O presidente da República Portuguesa afirmou hoje que a crise pandémica, há mais de um ano na “vida de todos os cidadãos de todo o mundo”, tem sido “uma provação e um desafio, também às Igrejas Cristãs”.
“Também a todos os seres humanos de boa vontade, a todos que acreditam na dignidade da pessoa humana, um tempo de tragédia mas de amor e esperança”, acrescentou, numa celebração ecuménica na Catedral de São Paulo, da Igreja Lusitana (Comunhão Anglicana), em Lisboa.
Na cerimónia, em que as Igrejas Cristãs assinaram um memorando de entendimento para o desenvolvimento do programa ‘Eco Igrejas Portugal’, foi assinalado o 50.º aniversário do Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC), com o tema ‘Unidos no Amor e na Esperança’.
O presidente da República Portuguesa salientou que este Conselho nasceu “no termo da ditadura”, um dos “poucos sinais auspiciosos” de um tempo anterior à democracia e à liberdade, num clima que era de “pouco diálogo, pouca tolerância, pouca aceitação da diferença, pouco respeito pelo direito de tantos outros”.
Marcelo Rebelo de Sousa destacou que a liberdade religiosa é “um princípio fundamental da Constituição” que rege Portugal e deve-se ao COPIC ter sido “pioneira num caminho que é recomeçado dia após dia”, unindo várias Igrejas Cristãs – Igrejas Presbiteriana, Metodista, Lusitana e Evangélica Alemã do Porto -, abrindo ao diálogo com a Conferencia Episcopal Portuguesa (CEP), com a Aliança Evangélica, “abrindo à sociedade, não sendo uma unidade fechada, mas aberta”.
“A liberdade de pouco vale se não for acompanhada de mais igualdade, de mais justiça, de menos pobreza, de menos exclusão, de menos marginalização”, disse o chefe de estado.
O presidente da Conferência das Igrejas Europeias (CEC) – que congrega 114 Igrejas de diferentes tradições em 40 países -, reverendo Christian Krieger, participou na celebração e partilhou diversas preocupações comuns com a Igreja Católica, como as questões sociais, energéticas e de proteção ecológica, o novo pacto da União Europeia para a migração, e lembrou a recente passagem por Lisboa, para uma reunião com a Presidência Portuguesa da União Europeia.
Marcelo Rebelo de Sousa destacou que o presidente da CEC lembrou que a felicidade envolve a economia, mas “não se queda na economia”, e é também social, cultural e espiritual.
“Infelizmente vivemos um tempo de alguma intolerância, de alguma xenofobia, de algum distanciamento em relação aos outros, vivemos um tempo perigosamente egoísta”, alertou.
Nesta cerimónia foram lembradas as duas décadas da Carta Ecuménica para a Europa e o 20.º aniversário da Lei da Liberdade Religiosa em Portugal.
“Há momentos da nossa vida em que temos a certeza que ficamos mais ricos, e com mais esperança, que a nossa força foi renovada, esta cerimónia para mim é um desses momentos”, afirmou José Vera Jardim, presidente da Comissão da Liberdade Religiosa.
“Saio daqui com muita esperança, com uma profunda alegria. Mal seria que no período trágico que atravessa a humanidade não houvesse um movimento forte, convicto, no sentido da unidade dos cristãos”, desenvolveu, lembrando que “a humanidade precisa de se unir para vencer as tragédias presentes e aquelas que hão de vir”.
A CEP esteve representada na celebração pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Armando Esteves Domingues, bispo auxiliar do Porto e presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização.
Em declarações à Agência Ecclesia e à Rádio Renascença. D. José Ornelas afirmou que, no campo da proteção do ambiente, da ecologia integral, “é possível e necessário” um caminho “com toda a humanidade”.
“Este apelo ganhou nova dimensão e nova presença com a encíclica ‘Laudato Si’, aliada também à ‘Fratelli Tutti’, porque é a ecologia humana: da justiça e da dignidade para todos que isto tem a ver com a humanidade no seu conjunto e é algo determinante”, desenvolves.
Neste contexto, salientou que “muitos desses valores passaram para a sociedade vindos do Evangelho” e afirmou que, nestas e em outras causas, “não há dúvidas” que as Igrejas Cristãs têm feito “um caminho muito importante e devem continuar a fazê-lo”.
“A fé em comum explicita-se em diversos modos, podemos ir fazendo caminhos que nos levem a uma maior unidade entre nós”, referiu o bispo de Setúbal.
(Com Ecclesia)