“Que o olhar desta imagem do Senhor da Pedra possa semear a esperança e faça da nossa vida um hino de amor e de entrega aos irmãos”- D. Manuel Mendes dos Santos

Foto: Bispo emérito de São Tomé e Príncipe

Bispo emérito de São Tomé e Príncipe presidiu às celebrações da festa do Senhor Bom Jesus da Pedra, em Vila Franca, e desafiou os fiéis a não se deixarem seduzir por falsas imagens “de riqueza e felicidade”

O verdadeiro caminho de riqueza, de felicidade e de esperança é o que se fundamenta no amor expresso na entrega e no serviço ao irmão, disse esta manhã o bispo emérito de São Tomé e Príncipe, D. Manuel Mendes dos Santos, que presidiu à concelebração solene da Festa do Senhor Bom Jesus da Pedra, que tem hoje o seu dia maior em Vila Franca do Campo.

Para a primeira capital da ilha convergem milhares de pessoas para participar na festa organizada pela Misericórdia de Vila Franca, naquela que é a principal festa de verão da ilha de São Miguel e que se realiza ininterruptamente há 205 anos no formato atual, com procissão de mudança da imagem na noite de sábado e missa e procissão solene no domingo.

“Que ao olhar esta imagem do Senhor da Pedra, ela possa semear em nós a esperança e faça da nossa vida um hino de amor, de entrega aos irmãos” afirmou o prelado.

“O trono em que está é uma pedra, está coroado por uma coroa de espinhos, está de mãos atadas, flagelado e humilhado. Este é o nosso rei. Pode não ser fácil seguir um rei condenado que assume a cruz como trono e glória mas é assim, dando a vida por nós, que Ele assume a sua realeza, porque não há amor maior do que aquele que dá a vida por nós”, disse D. Manuel Mendes dos Santos.

Na homilia que proferiu, e que não diferiu muito da reflexão proposta na celebração da Palavra, que se seguiu à procissão da mudança da imagem da Igreja da Misericórdia para a Matriz de São Miguel Arcanjo onde ficou em vigília durante a noite de sábado, o prelado apresentou Jesus como “o rei da paz e do serviço” que fez dos “pobres e humilhados” os seus discípulos, que se “fez servo dos seus a quem lavou os pés” e se “colocou ao serviço”.

“Este é o verdadeiro caminho da felicidade: caminho do serviço, da entrega e da atenção ao outro, ao irmão”, enfatizou.

“Cristo quer ser o nosso rei mas pelos caminhos da paz porque em Cristo não é nem a força nem a violência que vencem mas o amor, e a cruz é uma lição de amor”, porventura “a maior de todas”.

“Nem que caiam 10 mil à esquerda e 20 mil à direita, nós permanecemos firmes porque Deus nos ama”, concluiu lembrando o exemplo de São Maximiliano Maria Kolbe, sacerdote polaco que morreu condenado à fome em Auschwitz, mas nunca desistiu da sua fé nem nunca deixou de confiar no amor de Deus.

“Temos sempre razões para cantarmos apesar da violência, do egocentrismo ou de uma ideia de felicidade que consiste em ter dinheiro e fama; mesmo assim cantemos, porque Deus está connosco, porque Cristo continua neste mundo a ter gente que o anuncia e a dar a sua vida por ele e todos nós estamos chamados a fazer isso”, disse.

Na noite de sábado, o prelado na sua primeira alocução aos vilafranqueses, já tinha desafiado as famílias- “os pais” a não desistirem de transmitir a fé e os valores cristãos aos filhos.

“Se não ensinamos os nosso filhos a rezar, a ir à catequese, se não os trazemos à missa como queremos que eles sigam a nossa fé? Somos chamados a guardar os ensinamentos de Deus mas também a  transmiti-los. Só assim cumpriremos a vontade de Deus”, disse então, contrapondo a uma “certa ideia de que as questões da fé devem ser vividas de forma individual”.

“Não nos demitamos de transmitir a nossa fé”, apelou.

O bispo emérito de São Tomé e Príncipe desafiou, ainda os presentes, a fazerem periodicamente um exame de consciência sobre a sua relação com Deus e nela a sua relação com o irmão.

“Ninguém pode dizer que ama a Deus se não serve o irmão”, concluiu.

A festa do Senhor Bom Jesus da Pedra decorre anualmente no último domingo do mês de agosto e congrega milhares de pessoas para Vila Franca do Campo.

A organização está a cargo da Santa Casa da Misericórdia, uma das mais antigas dos Açores.

 

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