É a primeira vez que esta série de diálogos entre a Igreja e a sociedade integra nos palestrantes e nos participantes um grupo com necessidades especiais

Helena Garcia foi uma das oradoras do 4º Diálogo no Tempo sobre a Esperança na Família e através do seu testemunho lembrou o papel da comunicação dentro do ambiente familiar. Por ser surda sempre teve dificuldades de relacionamento mas a ansiedade aumentou quando aos 26 anos soube que estava grávida e receou que o filho pudesse ter o mesmo problema. Uma angustia que se adensou quando percebeu que o filho era ouvinte e a questão, então colocada, era como iria comunicar com ele.
“Se não comunicarmos, e podemos fazê-lo de várias maneiras, dificilmente podemos ser felizes e ter esperança. A comunicação é a base do relacionamento, da proximidade, da compreensão e do perdão e por isso é a base da família” disse Helena Garcia, mãe de um jovem adulto, estudante de medicina, que coloca nesta família a “fonte” de esperança.
A família é o “porto de abrigo” referiu.
Helena Garcia foi uma das oradoras da tertúlia “A Esperança na Família” que contou com a moderação do casal Susana e José Rodrigues, responsáveis diocesanos das Equipas de Nossa Senhora, movimento que conta com dois sectores na diocese: Açores Centro e Açores Oriental.
“A família é o lugar onde somos acolhidos” afirmou, por seu lado, Maria do Rosário Sousa Pires, membro do segundo casal participante nesta tertúlia. Com quatro filhos, “nem tudo é fácil”, mas o “tempo e a dedicação à família”, sobretudo “as horas de qualidade” que se dá aos filhos, “torna a família no lugar fundamental” onde tudo “é feito por amor”.
“Nem sempre tudo corre bem, mas é na complementaridade que se constrói a partir da diferença que está o desafio”, referiu ainda Maria do Rosário Sousa Pires.
E quando nem tudo corre bem?
“Não há famílias perfeitas mas a adversidade é mais fácil de resolver quando há família” referiu por seu lado João Ribeira, neuropsicólogo.
“Nenhuma família é perfeita por mais perfeita que pareça; se tudo corre bem as imperfeições vão se limando, mas também é na família que se vive a fragilidade e essa é a parte mais importante” referiu o especialista que lembra a importância da família como “o lugar onde não há máscaras nem filtros”.
“Hoje há muitos desafios que são enfrentados pelas famílias e a família precisa de estar sempre em estado de atenção, alerta e conversão para responder à mudança e ajudar os seus membros a adaptarem-se a essas mudanças”, referiu ainda.
“A fé, o amor, o perdão são fundamentais para termos um equilíbrio emocional e isso são valores que são cultivados na família” salientou, sublinhando que a família deve ser “fonte de saúde e de bem estar”. Por outro lado, salientou que a Igreja como comunidade de famílias deve estar disponível para ser essa família “acolhedora e facilitadora de bem estar” a todos, independentemente das suas circunstâncias.
“Nós temos um modelo pelo qual vale a pena lutar, mas há outras famílias que precisam ser acolhidas. Oxalá o possamos fazer”, disse ainda.














A Diocese está a fazer um caminho comunitário, numa esperança concreta e realista que nos leve a vivê-la na crise que atravessamos e, nesta noite, em particular, procurou-se “abraçar a esperança como projeto atual de vida”.
“A Igreja desde 2013 que está em sinodalidade que se iniciou justamente com a família. Esta noite também estamos a viver a sinodalidade a partir desta esperança na família: continuará a haver família ou famílias no futuro? Estamos a viver uma crise na família ou a família da crise no mundo de hoje? Qual é a sua esperança no dia a dia”, interpelou no ínicio o diretor do Instituto Católico de Cultura.
“No meio das interrogações e perante um mapa diversificado da família como podermos introduzir o evangelho; todos nós temos à nossa volta um individualismo que está a secar o amor e pode secar as famílias” alertou ainda Monsenhor José Constância.
A tertúlia sobre a família foi precedida de um apontamento musical pelo Coral de São José.
O próximo Diálogo no Tempo terá lugar no Museu do Franciscanismo, na Ribeira Grande e terá como orador o bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues que abordará “A Esperança no ressuscitado”, no dia 6 de maio, pelas 20h30. No final da sessão haverá um apontamento musical pelo Coro da Ouvidoria da Ribeira Grande.
‘Diálogos no Tempo’ – ciclo de conferências, tertúlias ou debates – da Diocese de Angra, organizado pelo seu Instituto Católico de Cultura, em parceria com as ouvidorias (conjunto de paróquias), serviços e movimentos da Igreja, começou a 17 de janeiro.
Estes momentos, abertos a crentes e não crentes, destinam-se a conhecer, aprofundar e discernir sobre as razões da Esperança cristã, a partir dos sinais dos tempos que nos revelam uma humanidade ferida e faminta de amor, que procura um sentido para a vida.
Os encontros devem propor o encontro com Cristo, através do diálogo, do debate e do aprofundamento teológico.