O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé (Santa Sé) reuniu-se na tarde de quinta-feira com cerca de uma centena de participantes no Sínodo, para debater o papel das mulheres na Igreja.
O portal de notícias do Vaticano refere que o cardeal Victor Fernández apelou a um trabalho conjunto para “dar mais espaço e poder às mulheres”, abordando ainda os trabalhos do “Grupo 5”, um dos dez criados pelo Papa após a primeira sessão sinodal, em 2023.
Em cima da mesa esteve a questão do acesso das mulheres ao diaconado, com o cardeal argentino a sublinhar que esta é uma ideia que precisa de amadurecimento.
Segundo o Vaticano, na primeira parte do encontro D. Victor Fernández explicou que o Dicastério está “empenhado em aprofundar o tema do papel das mulheres e explorar novas possibilidades de ministérios dedicados a elas”, alargando o âmbito das pessoas consultadas, para esse fim.
O colaborador do Papa alertou para soluções “clericalizadas”, convidando a aprofundar o debate sobre as “diferenças entre ordem sagrada e poder”, permitindo confiar às mulheres papéis de liderança na Igreja.
“A pressa em pedir a ordenação de diaconisas não é a resposta mais importante para a promoção das mulheres hoje”, referiu o cardeal Victor Fernández.
“Pensar no diaconado para algumas mulheres não resolve a questão dos milhões de mulheres na Igreja”, prosseguiu, numa intervenção posteriormente divulgada pelo Vaticano .
Em fevereiro, o Papa decidiu criar grupos de estudo sobre dez temas propostos pela primeira sessão sinodal, em outubro de 2023, que envolvem os dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo, deixando assim esse debate fora do documento de trabalho.
Na abertura dos trabalhos, a 2 de outubro, o cardeal Víctor Fernández apresentou um relatório sobre o grupo 5 – dedicado a “questões teológicas e canonísticas relativamente a específicas formas ministeriais”, em particular sobre a participação das mulheres nos processos de decisão e liderança comunitária.
Uma primeira comissão para o estudo do diaconado feminino, anunciada a 12 de maio de 2016, veio a revelar-se inconclusiva, tendo Francisco descartado mudanças no futuro imediato.
Em 2020, o Papa decidiu instituir uma nova comissão de estudo sobre o diaconado feminino na Igreja Católica, na sequência do Sínodo especial para a Amazónia.
O diaconado é o primeiro grau do Sacramento da Ordem (diaconado, sacerdócio, episcopado), atualmente reservado aos homens, na Igreja Católica.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconado permanente, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade), o que não acontece com o sacerdócio.
Com origem grega, a palavra ‘diácono’ pode traduzir-se por servidor, e corresponde a alguém especialmente destinado na Igreja Católica às atividades caritativas, a anunciar a Bíblia e a exercer funções litúrgicas.
O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé descartou mudanças, no imediato, pedindo apoio dos participantes no Sínodo para definir “possíveis caminhos para a participação das mulheres na liderança da Igreja”.
“O Papa expressou que, neste momento, a questão do diaconado feminino não está madura e pediu que não nos debrucemos sobre essa possibilidade agora”, acrescentou o cardeal Fernández.
O colaborador de Francisco insistiu num desenvolvimento de propostas “sem se concentrar na ordem sagrada”, falando em “passos” que podem ser dados, como o ministério de catequistas que “apoiam as comunidades na ausência de padres, mulheres que são responsáveis, lideram comunidades e desempenham várias funções”.
“O acolitado para as mulheres foi concedido numa pequena percentagem nas dioceses, e muitas vezes são os padres que não querem apresentar as mulheres ao bispo para este ministério”, acrescentou.
O cardeal Fernández anunciou um novo encontro, para a próxima quinta-feira, destinado a “ouvir ideias sobre o papel da mulher na Igreja”, apresentando mais elementos sobre o grupo de trabalho e os peritos que fazem parte do mesmo.
Já a comissão de estudo sobre o diaconado feminino na Igreja Católica, criada em 2020 sob a presidência do cardeal Giuseppe Petrocchi, arcebispo de Áquila (Itália), vai continuar em funcionamento.
No encontro diário com jornalistas, a respeito dos trabalhos desta segunda sessão sinodal, o cardeal Matteo Maria Zuppi, arcebispo de Bolonha (Itália), considerou que neste processo “não há problemas que são postos de lado, que são postos em ponto morto ou que são censurados”.
Timothy Radcliffe, assistente espiritual desta Assembleia Sinodal, admitiu que muitos participantes ainda sentem “dificuldade” em perceber o objetivo deste encontro, falando ainda da “tentação da imprensa de procurar decisões, manchetes gigantescas”, em vez de considerar “a profunda renovação da Igreja em novas situações”.
A irmã Nathalie Becquart, subsecretária da Secretaria-Geral do Sínodo, destacou as possibilidades já existentes para valorizar o papel das mulheres nas comunidades católicas, sublinhando o exemplo dado pela própria assembleia, onde as participantes exercem vários cargos de responsabilidade.
“Estou convencida de que podemos avançar passo a passo e alcançar resultados concretos, para que possamos compreender que não há nada que impeça as mulheres de desempenhar papéis importantes na Igreja”, observou.
A assembleia sinodal, que decorre até 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.
Esta sessão da Assembleia Sinodal tem 368 membros com direito a voto, dos quais 272 são bispos; à imagem do que aconteceu 2023, mais de 50 votantes são mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.
A eles somam-se, sem direito a voto, 16 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.
O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
(Com Ecclesia)