Por Renato Moura
A pandemia fechou, por demasiado tempo, as igrejas e as casas do Espírito Santo. Quando não matou, pelo menos amorteceu a fé de alguns. Reduziu drasticamente as manifestações de culto. Receia-se que possa ter diminuído a intensidade e abrangência da devoção ao Espírito Santo. Oxalá não tenha afectado a perseverança ancestral do povo açoriano numa manifestação de religiosidade profunda, sempre aliada à fraterna partilha e à festividade alegre.
“Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por Si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir” (Jo 16,13). Interpretando esta passagem do Evangelho os especialistas consideram que o Espírito Santo veio para dar continuidade à obra de Jesus, para aprofundar a Sua missão. E está junto de nós para advogado, assistente, protector, consolador.
Vivemos num Estado que a Constituição define como laico.
Mas sempre vimos altas figuras da política partidária em visitas ao poder eclesiástico, inclusive confessos agnósticos ou ateus. Vêem-se figuras da hierarquia do poder civil, desde a chefia do Estado, passando pelo poder nacional, regional e chegando ao autárquico, integrados em procissões e outras celebrações religiosas. Ocupam as posições mais visíveis nas procissões, ou sentam-se nos lugares mais relevantes dos Jantares em honra do Divino Espírito Santo. Só eles e Deus sabem das suas convicções e por isso não temos o direito de os julgar.
Reprovável quando o poder civil aproveita a ocasião de uma audiência para opinar sobre a vida da Igreja, como recentemente aconteceu sobre a escolha de bispo; se bem que as oportunidades, quase sempre surpreendentes, são por vezes abertas por relevantes figuras da Igreja. O facto de numa comemoração regional se presentear os convidados com uma ementa semelhante a Sopas do Espírito Santo, é suficiente para justificar a presença de Coroas do Divino? Qual a intenção ou o sentido? E o respeito?! E então qual a razão de retirar a Cruz das escolas?!
Andam políticos a tentar, sem pudor, libertar-se dos fundamentos indeléveis do cristianismo na construção/afirmação da Europa.
Deseja-se um poder político livre de imposições religiosas; tal como desejo uma igreja livre, corajosa defensora dos valores e dos princípios.
Se os detentores dos poderes civis e políticos quiserem sinceramente receber, no seu coração, a iluminação do Espírito Santo, seguramente serão guiados e animados a agir com verdade e mais justiça no desempenho da missão.