um mexicano e um filipino- que repartem, inclusive, a residência paroquial.
“É uma experiência muito interessante e enriquecedora porque tudo tem de ser pensado em conjunto embora cada um conserve o seu próprio espaço identitário” , nomeadamente, na organização das celebrações litúrgicas e nas festas tradicionais. Só no fim de semana são celebradas 11 missas.
“Aprendemos muito e isto é, talvez, o maior ganho desta experiência pois nos Açores somos padres de uma paróquia e tudo gira em torno desse espaço territorial e mesmo dentro dele por vezes há pouca articulação, sobretudo nos movimentos”, refere o Pe Luís Gabriel Cordeiro.
Paroquiou nas ilhas Graciosa, Flores e São Miguel, acumulando sempre com a docência da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, “o que é impensável nos EUA pois as comunidades são muito grandes e muito exigentes”.
Na igreja que serve há cinco mil famílias inscritas, maioritariamente mexicanas e norte americanas, sendo que só a catequese tem dois mil alunos.
“É outra dimensão e outra realidade. Funciona numa lógica diferente, embora nem tudo corra bem” admite o sacerdote que, no entanto, não deixa de elogiar o sentido de liderança de alguns leigos locais.
“Quando regressar aos Açores, era essa a experiência que gostava de implementar: fazer com que a paróquia fosse de facto articulada em todo o sentido”, indo muito mais além do que “eu próprio fui capaz quando cá estive”.