O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou que o relatório hoje publicado sobre abusos sexuais na Igreja Católica “exprime uma dura e trágica realidade” e disse que a Igreja Católica não vai tolerar “abusos nem abusadores”.
“A ‘tolerância zero’ para com os casos de abusos tem de ser uma realidade em toda a Igreja e, por isso, não toleraremos abusos nem abusadores”, afirmou D. José Ornelas numa declaração à comunicação social após ter recebido o relatório sobre abusos sexuais na Igreja nos últimos 70 anos.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal apresentou hoje o resultado de um ano de estudo, afirmando que recolheu 512 testemunhos validados, num total de 564 recebidos, relativos a casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando para uma rede de 4815 vítimas.
O relatório hoje publicado exprime uma dura e trágica realidade: houve, e há, vítimas de abuso sexual provocadas por clérigos e outros agentes pastorais, no âmbito da vida e das atividades da Igreja em Portugal”.
“É uma ferida aberta que nos dói e nos envergonha. Pedimos perdão a todas as vítimas: às que deram corajosamente o seu testemunho, calado durante tantos anos, e às que ainda convivem com a sua dor no íntimo do coração, sem a partilharem com ninguém”, afirmou D. José Ornelas.
O presidente da CEP disse que na vida da Igreja Católica se atravessou a “perversidade onde não deveria ter estado”, acrescentando que a denúncia das vitimas é “um alerta e um pedido de ajuda”.
“Temos consciência de que nada pode reparar o sofrimento e a humilhação que foram provocados, a vós e às vossas famílias, mas estamos disponíveis para vos acolher e acompanhar na superação das feridas que vos foram causadas e na recuperação da vossa dignidade e do vosso futuro”, afirmou.
Os abusos de menores são crimes hediondos. Quem os comete tem de assumir as consequências dos seus atos e as responsabilidades civis, criminais e morais daí decorrentes”.
D. José Ornelas pediu aos abusadores que “reconheçam a verdade sem nada esconder, que se arrependam sinceramente, que peçam perdão a Deus e às vítimas, e que procurem uma mudança radical de vida com a ajuda de pessoas competentes, na certeza de que o caminho da justiça encontrará sempre lugar no coração bondoso de Deus”.
O presidente da CEP reconheceu que o estudo da Comissão Independente apresenta um número “muito maior” do que aquele que a Igreja Católica conseguiu apurar e pediu desculpas por não terem “sabido criar formas eficazes de escuta e de escrutínio interno”, e por nem sempre terem “gerido as situações de forma firme e guiada pela proteção prioritária dos menores”.
“Cremos, apesar de tudo, que a mudança está a acontecer”, afirmou.
D. José Ornelas acrescentou que a vida da Igreja em Portugal “não se encerra” na questão dos abusos sexuais e valorizou o trabalho de “pessoas e instituições eclesiais” que se dedicam “aos mais frágeis, aos mais necessitados e aos mais pobres”.
“A realidade dos abusos não pode fazer esquecer o imenso bem, tantas vezes silencioso, de sacerdotes, religiosos/as e leigos/as empenhados em tantas situações, a quem queremos dar uma palavra de conforto e coragem”, referiu.
D. José Ornelas apontou que a CEP vai “analisar detalhadamente” o relatório da Comissão Independente e “encontrar os mecanismos mais eficazes e adequados para fomentar uma maior prevenção e para resolver os possíveis casos que possam ocorrer, com celeridade e respeito pela verdade”.
A CEP criou a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal na Assembleia Plenária de novembro de 2021 movidos pela “certeza comum, entre todos os bispos, de que menores e pessoas frágeis têm de sentir proteção e segurança nos ambientes da Igreja Católica”.
O presidente da CEP agradeceu o trabalho da Comissão Independente e disse que na Assembleia Plenária Extraordinária de 3 de março vão ser apontadas “medidas concretas a desenvolver” na Igreja Católica em Portugal.
A declaração de D. José Ornelas decorreu na Universidade Católica e com a presença de todos os membros do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa.
(Com Ecclesia)