Por Renato Moura
Tem-se a tentação de perspectivar o futuro e de o preencher principalmente com receios mais ou menos negativos. Também com bons desejos, mas nem sempre com esperança. São frutos da experiência.
Em 2020, só por exemplo, receamos que ainda não se consiga lidar com as migrações, que não se avance no combate às alterações climáticas. Que continuemos obrigados ao confronto com líderes loucos, que as novas e sérias ameaças à instabilidade mundial possam acabar com o que resta de paz. Com um Parlamento e uma Comissão Europeia ainda sem cauções, ou com um suposto Brexit cujas consequências se não sabe avaliar.
A nível nacional, sem garantias sobre a estabilidade governativa, nem tão pouco sobre o juízo e responsabilidade das oposições; ou temos motivo para recear até onde nos levará uma “feira” de “compra e venda” de votos parlamentares, com o dinheiro e os direitos que não são dos negociantes! Cada vez mais importunados ficaremos com a degradação da prestação dos serviços públicos, a par de novas injecções no Novo Banco, que pelas repetições já parece “velho”.
A nível açoriano, esperança na nova Administração da SATA, não obstante o receio de não se ver identificado se é aos passageiros residentes que «vai doer». Um Governo finalmente com a lucidez de, na prática, reconhecer a incapacidade de gerir ou manter algumas estruturas públicas.
Num ano de eleições, um PS com quase 24 anos de poder (20 absoluto) assimilou vícios e instalação, como outrora o PSD, geradores de erros e omissões que são premonitórios da queda. Há muito resguardado nos ardis, receou Alexandre Gaudêncio e agora tem mais razões para temer José Manuel Bolieiro. Quem sente que vence só como menos mau, já tende para linguagem e atitudes desbragadas.
Mas com que oposição contar: com um PSD desacreditado e uma tarefa complexa pela frente; com um CDS destruído e descredibilizado pela arrogância e vaidade pessoal dum líder com legitimidade perdida? Uma boa oposição afirmar-se-á quando estimular e tiver ideias alternativas geradoras de progresso.
Culpa de muitos: entramos em 2020 com o elevado grau de pobreza dos açorianos, na Região mais desigual. Perda de população na esmagadora maioria das ilhas, sem se vislumbrar medidas para inverter ou sequer suster o desastre; pois, se nem sequer se resolvem os problemas corriqueiros!
A riqueza de um povo está nos seus receios e apreensões, nos seus desejos e esperanças, no grau da sua exigência. A riqueza dos políticos está em fazer tudo o que devem… para não serem a mais obrigados.