Ana Monteiro foi a convidada da VII Conversa na Sacristia organizada pela paróquia de São José e refletiu sobre os desafios programáticos do Papa Francisco
O contributo de cada indivíduo para ultrapassar a crise climática que ameaça a humanidade, para além da definição de políticas públicas consequentes, foi o tema da VII Conversa na Sacristia, organizada pela Pastoral da Cultura da paróquia de São José, em Ponta Delgada, que teve como protagonista Ana Monteiro. A ativista ambiental refletiu sobre os dois mais recentes documentos da Igreja Católica sobre ecologia, a encíclica Laudato Si, publicada em 2015 e a exortação Laudate Deum, publicada em outubro deste ano.
“Com rigor científico e sem cinismo, o Papa enumera os principais problemas, mas aponta também um caminho que, não sendo fácil, é ainda possível” afirmou Ana Monteiro.
“Saibamos nós, como humanos, encontrar soluções e não adiar as soluções” disse sublinhando a urgência em “descarbonizar a economia e recuperar os ecossistemas”.
“Precisamos, urgentemente de devolver a esperança às gerações mais novas para que não desistam de sonhar com um mundo melhor” afirmou ainda, depois de uma apresentação exaustiva dos vários pontos da mais recente exortação do Papa Francisco.
“A carta `Louvai a Deus´, dirigida a todas as pessoas de boa vontade sobe a crise climática é um documento baseado no melhor conhecimento disponível, acessível a todos os leitores e que nos convoca a uma reflexão ética e humanista” começou por dizer a ambientalista que fez parte da direção da Quercus – Núcleo de São Miguel, é licenciada em Radiologia e em Estudos Europeus e Política Internacional e mestre em Intervenção Sócio-Organizacional em Saúde.
“Além da necessidade de resposta imediata para lidar com os efeitos destes eventos extremos, há um conjunto de outros desafios não menos complexos: o sistema político e económico atual, a conflitualidade crescente da sociedade, a polarização, o radicalismo, o negacionismo, a desinformação, as notícias falsas e aquilo a que o Papa Francisco diz ser uma “tentativa de simplificar a realidade”, como por exemplo culpar os pobres por terem demasiados filhos quando uma reduzida percentagem mais rica do Planeta polui mais do que os 50% mais pobres de toda a população mundial” referiu Ana Monteiro destacando a necessidade de se priorizar o bem comum
“A resposta a estes desafios é o bem comum, o futuro das próximas gerações e o empenho na unidade, através da cooperação entres os vários Estados, por oposição aos interesses contingentes de alguns países ou empresas” adiantou.
“Não nos podemos esquecer de que estamos a transmitir uma grande dívida ecológica às gerações vindouras e a consequente necessidade de se adaptarem a uma natureza muito diferente daquela que nós herdamos” disse ainda salientando a necessidade de uma “ justiça intergeracional” como “um dever moral”.
“Se pensarmos que este problema é para ser resolvido apenas por governos e grandes empresas, estamos errados. Porque na raiz deste problema é necessária uma mudança profunda no conjunto de valores da nossa visão do mundo. E para a realizar, precisamos também da contribuição da cultura, da ética, da religião. Portanto, todos nós somos atores nesta luta pela continuação da sobrevivência da civilização na Terra”, concluiu depois de citar por variadas vezes o Papa Francisco mas também outros protagonistas desta reflexão ética sobre o futuro da humanidade a partir da perspetiva ambiental, como Viriato Soromenho Marques ou o antigo Secretário Geral da ONU, Ban- ki Moon.
A exortação ‘Laudate Deum’ (Louvai a Deus), sobre o tema da ecologia integral, foi publicada no dia 4 de outubro, quando a Igreja Católica celebrou a festa de São Francisco de Assis.
Com| este novo documento o Papa Francisco deu continuidade à sua reflexão iniciada na encíclica ‘Laudato Si’ (2015), um documento social e ecológico sobre o cuidado da Casa Comum; cinco anos depois (18 junho 2020), o Vaticano apresentou um “manual” de aplicação deste documento, com mais de 200 recomendações em defesa do ambiente e da vida humana.
Na ‘Laudate Deum’, o Papa questiona o “paradigma tecnocrático”, na base da “degradação ambiental”, convoca “mudança generalizada de estilo de vida irresponsável”; a nova exortação alerta para o “ponto de rutura” na crise ambiental e critica o negacionismo climático e responsabiliza ação humana.
Francisco desafia também a COP28 a tomar decisões “históricas”, destaca a urgência de “transição para energias limpas” e de “redesenhar o multilateralismo” na política internacional.
A 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas vai ser realizada de 30 de novembro a 12 de dezembro, na Expo City, Dubai; o Papa vai discursar nesta cimeira, a 2 de dezembro, tornando-se o primeiro pontífice a participar pessoalmente numa COP, desloca-se aos Emirados Árabes Unidos de 1 a 3 de dezembro, a convite do xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan, presidente do país.
As ‘Conversas na Sacristia’, da Pastoral da Cultura da Paróquia de São José, em Ponta Delgada, têm uma periodicidade mensal e refletem sobre as “grandes interrogações da humanidade”, assume-se como um projeto de “evangelização e pensamento da fé através da cultura, das artes e da ciência”, num processo de escuta, de acolhimento e de diálogo com todos.