Oradores foram precedidos de um pequeno concerto com interpretação de 3 peças musicais com voz e órgão
Na quinta conferência integrada no ciclo de comemorações dos 500 anos da Fundação do Convento de São Francisco, o tema foi a “Música, Identidade e Igreja”, num olhar sobre a importância da música na afirmação da identidade açoriana.
Foram oradores, Manuel Pedro Ferreira e Isabel Albergaria Sousa, ambos investigadores do CESEM – Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical, da Universidade Nova de Lisboa, com moderação da Professora Maria Leonor Pavão.
“Olhando para o programa percebemos o objetivo que tem de oferecer uma forma privilegiada de evangelização para os crentes, mas por outro lado, para todas as pessoas interessadas nestes assuntos, valorizando São Francisco de Assis, um jovem mundano inquieto e depois dedicando uma vida de pobreza tratando todas as criaturas como irmãos” começou por dizer a moderadora do debate, precedido de um prelúdio musical com o coro masculino do Coral de São José e da organista titular do órgão da Igreja de São José.
Foram interpretadas três peças: uma peça para órgão, composta por Carlos Seixas, do século XVII, seguida de três versos do Magnificat, em cantochão, alternados com três versos para órgão, de Frei José Marques dos Santos, na transição do século XVIII para o século XIX; por fim, um salmo, para coro e órgão, de Manuel Luís, um compositor do século XX, com arranjo do organista João Santos.
“A música aproxima-nos uns dos outros. Deixa-nos partilhar a alegria, a tristeza, o desconforto do mundo ou a redenção. A música aproxima-nos de Deus e ensina-nos que os silêncios de Deus não são ausência de Deus, pois tal como na música, os silêncios fazem parte da composição que escutamos” referiu Pedro Gomes, coordenador da pastoral da Cultura na paróquia de São José que fez uma nota introdutória à sessão.
Nas duas conferências foi explorado o papel dos Franciscanos no ensinamento da música e, sobretudo, a forma como marcaram a expressão musical no país e na região ao seu tempo.
“Embora seja uma ordem com um carisma muito informal, desde sempre, São Francisco, conhecendo hábitos de itinerância e a capacidade de atuação publica dos jograis decidiu com os seus irmãos franciscanos a serem jograis de Deus, com um ensinamento : promover a alegria do povo” começou por referir o primeiro orador da noite.
“Os primeiros franciscanos, mendicantes, aos domingos e dias de festa captavam a atenção do povo para Deus através da celebração da palavra mas também através da música, utilizando a Lauda que é uma espécie muito típica da idade média. E, o oficio divino era recitado”, referiu o docente e investigador.
“Os franciscanos copiaram uma versão romana tardia melódica do canto gregoriano e nos finais do século XIII, os livros dos frades franciscanos foram adoptados pela Cúria romana” disse.
“A coincidência entre a liturgia romana e franciscana não foi imediata mas foi-se dando progressivamente. Os franciscanos desenvolveram uma ideia cisterciense, que depois foi seguida pelos dominicanos e pelos franciscanos que tinham de assegurar a uniformidade da escrita e da musica igual em todos os conventos” assegurou o investigador.
Já Isabel Albergaria Sousa falou sobretudo do órgão histórico da Paróquia de São José, de Joaquim António Peres Fontanes”, ressalvando a importância dada à musica na região desde o tempo do comércio da laranja , que permitiu desenvolver um gosto por quem lá toca, até ao final do século XIX recordando o empenho reiterado de todos na valorização do património Histórico ou artístico.