Depois da realização das Jornada Nacional da Comunicação Social, que grandes conclusões saíram deste evento?
Eu diria, com muito júbilo e também reconhecimento, por todos aqueles que trabalharam nestas jornadas – dado o formato que tiveram – tiveram uma preparação acrescida. Procurámos que nada faltasse e nada falhasse, dado que estávamos a trabalhar e a ligarmo-nos pelas redes sociais, sobretudo pela plataforma Zoom, onde estiveram mais de centena e meia de pessoas.
A primeira conclusão é que quando há dificuldades de estarmos juntos e em forma presencial temos outras possibilidades e socorremo-nos delas. Uma forma de nos encontrarmo-nos uns com os outros. Neste caso através das plataformas digitais. Tivemos também a graça de ter o cardeal D. José Tolentino que com a sua clarividência, inteligência e profundidade cultural abriu as jornadas. Ele deu uma tónica como, no meio desta pandemia, a Igreja e todos os comunicadores podem interferir neste tempo novo e época nova na história. Provavelmente uma civilização nova.
O cardeal Tolentino Mendonça realçou que o “futuro já chegou” e que é necessário um novo paradigma de comunicação…
Este paradigma tem de apostar no ser humano, no bem comum, na interligação entre todos.
Não está em causa um formato diferente de comunicar?
Sem dúvida. O digital e as redes sociais… As novas gerações estão a obrigar que os comunicadores e, de maneira particular a Igreja, os valores desta forma de comunicar. Esta realidade esteve presente nas jornadas. É necessário saber construir conteúdos que sejam próprios do digital. Há também um aspeto que dou relevo: saber planificar. Estes novos conteúdos exigem uma planificação ainda maior. Os jovens podem ensinar estas novas formas de comunicação.
A pandemia traz uma exigência extra à comunicação. Trouxe dificuldades novas aos comunicadores?
As dificuldades são muitas. Os grupos de trabalho falaram muito disso e das dificuldades que vão atravessando. A situação atual que se vive está a exigir uma coisa que está na génese do cristianismo: o sentido da história. As redes sociais e o digital ligam-se muito com a história. Contar vida… é disso que as pessoas estão ávidas. Todavia, é fundamental levar palavras em direção à esperança conforme realçam as parábolas do Evangelho.
Estamos num tempo onde o véu caiu e que trouxe as debilidades da própria pessoa. Parece que a sociedade faustosa ficou aniquilada, mas este tempo também nos projetou para um “tempo de revelação” com disse o cardeal Tolentino Mendonça. Este tempo pode ajudar na relação harmoniosa entre as pessoas.
Há uma preocupação em relação à sustentabilidade financeira da imprensa de inspiração cristã. Foi um setor muito fustigado pela pandemia. A Igreja está preocupada com os seus órgãos de comunicação social?
Preocupa-me muito a sustentabilidade da imprensa de inspiração cristã como da imprensa regional. Todavia foi notório o sentido de esperança e senti coragem das pessoas que trabalham nesta área para enfrentar as dificuldades. Necessitamos de despertar os poderes políticos e públicos para reconhecerem o valor e proximidade destes órgãos. Este tipo de imprensa dá voz àqueles que não têm voz e poder de intervenção. A Igreja está a acompanhar e preocupa-se com todos aqueles que estão no terreno a trabalhar no meio destas dificuldades. Apesar das dificuldades não há um tom derrotista, nem pessimista. Há um tom de quem quer continuar a avançar, embora sabendo que os meios são poucos. As pessoas são o mais importante. Deixo um alerta aos poderes públicos para que olhem com verdade para este setor da comunicação social.
Um dos dossiês que falta concretizar é o apoio através da publicidade institucional.
Infelizmente, vamos vendo que uma coisa é a promessa e outra é a concretização. Todavia, esperamos que se concretize, mas as empresas podem morrer entretanto. A comunicação social também pode sucumbir entretanto. O problema que estamos a viver em termos da pandemia atinge fortemente os diversos setores da vida social e se não existir um apoio imediato eles sucumbem. É fundamental ser rápido na execução das soluções. Estes jornais centenários da proximidade e da interioridade desempenharam um papel essencial porque apostaram nos valores.
A comunicação da Igreja com os jovens é uma prioridade?
Os Papas têm tido essa preocupação de dialogar com os jovens. São João Paulo II iniciou as jornadas mundiais da juventude. O Papa Francisco tem dito com frequência para se dar lugar e voz aos jovens. Estamos na altura das comunidades se abrirem aos jovens e de lhe darem a possibilidade de eles serem protagonistas da comunicação. Nestas jornadas tivemos um grupo que debateu a questão da «Geração Z» e todos foram unanimes em dizer que os jovens são protagonistas nas redes sociais. O grande trabalho da Igreja é dar esse lugar aos jovens.
Em relação aos assessores da comunicação social é um trabalho mais árduo. Graças a deus já temos vários gabinetes de imprensa e vários assessores nas dioceses.
Esse movimento vai ser intensificado?
Temos essa intenção. A comissão episcopal é um serviço da Conferência Episcopal Portuguesa e não pode impor-se às dioceses. Todavia há uma mentalização a fazer. As conclusões destas jornadas vão ser trabalhadas e depois de bem refletidas se possa usufruir desta riqueza. Uma diocese ter um gabinete de comunicação social ajuda muito em vários domínios. Até na descodificação da linguagem hermética e muito doutrinal. Humildemente temos de reconhecer que ainda estamos longe.
A planificação é um tema recorrente. Um plano de comunicação que inclua o todo nacional.
Não podemos estar na improvisação. A Igreja é tarda nesse sentido. Já D. Manuel Falcão dizia que a Igreja devia ter uma planificação para a comunicação social. Com este mundo novo temos de adaptar às novas realidades.
Há uma conversão cultural que é necessária. D. José Tolentino Mendonça falou na conversão climática, mas a Igreja não tem ido tanto a jogo nesta matéria na concretização da «Laudato Si». Que caminho é necessário fazer aqui?
A Igreja tem uma Teologia da criação que começa logo no livro do Génesis. Os últimos papas têm falado na ecologia total e integral. Outrora, olhávamos para a ecologia como algo exterior a nós. Com a encíclica «Laudato Si» fomos chamados e estamos envolvidos. É a casa comum. É um todo que tem de ser refletido. Há uma interligação total. Quando falamos da criação nunca a podemos retirar do criador. A criação oferece-nos uma forma de estar e impõem-se como uma realidade a salvaguardar.
Quando falamos de ética na criação estamos também a falar de ética na vida em todas as suas dimensões. Temos de ver a criação na sua amplitude e beleza.
(Ecclesia e RR)