No sermão na Praça Velha, onde se juntam as imagens do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora da Soledade, o padre Pedro Lima lembrou que a cruz “é a árvore da vida e não da morte”
Decorreu hoje em Angra do Heroísmo a Procissão do Senhor dos Passos, uma das mais antigas da cidade promovida pela Irmandade dos Passos e que recupera a narrativa do evangelho da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
No momento do encontro entre as duas imagens- do Senhor dos Passos e a de Nossa Senhora- , na Praça Velha, o pregador padre Pedro Lima lembrou que o caminho trilhado por Jesus – via sacra ou caminho da cruz- é o caminho de todos os cristãos.
“Não há caminho que não seja a via crucis” afirmou o pároco de Santa Luzia, em Angra e professor de Teologia Dogmática no Seminário de Angra.
“Hoje tantos homens e mulheres gritam clemência a Deus com os rostos ensanguentados, vítimas do ódio, da guerra, do desprezo pela sua dignidade; e quantas mães choram sem poder abraçar e consolar aqueles que amam” disse o sacerdote lembrando o encontro entre Jesus e Sua Mãe durante o caminho do Calvário, um dos “encontros mais dramáticos da história onde se cruzam as gotas de sangue do filho com as gostas de lágrima da Mãe”.
“Nunca estamos sós como Ele nunca esteve” afirmou o sacerdote alertando para o perigo que neste caminho da cruz podemos incorrer. A partir de episódios bíblicos alertou para a “desobediência não por falta de fé mas por falta de confiança”, do perigo da “indiferença porque não acreditamos no amor de Deus, que tudo pode” ou do perigo da “autosuficiência”.
“Que cristãos somos? Que Igreja somos?”, interpelou.
“Não há amor sem espinhos e até as árvores mais fortes precisam de ajuda” disse ainda o sacerdote.
“Na sociedade humana também nós precisamos uns dos outros; nós somos como as árvores: algumas fracas e secas, outras cheias de vida. A cruz é a árvore da vida, plena de esperança para o sèculo XXI. Que tipo de árvores somos nós?”, interpelou ainda.
A Procissão secular percorreu as ruas de Angra até à Igreja do Colégio, onde foi rezada a oração de vésperas, particularmente animada pelos alunos do Seminário Episcopal.
Na homilia, o Reitor do Seminário Episcopal de Angra convidou os participantes a fazerem a experiência do ressuscitado em cada momento da Quaresma para melhor entrarem na Páscoa.
“Olhamos para o Senhor dos Passos e vemos o rosto transfigurado da dor, da cruz; mas olhamos para Cristo ressuscitado e vemos a beleza da transfiguração e vemos o mesmo amor. O Senhor dos Passos é o Cristo da ressurreição: a mesma entrega, o mesmo sacrifício e o mesmo amor” disse o padre Emanuel Valadão Vaz a partir do evangelho deste domingo, o evangelho que relata a subida ao Monte Tabor.
“A Eucaristia é o nosso monte da transfiguração mas é também o pão que alimenta a vida de cada um de nó”, disse.
“O amor de Deus não se desvanece perante a cruz ou perante a morte” disse ainda alertando para a necessidade da fé ser “encarnada e não meramente espiritual”.
“Jesus Cristo é o homem e Deus, duas naturezas da mesma pessoa e Jesus é sempre mais do que nós experimentamos. Por isso, o Monte Tabor é o momento em que atualizamos o Cristo crucificado e o Cristo ressuscitado” afirmou o padre Emanuel Valadão Vaz.
O sacerdote convidou os fiéis a olharem para a forma como carregam a cruz nas suas vidas, que será tanto mais leve porquanto for a confiança no amor de Deus.
“Precisamos muito de saborear a presença do transfigurado na nossa vida para que possamos olhar para os nossos momentos de dor com esperança e alegria. Nem sempre conseguimos entender porque somos postos à prova em tantos momentos, mas é esta descoberta do amor por nós que nos faz resistir, acreditar que é possível levar a cruz”.
“Qualquer cruz deve-nos levar para um caminho de libertação porque a cruz é libertação” disse ainda.
Ontem a Imagem do Senhor dos Passos foi mudada da Igreja do Colégio para o Santuário de Nossa Senhora da Conceição e hoje saíu de lá acompanhado de inúmeros fieis e forças vivas da sociedade incluindo uma guarda de honra militar.
Esta tarde, em inúmeras paróquias, realizaram-se procissões de Passos, incluindo na ilha Terceira.
(Com Elson Medeiros)