Quem decide toma compromisso

 

Igreja Açores

Por Renato Moura

Há sempre quem tem o dever e o poder de decidir: em nome da família, da empresa, da associação, da autarquia, do governo. Devem estudar os objectivos a atingir, no imediato e no futuro, os prós e contras da possibilidade de execução, os meios financeiros alocados para o presente e os efeitos daí consequentes no futuro, as probabilidades de sucesso e os riscos de fracasso.

Quem tem o poder e o dever nem sempre tem plena capacidade própria; assim sendo não pode dispensar conselhos e opiniões, estudos e avaliações, imprescindíveis tratando-se de investimentos públicos. Por vezes há achas que não servem para mobília. Pretendendo-se um investimento duradoiro, seja casa, negócio, fábrica, ou obra pública, há que lhes conferir solidez e por vezes é indispensável gastar muito dinheiro. Gastar muito duma vez, para não ter de gastar a vida toda. Como diz o povo: o barato sai caro.

Cada caso é um caso e nenhum empreendimento, privado ou público, deveria ser concebido com vistas curtas; muito menos se para não ensombrar os congéneres mais próximos: decisões destas não cabem na tolerância do “errar é humano”.

Bem basta quando, embora dando ares de projectar para a perenidade, alegadamente para satisfazer objectivos e funções integrais, os resultados não resistem às provas. A tentação imediata, por vezes verdadeira ou aparentemente inevitável, é meter um tecto de madeira para remediar o desaparecimento do telhado, pôr um gerador num barraco para aumentar a potência eléctrica na fábrica, engendrar uns suportes em madeira e ferro para remendar a falta dos pilares que suportavam o tabuleiro da ponte, ou meter umas pedras à beira da estrada para suportar as derrocadas frequentes. São exemplos de soluções provisórias, que servem para disfarçar a operacionalidade, entreter quem se queixa face ao presente vivido e forçar o esquecimento duma capaz solução futura.

Se um chafariz é levado por uma enxurrada, a calamidade maior é a incapacidade de perceber os erros da localização e ou da construção. Não percebendo continua-se a errar sobre o erro e a abrir hábitos de errar sem fim! Nenhum decisor se pode sentir confortável, face aos erros, mesmo que sucessivos e com diferentes origens, apenas com o apoio de quem não tem arte ou coragem para discordar ou propor novos caminhos, seja qual for o empreendimento.

Mesmo se discutirem ou gritarem, a responsabilidade começa sempre em quem tomou os compromissos iniciais; mas continua em quantos se lhes seguiram impávidos, sobretudo se meterem remendo novo em pano ruim.

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