Por Renato Moura
Nas comunidades açorianas sempre se ansiou pelas Festas do Divino Espírito Santo. Houve e há uma fé inabalável na Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, com adesão e contornos populares para salvaguardar. À religiosidade alia-se a festividade exterior, atraindo grandes e pequenos, unindo ricos e pobres, num ambiente de igualdade e fraternidade raras noutros eventos. Os festejos em honra do Espírito Santo ainda são manifestações de alegria e eram, para muitos, a única oportunidade anual de comer carne de vaca e saborear a massa sovada.
Este ano as festas foram também engolidas pela onda avassaladora de cancelamentos, precoces e absolutos, que assola Portugal. Nem o Divino exceptuado!
Cremos, pois o próprio Jesus nos prometeu: “o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em Meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse” (Jo 14,26) e veio para dar continuidade à obra de Jesus: “Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por Si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir” (Jo 16,13).
O Espírito Santo está entre nós para acompanhar, proteger, defender, iluminar, assistir, consolar.
Todavia, sem festas, o povo sente-se desolado, embora sabendo o Paráclito sempre presente e disponível, mesmo na ausência das coroas, das bandeiras, dos cortejos, dos jantares de partilha do pão, da carne e do vinho. Os humanos são espírito e corpo: a presença dos símbolos estimula o espírito e a realização das festividades arrebata.
Esta é uma época repleta de controvérsia. Governantes, investigadores, jornalistas e pessoas em geral só ganhariam em aproveitar a iluminação do Espírito Santo. Evitar a arrogância do saber, ter a humildade de reconhecer que Ele nos ensinará. Abrandar a intransigência das convicções e decisões, e deixar que Ele a todos conduza à verdade. Aliando a palavra do Evangelho à solidificação da fé construída por testemunhos históricos, registados e comprovados pela tradição popular, não será difícil: bastará pôr em prática aquilo em que dizemos acreditar.
Tomemos a fé do Papa Francisco no concernente à Igreja e à missão de cada um: “Somente o Espírito Santo pode suscitar a diversidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, produzir a unidade. É Ele quem harmoniza a Igreja”. E noutra oportunidade, esta certeza: “É o Espírito Santo que acende e guarda a fé nos corações. O reconhecimento deste dado muda tudo. É o Espírito que inflama e anima a missão (…)”.