Iniciativa da Cáritas da ilha Terceira é financiada pela Fundação Gulbenkian
Conjugar a recuperação e atividades tradicionais com o empreendedorismo e, sobretudo, a empregabilidade, é um dos objetivos prioritários do projeto Trad(e) In, desenvolvido pela Cáritas da ilha Terceira, com o apoio financeiro da Noruega, Islândia e Liechstein através da EEA Grants do Programa Cidadania Ativa da Fundação Calouste Gulbenkian.
Ao todo cerca meia centena de alunos, com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos, recebe formação e competências nas áreas da pastelaria e doçaria tradicionais e embalamento de produtos agrícolas biológicos. E embora a duração da formação, ministrada por formadores especificios, seja diferente a verdade é que todos eles têm a mesma expetativa: reforçar competências para encontrar um trabalho. Que pode ser numa empresa de economia solidária ou numa empresa própria, criada pelo empreendedorismo de cada um, através do auto emprego.
“Estamos cá para isso. Ajudamo-los e abrimos-lhes portas” disse ao Sítio Igreja Açores Rui Drumonde Coordenador do Projeto, cujo objetivo principal visa potenciar e transformar atividades tradicionais (dos sectores primário e secundário) para favorecer a integração escolar e a empregabilidade de jovens especialmente vulneráveis.
O projeto tem uma intervenção em três níveis: jovens dos 14 aos 17 anos, com os quais se procuram desenvolver “itinerários vocacionais”, nas escolas Tomás de Borba e Jerónimo Emiliano de Andrade; jovens entre 18 e 25 anos onde se apoia a formação e reconversão de competências e jovens entre os 20 e os 30 anos, com um apoio mais direcionado para o mercado de emprego através do apoio ao empreendedorismo nas atividades tradicionais.
“Os nossos indicadores são arrojados e, embora saibamos que nem todos vão ter acesso ao mercado de trabalho, ficará a semente” lembra Rui Drumonde para quem a taxa de empregabilidade “ainda assim é elevada se avaliarmos por exemplo o que aconteceu com o projeto Terra Nostra, centrado na actividade agrícola”.
A meta está mesmo traçada.
“Estamos a contar que no final 4 a 6 jovens sejam incluídos numa empresa social de economia solidária e 12 a 15 jovens possam estar capacitados para um negócio próprio. Qualquer um deles, por vontade própria, pode fazê-lo porque nós ajudamo-lo” disse ainda o responsável.
Um otimismo alicerçado na experiência passada.
“Dos 12 formandos do projeto Terra Nostra, 5 arranjaram imediatamente emprego” frisou lembrando que estes números têm de ser contextualizados.
“Estamos a falar de jovens com muitas dificuldades e que após um ano de formação continuam empregados”, precisou.
Cada turma (três no total), atualmente em formação- pastelaria, doçaria e licores e embalamento de produtos biológicos-, tem cerca de dezena e meia de alunos. No final todos querem ter uma “nova esperança”. É assim em todas as fases da formação, da teórica à prática.
“Temos de os manter motivados porque são alunos com perfis muito variados, mas todos eles portadores de uma baixa auto estima e baixas expetativas. Facilmente se desinteressariam se não fossemos razoavelmente criativos”, diz Ana Margarida Meneses, mediadora do projeto, isto é, a responsável que acompanha individualmente cada formando.
Começam sempre pela higiene e segurança no trabalho e depois passam para uma componente mais prática.
“É aqui que se começam a ver resultados porque praticar é o que eles mais querem” refere a mediadora, uma das principais responsáveis pela tutoria destes alunos.
Questionado sobre se vai ter concorrência, o chefe Alberto Silva, formador da doçaria tradicional, lembra que “já temos pelo menos 2 chefes de cozinha formados aqui”; para já, os que compõem esta turma “ainda estão verdes mas como são ativos julgo que dentro de uma semana já muitos se destacarão…”
Andreia Borba e Nelson Barros, alunos da unidade de doçaria- compotas e licores- não pensam noutra coisa. Entre dois cortes de abóbora- o doce que estavam a aprender a trabalhar no momento da reportagem do Sítio Igreja Açores- e uma espreitadela para o tacho que tinha o açúcar e acanela a formarem ponto, um e outro foram perentórios: “aqui aprende-se a fazer e eu quero aprender para depois conseguir melhorar a minha vida”.
Este é o segundo grande projeto da Cáritas da ilha Terceira para aumentar a empregabilidade dos mais jovens. O primeiro recuperou as práticas da agricultura tradicional, sobretudo produtos hortícolas. Este segundo projecto acaba por ser uma continuidade do anterior, com novos protagonistas, agora na área da transformação dos produtos oriundos da terra.