Tradicional mensagem final evoca valores e dificuldades de todas as famílias, elogiando «amor conjugal»
A mensagem final do Sínodo, primeiro documento aprovado pela atual assembleia extraordinária sobre a família, apresenta a Igreja como uma “casa” de portas abertas para todos.
“Cristo quis que a sua Igreja fosse uma casa com a porta sempre aberta no acolhimento, sem excluir ninguém. Estamos por isso gratos aos pastores, fiéis e comunidades prontos a acompanhar e a tomar conta das lacerações interiores e sociais dos casais e das famílias”, assinala o documento, divulgado hoje pelo Vaticano.
A tradicional mensagem, que difere das propostas sinodais ou do relatório conclusivo, deixa elogios ao “amor conjugal, único e indissolúvel”, que persiste apesar das “dificuldades do limite humano”.
“É um dos milagres mais belos, ainda que seja também o mais comum”, assinala o texto, que segundo o porta-voz do Vaticano foi aprovado por “grande maioria” pelos 191 padres sinodais.
Os participantes aludem ao “grande desafio” da fidelidade no amor conjugal que tem de superar “o enfraquecimento da fé e dos valores, o individualismo, o empobrecimento das relações, o stress”.
“Assiste-se assim a não poucas crises matrimoniais, enfrentados muitas vezes de forma conflituosa e sem a coragem da paciência, da escuta, do perdão recíproco, da reconciliação e também do sacrifício”, prossegue o documento.
Estes fracassos originam “novas relações, novos casais, novas uniões e novos matrimónios”, criando “situações familiares complexas e problemáticas para a escolha cristã”.
A mensagem (‘nuntius’) dirige-se a todas as famílias do mundo, em particular as cristãs, manifestando “admiração e gratidão” pelo seu testemunho de “fé, esperança e amor”.
O texto recorda o processo iniciado em 2013, com o inquérito que permitiu “ouvir a voz de tantas experiências familiares”, com “luzes e sombras, desafios exaltantes e também provas dramáticas”.
Entre esses sofrimentos enumeram-se os dos filhos com deficiência ou doenças graves, a degradação neurológica na velhice, a morte de um ente querido, bem como os provocados pelas dificuldades económicas, o desemprego, a droga ou a criminalidade.
O texto deixa uma palavra particular às famílias de refugiados, aos que atravessam o mar para “chegar a um destino de sobrevivência” e aos que são perseguidos por causa da sua fé, “atingidos pela brutalidade das guerras e das opressões”.
O Sínodo lamenta a violência sobre mulheres, o tráfico de pessoas e os abusos sobre menores, apelando a governos e organizações internacionais a “promover os direitos da família para o bem comum”.
A segunda parte do texto elogia a “luz” que brilha nas várias famílias, no amor “do homem e da mulher” que começa no noivado, “tempo de espera e de preparação”, chegando à sua plenitude no sacramento do Matrimónio.
“Este caminho conhece também a sexualidade, a ternura, a beleza”, pode ler-se, num amor que “tende pela sua natureza a ser para sempre”.
A mensagem sublinha a “capacidade de oferecer vida, afeto, valores” de cada família, verdadeira “Igreja doméstica que se alarga à família das famílias que é a comunidade eclesial”.
Nesse sentido, refere-se a importância de participar na Eucaristia, colocando neste contexto a discussão sobre “o acompanhamento pastoral e o acesso aos sacramentos dos divorciados recasados”.
O presidente da comissão que redigiu a mensagem, cardeal Gianfranco Ravasi, apresentou o texto em conferência de imprensa, realçando o seu caráter de “exortação”.
O cardeal brasileiro D. Raymundo Damasceno Assis, um dos três presidentes-delegados do Sínodo 2014, disse aos jornalistas que esta é uma assembleia especial, por ser a primeira de “duas etapas” de reflexão sobre a família, que vai acabar em outubro de 2015, deixando um balanço “muito positivo”.
O chamado ‘relatório do Sínodo’, uma síntese dos trabalhos da assembleia extraordinária de bispos, vai ser votado esta tarde.
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