Por Renato Moura
Na semana passada aqui partilhava a preocupação sobre se os políticos estariam a dar mais importância às vantagens dos partidos e menos aos interesses dos portugueses.
Os recentes expedientes nos partidos da direita dão agora um sinal horrível: há líderes que, em defesa da sua posição pessoal, não temem o prejuízo dos seus partidos. Marcam-se eleições e congressos, e depois, com medo de perder a presidência, tudo se faz para os adiar. Tentam submergir a organização estatutária para garantir serem os mesmos a elaborar os programas e fazer as escolhas de candidatos às eleições nacionais. Não renovam a sua legitimação interna, mas logram tentar o reconhecimento do voto popular nas urnas! Sublevam o poder pessoal em detrimento da construção de projectos credíveis. Suspender a democracia dentro dos partidos e sucumbir a truques de baixa política já empurrou para a saída militantes; e os que ainda ficamos escondemos a cara de vergonha.
O PS deixou o seu caminho tradicional por uma aliança com a extrema-esquerda, a ponto de reconhecer ter-lhes oferecido, para 2022, a proposta de orçamento mais à esquerda de sempre: ficou só e acusado!
Altos dirigentes do PSD e do CDS palmilham autoritariamente caminhos ínvios, desqualificando partidos fundadores da democracia e com tradição democrática e plural: como diz o ditado “quem faz a cama nela se deita”!
Houve quem denominasse os adágios como “linguagem dos Deuses”. O Adagiário Popular Açoriano refere um adágio, recolhido no Corvo, rezando assim: “Quem deixa caminho por atalho, encontra o demónio por espantalho”.
Quase em simultâneo, também nos Açores, se chegou a anunciar a iminência de uma crise política. Nuno Barata, pela IL, ameaçou não aceitar o crescimento da dívida pública regional, nos termos e pelas razões que explicou. O Presidente do Governo declarou não ter (pre)ocupações para não prejudicar as ocupações. Foi mais uma bonita construção verbal, mas à cautela foi anunciada a redução, do valor proposto à Assembleia Legislativa, de aumento da dívida. Falta saber se isso é o suficiente para acomodar a IL, pois denunciara justíssimas apreensões sobre o segredo do futuro da SATA e prometera intransigência no cumprimento do acordo.
Recorde-se, de Henry Kissinger, Prémio Nobel da Paz em 1973: “Os líderes não são responsáveis por fazerem sondagens à opinião pública, mas sim pelas consequências das suas acções”.
Ao contrário do que alguns afirmam, lá como cá as consequências de incumprimento dos contratos não caem apenas sobre os pequenos.