Papa Francisco e Cardeal Escocês “sintonizados” na compaixão pelos casais que sofrem e pelas famílias em crise
O Papa Francisco apelou hoje às orações dos católicos pelos trabalhos do Sínodo dos Bispos sobre a família, a decorrer no Vaticano, e recordou as pessoas que vivem situações de maior dificuldade.
“É um momento importante da vida da Igreja, para o apoio às nossas famílias que muitas vezes são feridas e provadas de muitas formas. Que Deus vos abençoe e abençoe as vossas famílias”, declarou, durante a audiência pública semanal que reuniu milhares de pessoas na Praça de São Pedro.
A habitual catequese foi dedicada ao tema do ecumenismo e da necessidade de comunhão entre as várias Igrejas cristãs, tema que levou o Papa a fazer uma revelação pessoal.
“Hoje, faz 70 anos que fiz a Primeira Comunhão. Fazer a Primeira Comunhão, todos nós devemos saber que significa entrar em comunhão com os outros, em comunhão com os irmãos da nossa Igreja e também em comunhão com todos os que pertencem a comunidades diferentes, mas que acreditam em Jesus”, disse, de improviso.
“Agradeçamos ao Senhor pelo nosso Batismo, agradeçamos ao Senhor pela nossa Comunhão, para que esta comunhão acabe por ser de todos, juntos”, acrescentou.
Na reunião da Assembleia Extraordinária do Sínodo, o destaque hoje vai para a intervenção do Cardeal escocês, que deixou uma reflexão sobre divórcio e perdão.
D. Philip Tartaglia disse hoje no Sínodo dos Bispos que a Igreja Católica tem de acompanhar com “compaixão” quem passa por situações de separação e dor na sua vida conjugal.
“Temos de sentir compaixão pela dor e laceração dos corações humanos apanhados na separação, traição e divórcio”, declarou, durante a homilia do momento de oração que deu início à quinta sessão de trabalhos da assembleia extraordinária.
Segundo o responsável, quando as famílias se fraturam, “o amor é a primeira vítima” e a comunhão íntima de vida é substituída por um terrível lógica de divisão: a paz dos corações das crianças é rasgada e eles dão por si a amar e odiar os seus pais, ao mesmo tempo”.
“Em tempos de angústia e infelicidade, as pessoas ainda se voltam instintivamente para a Igreja em busca de esperança, de consolo e inspiração. Não as podemos desiludir”, assinalou.
D. Philip Tartaglia sustentou que a Igreja tem de acompanhar esta “tristeza” e encontrar forma de oferecer palavras de amor, que procurem “perdoar e esquecer, com compaixão”, para “curar, renovar e levantar de novo” as pessoas.
“Onde o perdão não é a acomodar-se ou indiferença, mas uma verdadeira reconciliação – às vezes duramente conquistada, gerando nova confiança, uma nova esperança, nova resistência e nova fidelidade -, uma nova página é escrita na história de amor entre marido e mulher e seus filhos”, prosseguiu.
Entretanto, o tema da intervenção do presidente da Conferência Episcopal Portuguesa para o Sínodo dos Bispos sobre a família esteve hoje em destaque como exemplo de solução que conciliou a defesa da doutrina e novos caminhos pastorais.
D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, levou para o Vaticano uma reflexão que recordava a declaração sobre a liberdade religiosa do Concílio Vaticano II (1962-1965) como exemplo de solução de problemas doutrinais, neste caso sobre a relação entre Verdade e liberdade.
“O Concílio Vaticano II resolveu a questão afirmando que os direitos e as liberdades se conjugam na pessoa, com uma subjetividade que a pouco e pouco vai assumindo a verdade que lhe é apresentada, num percurso que às vezes inclui erros, mas que tem de ser respeitado”, disse à Agência ECCLESIA, antes da partida para Roma.
A intervenção do representante português foi abordada ao início da tarde durante o encontro com os jornalistas sobre os trabalhos da assembleia sinodal, com a presença de D. Victor Manuel Fernández, arcebispo de Tiburnia, Argentina, o qual recordou que esta solução pareceria “impossível” para alguns, há 50 anos.
“O Concílio Vaticano II, pelo contrário, encontrou um novo caminho”, observou o prelado argentino, e isso pode ser um exemplo para que o Sínodo sobre a família, nas suas assembleias deste ano e de 2015, possa “encontrar uma nova síntese para falar sobre estes problemas” dos divorciados recasados e outras situações.
D. Victor Manuel Fernández falou num “realismo compreensivo” que deve acompanhar o sofrimento dos outros, estando “próximo de todos” como Jesus, mesmo a respeito de situações que a Igreja “não pode aceitar nunca” nem quer “mudar a sua doutrina” a respeito das mesmas.
“Há situações particulares em que nos perguntamos o que fazer: há um sofrimento, há um problema. É preciso pensar”, disse.
O vice-presidente da comissão responsável pela redação da mensagem do Sínodo recordou que a “doutrina se desenvolveu”, ao longo da história da Igreja, recordando as mudanças a respeito do tema da escravatura, e frisou que “a doutrina sobre a família não está fechada”, sem que isso implique alterações “à indissolubilidade matrimonial”.
Três responsáveis da sala de imprensa da Santa Sé apresentaram sínteses das 68 intervenções que tiveram lugar na manhã de hoje e na tarde de terça-feira, à porta fechada.
Em cima da mesa estiveram os “desafios” que as famílias enfrentam, em particular como consequência da crise económica, das migrações e das separações, bem como da “solidão”, especialmente das crianças e idosos.
Segundo o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, muitos dos bispos falaram dos “sofrimentos concretos” das famílias e da relação entre “verdade e misericórdia” na altura de abordar essas pessoas.
Em comunicado, a sala de imprensa da Santa Sé precisa que em relação aos divorciados em segunda união o debate sublinhou a “prudência necessária” nas grandes questões, “conjugando a objetividade da verdade com a misericórdia pelas pessoas e os seus sofrimentos”.
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