Carlos Vieira, mestre do Rancho da Matriz de São Miguel Arcanjo, em Vila Franca, é o entrevistado do programa de rádio Igreja Açores
O poder transformador da oração e a disponibilidade de coração para a acolher são dois aspectos aos quais os romeiros devem estar particularmente atentos e dos quais devem tirar consequências pois a “conversão não pode ser só de uma semana”.
A ideia é expressa por Carlos Vieira, mestre do Rancho de Romeiros da Matriz de São Miguel Arcanjo, em Vila Franca do Campo, há 20 anos, numa entrevista que vai para o ar este domingo depois das 12h00 na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra, no programa de rádio Igreja Açores.
“O primeiro ano de uma romaria é sempre muito marcante. Quando decidimos fazê-la é como se estivéssemos a responder a um chamamento; nos outros anos já há uma necessidade e quando chega a hora, apodera-se de nós uma ansiedade, um desejo de sair” refere Carlos Vieira.
“É isto que devemos transmitir às novas gerações: um romeiro deve cativar os seus filhos e os seus familiares e eles depois encarregam-se de testemunhar também este gosto juntos dos seus amigos. Temos de começar pelos mais próximos esta evangelização” refere ainda, num ano em que as informações apontam para um número maior de jovens romeiros, a sair nos ranchos.
Carlos Vieira é o autor do livro “Romeiros de São Miguel Arcanjo” publicado em maio do ano passado. E nele há uma ideia transversal que repete nesta entrevista: “O romeiro tem de ser um homem bom”, e explica.
“Naquela semana toda o que vivemos com os irmãos, a oração permanente que fazemos tem de converter o nosso coração para sermos melhores maridos, melhores pais, melhores filhos, melhores homens em todos os ambientes que frequentamos”.
“A romaria não é feita para santos mas para pecadores; nela convertemo-nos e essa conversão deve ser uma prioridade permanente”, acrescenta, lembrando que a romaria começa muito antes com uma preparação doutrinal e catequética e espiritual.
“Na nossa preparação há sempre uma componente doutrinal, cuja responsabilidade é repartida entre o Mestre e o sacerdote que assiste o grupo (que geralmente é o pároco) e depois há uma compenente espiritual que também tem de ser aprofundada, onde falamos das virtudes teologais, do chamamento, da renúncia, da conversão, da misericórdia…”, refere.
Nesta entrevista, o Romeiro micaelense, recorda ainda a história das romarias e a sua evolução, cuja viragem acontece sobretudo a partir da década de sessenta do século 20, com uma maior ligação da Igreja, através dos párocos, no apoio aos romeiros e depois em 2003, com o reconhecimento do Movimento pela Igreja.
“No século XX a introdução dos regulamentos nas romarias, tornando-as mais disciplinadas, a aposta na formação para um ser e estar diferente e, depois, em 2003, o reconhecimento das romarias como movimento da Igreja, foram momentos decisivos para criarmos uma dinâmica pastoral que hoje está longe de se esgotar na semana da Romaria” adianta Carlos Vieira.
“Se um cristão faz o bem, um romeiro tem de praticar bem o bem sobretudo depois da conversão. Depois da preparação, depois da romaria tem de haver ação”, conclui.
A entrevista de Carlos Vieira vai para o ar na íntegra este domingo depois do meio-dia, na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.