Presidente do Parlamento alerta para “crise das instituições” provocada pelo “distanciamento das pessoas”

Luís Garcia foi o primeiro orador da Jornada de Formação do Clero que arrancou em Ponta Delgada

Foto: Igreja Açores/CR
A Igreja, a Política, e grande parte da Sociedade “padecem na atualidade de um problema comum: o distanciamento das pessoas”, afirmou esta manhã o presidente da Assembleia legislativa dos Açores na conferência “ A Igreja, a sociedade e a política: caminhos para uma esperança concreta”, proferida no âmbito das jornadas de formação do clero diocesano, que arrancaram hoje em Ponta Delgada.
“Podíamos debater as causas, mas elas são sobejamente conhecidas, e infelizmente muitos políticos e homens da Igreja contribuíram para isso” referiu Luís Garcia que destacou causas externas a esta situação como “uma sociedade onde nos meios de comunicação social e nas redes sociais não há espaço para o positivo”.
“Tudo torna a nossa tarefa ainda mais hercúlea” mas a desistência está fora de questão sobretudo para “nós que acreditamos que Jesus é a esperança”.
Dirigindo-se a uma assembleia de cerca de 60 sacerdotes, de quase todas as ilhas açorianas e de várias faixas etárias, Luís Garcia lamentou a “frieza das igrejas vazias” e a “a falta das crianças a correr a chorar na Igreja, os jovens irrequietos” e desafiou os sacerdotes a serem “sinais e mensageiros de esperança”.
“Se os reverendos padres ficarem na Igreja à espera de que os bancos se encham, acontecer-vos-á, possivelmente, o mesmo que se eu ficasse no meu gabinete à espera que a Assembleia fosse mais conhecida e mais próxima dos cidadãos”, disse.
“Quando nos é atribuída uma missão política, social ou paroquial não é para destruirmos o que foi bem feito pelos nossos antecessores, nem tão pouco dar apenas continuidade ao que estava a ser feito, porque assim a mudança não surtirá o propósito”, insistiu o presidente do Parlamento  pedindo a todos que sejam parte deste desejo de mudança.
“Com inspiração, trabalho, inovação e entrosamento com as nossas comunidades, não prestamos apenas um serviço, devemos ser parte delas, das suas instituições, dos seus problemas, comungar dos seus anseios e desafios”, indicou como caminho.
“O futuro de instituições, quer sejam de natureza temporal ou espiritual, determina que a esta dimensão mais institucional deva ser acrescentada uma mais informal e, quiçá, mais fomentadora do envolvimento das pessoas” destacou dizendo que “somos todos semeadores” e não coletores de frutos.
“ A nossa missão é semear, sermos semeadores”, enfatizou.
Foto: Intervenientes nas Jornadas de Formação do Clero
O titular do primeiro órgão da autonomia, desafiou, por outro lado, os órgãos de comunicação social a serem companheiros desta viagem que ajude por um lado a restituir a imagem das instituições e por outro, a construir a esperança.
“É uma tarefa em que não podemos  estar sozinhos. Tem de ser o coletivo a prevalecer”, disse Luís Garcia.
“Nestas missões podemos não gostar mais de uns ou de outros, ou até não gostar nada de alguns, mas temos a obrigação de trabalhar com todos na mesma seara” e “quem não estiver disponível que o assuma”.
“A missão que temos não se afigura nada fácil e exige de nós próprios muito. A missão é permanente. Não tem folgas!”, disse ainda, a partir do seu próximo exemplo.
“Eu não sou Presidente só quando estou a presidir aos trabalhos e os Senhores não são padres só quando estão a celebrar. Em todo o tempo e lugar carregamos esta missão.”, disse o presidente do parlamento que abordou o tema da sua conferência a partir de uma retrospetiva autobiográfica primeiro na juventude, quando encontrou na igreja um lugar especial, e uma “primeira razão de esperança”, sobretudo no grupo de jovens da Paróquia e depois como cristão adulto, já com uma participação ativa na política.
Depois da conferência de Luís Garcia, os sacerdotes açorianos tiveram a oportunidade de ouvir o cardeal Patriarca Emérito de Lisboa, D. Manuel Clemente sobre a Esperança que garante e cria o futuro, num percurso histórico sobre a vida da Igreja.

“O que procurei explicar é como com dois mil anos já passados do Cristianismo houve sempre futuro, gente que nunca deixou de esperançar e de ter uma esperança viva, ativa a partir do que tinha em cada momento” disse D. Manuel Clemente ao Sítio Igreja Açores.

“Isso cria futuro. É muito bom vermos isso porque não se trata de uma teoria ou de uma abstração” enfatizou recordando que esta mesma “determinação” aconteceu ém épocas em que a “perplexidade era  muito grande, como a nossa também é, com tudo o que vai acontecendo e com a complexidade dos problemas”.

“Poderíamos ficar assim bloqueados mas não ficámos; a esperança não é só uma projecção é uma ação concreta” disse.

O Cardeal- Patriarca emérito referiu-se ainda a este ano jubilar e ao seu tema.

“Esta jornada de formação corresponde àquilo que o Papa Francisco nos propôs: que este ano de jubileu, que já é por definição um tempo de graça e de expetativa de conversão de cada um e da Igreja seja também um momento que nos desbloquei como existiram outros na história da Igreja, permitindo-nos e incentivando-nos a olhar para a frente com realismo e em ambiente aberto”.

Esta tarde o padre Nuno Santos, reitor do Seminário de Coimbra abordou o tema da “Esperança que brota do Evangelho”.

“Jesus nunca falou de esperança, mas no Evangelho encontramos muita esperança, porque Jesus fala dela, exercitando-a em ações concretas” refere o responsável pelo Seminário de Coimbra, que sublinha a “esperança que Jesus dá a tanta gente, nos encontros concretos que vai tendo ao longo da sua vida”.

Por isso, diz o conferencista, a “esperança do evangelho não é uma palavra mas uma relação que se estabelece” e os cristãos que aceitam a esperança que vem da Palavra e dos gestos de Jesus devem exercitar a esperança. Como? “Através da escuta” porque a esperança “colhe-se a vida e na vida de todos os dias”, refere ainda o padre Nuno Santos.

As jornadas encerram na próxima quinta-feira. Entre os oradores estão o reitor do Seminário de Coimbra, padre Nuno Santo,; o Vigário Episcopal para o Clero, padre  José Júlio Rocha e a médica Isabel Galriça Neto, entre outros.

Este momento formativo é uma iniciativa do Serviço Diocesano de Coordenação da Formação com a Vigararia do Clero.
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