Que não se erre censurando a “vergonha”

Por Renato Moura

Ferro Rodrigues, Presidente da Assembleia da República, advertiu André Ventura, Deputado do Chega, por utilizar com demasiada facilidade as palavras “vergonha” e “vergonhoso”, condenando-o, pois, assim “ofende muitas vezes este Parlamento”!

Significando a palavra “vergonha” também uma reprovação por uma coisa mal feita ou mal acabada, ou seja a condenação de actos que o deputado considerou errados, não se percebe como, num regime de democracia e liberdade, um experimentado Presidente da Assembleia se atreveu a outro tanto. A violação de valores, ou de comportamentos esperados, é frequentemente considerada uma vergonha.

Até pode o deputado do Chega nunca ter razão nas suas afirmações, mas então cabe aos seus pares demonstrar o contrário. O disparate de Ferro Rodrigues permite a André Ventura armar-se em vítima e dar ao Chega a importância que não tem! O Presidente da Assembleia tem muito campo para tentar recuperar a imagem do Parlamento, valorizar a democracia, prestigiar a liberdade, sanear as disputas partidárias. Ao invés, a atitude invulgar que tomou, envergonha a tradicional prática democrática.

Sempre existem demasiadas tomadas de posição que podem ser classificadas como uma vergonha. Ainda recentemente o Ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, disse e reiterou que “é uma vergonha que um camião esteja seis ou sete horas à espera de fazer uma descarga”.

O Presidente da República, até considerou que “é uma vergonha nacional sermos, em 2017, e agora já em 2018, das sociedades mais desiguais e com tão elevado risco de pobreza na Europa”. E apesar disso Marcelo Rebelo de Sousa continua a merecer a grande consideração dos socialistas e em especial de Ferro Rodrigues.

E por falar em Presidente da República, este resolveu não ir cumprimentar Greta Thunberg, na passagem desta por Portugal; esteve no seu direito e talvez uma boa decisão. Mas foi, pelo menos, uma vergonha a forma como justificou. Vir dizer que não foi porque poderia “ser considerado aproveitamento político” é ofensivo para os portugueses atentos e que ainda usam a cabeça para pensar e avaliar as atitudes anteriores de Marcelo. Aproveitar a ocasião para dar a imagem que sempre cuida de evitar o aproveitamento político a seu favor, é demais! Marcelo sabe que há muito granjeou a simpatia da maioria dos portugueses; escusa de horripilar os demais.

Nem que se riscasse a palavra “vergonha” os erros desapareceriam… e a sua justa condenação.

Que Jesus Menino nos inspire – a todos – discernimento, ponderação, responsabilidade.

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