Presidente da Cáritas Diocesana dos Açores fala num aumento do número de pobres e excluídos no arquipélago, que tem de merecer um outro olhar dos cristãos

Há novos pobres nos Açores e novas realidades que merecem respostas diferentes e radicais por parte da Cáritas e dos cristão em geral nos Açores, afirmou esta tarde a presidente da Cáritas Diocesana, Anabela Borba na abertura do Conselho Geral da Cáritas Portuguesa que arrancou esta sexta-feira em Angra e que conta com a presença de 17 dioceses.
“Queremos estar mais próximos das pessoas mas a nossa missão tem de ir para além da esmola. Temos de ser profissionais e amigos capacitando as pessoas, fomentando o `empowerment´ porque acreditamos sempre no homem novo e é nele que temos de apostar” referiu a dirigente da Cáritas diocesana.
“Cremos e queremos que as pessoas pobres possam ter o suporte financeiro mínimo e possam ter também as ferramentas para se autonomizarem” enfatizou pedindo a todos que “não esqueçam os pobres” na linha do que tem sido defendido pelo Papa Francisco.
“A caridade torna-se concreta não só pela dádiva, temos de ser instrumentos de mudança escutando e agindo” referiu ainda a dirigente da Cáritas dos Açores.
Atualmente, o organismo católico está presente em oito das nove ilhas dos Açores e tem uma ação diferenciada em cada realidade, procurando adaptar as respostas às necessidades locais, com particular destaque para a Cáritas da ilha Terceira e para a Cáritas de São Miguel, a primeira com vários projetos e parcerias de reconstrução da vida de jovens em risco, de reclusos e de famílias através do trabalho e a segunda, numa vertente mais assistencialista e também atenta aos problema dos sem abrigo.
“Nos Açores tem aumentado o número de pessoas sem capacidade de sair da rua e nós temos de encontrar respostas para elas”, seja ao nível das suas capacidades, seja ao nível do acesso a consultas de saúde mental, dado o elevado número de jovens dependentes de substâncias sintéticas ou ainda de habitação.
“Este é um trabalho do governo, das autarquias e das instituições mas é também o papel dos cristãos em geral”, afirmou Anabela Borba que pediu ainda um “olhar diferente e atento” sobre os jovens que não trabalham nem estudam.
“São precisas ações concretas que ajudem estas pessoas a desenvolver capacidades; o grande objetivo é capacitar para a empregabilidade o que também só podemos fazer com a ajuda de empregadores socialmente conscientes”.
É a segunda vez que a Cáritas dos Açores acolhem a realização de um Conselho Geral da Cáritas Portuguesa o que torna este encontro “especial” diante de um quadro de “novos desafios” que exigem “novas respostas”.
“A Cáritas é uma rede rica e realista que está atenta a novas preocupações, a novos problemas e a novas soluções”, afirmou Rita Valadas.
“Os tempos são muito desafiantes. Ajudem-nos a fazer sínteses e a encontrar soluções” disse a presidente do organismo católico.
“A nossa pluralidade é que pode fazer a diferença no território”, avançou ainda pedindo que se encontrassem “novos dons” que possam facilitar a ação da Cáritas.
Na sessão de abertura, a Secretária Regional da Saúde e Segurança Social elogiou a atuação da Cáritas, um “parceiro de excelência”, e anunciou a criação do primeiro Plano regional de Apoio às Pessoas sem Abrigo, que vai agora para consulta pública.
“Pretendemos tirar da rua quem mais precisa” e criar “uma espécie de via verde de acesso à saúde mental” sobretudo junto de jovens que estão numa situação de dependência.
“Precisamos de medidas distintivas que invertam os ciclos de pobreza nos Açores” afirmou Mónica Seidi colocando o enfoque também nas famílias.
“É importante capacitar as famílias com recursos para que possam decidir bem. Eventos formativos como iliteracia financeira, gestão de conflitos são projetos que já estão no terreno” salientou a responsável que elencou uma série de outras iniciativas consideradas como facilitadoras de coesão social.
Já Fátima Amorim, vereadora da Câmara Municipal de Angra, parceira da Cáritas da ilha Terceira, no projecto 3 D de combate ao insucesso escolar, salientou a “capacidade de ajustamento” do organismo às necessidades de cada momento, desde uma resposta mais assistencialista, as respostas de emergência durante as sucessivas crises sísmicas no arquipélago ou os acordos de cooperação com entidades terceiras.
“Através da Cáritas temos assistido a uma irreverência e dinâmica que tem despoletado respostas sociais junto de vários grupos. É uma instituição na qual as populações confiam e à qual recorrem”, disse Fátima Amorim.
O conselho geral da Cáritas Portuguesa realiza-se hoje e sábado, em Angra do Heroísmo, Ilha Terceira.
Este é um encontro estatutário, no qual estão presentes responsáveis de 17 cáritas diocesanas do país e da agenda de trabalhos fazem parte temas relacionados com a atividade da rede Cáritas em Portugal.
No âmbito deste encontro, realiza-se esta sexta-feira no Auditório do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, a conferência “Desafios da Ação Social de Proximidade”, pela secretária-geral da Cáritas de Espanha Natalia Peiro.
A Eucaristia de encerramento será celebrada na Sé de Angra, no dia 29, às 18h00 e será presidida pelo bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues.
O conselho geral da Cáritas é um órgão onde está representada a direção da Cáritas e todos os secretariados diocesanos da rede Cáritas onde se aprovam os documentos da vida interna da instituição como relatórios de atividades, relatórios contas, entre outros.