Igreja inicia novo ano litúrgico com o começo do Advento
O Administrador Diocesano disse hoje na Sé que o início do tempo litúrgico do Advento, as quatro semanas que precedem o Natal, é uma oportunidade para “despertar”, interiormente.
“Precisamos estar vigilantes para não arrastar os nossos dias para o hábito, para não nos fazer ficar pesados pelas preocupações da vida. Hoje é uma boa oportunidade para nos perguntarmos: o que pesa no meu espírito? O que me faz acomodar na poltrona da preguiça? Quais são as mediocridades que me paralisam, os vícios que me esmagam até ao chão e me impedem de levantar a cabeça? E com relação aos fardos que pesam sobre os ombros dos irmãos, estou atento ou indiferente?” interpelou o cónego Hélder Fonseca Mendes na homilia que proferiu na missa dominical da Sé, que inaugurou o novo ano litúrgico, já com novo bispo, D. Armando Esteves Domingues, que entrará na diocese no próximo dia 15 de janeiro.
“Esta vigilância está ligada à atenção, ao cuidado, não se distraiam, ou seja, fiquem acordados! Vigiar significa não permitir que o coração se torne preguiçoso e que a vida espiritual se enfraqueça na mediocridade. Ter cuidado porque se pode ficar adormecidos, sem impulso espiritual, sem ardor na oração, sem entusiasmo pela missão, sem paixão pelo Evangelho. E isto leva a “adormecer”: a continuar com as coisas por inércia, a cair na apatia, indiferentes a tudo, excepto ao que nos convém”, afirmou.
Perante os fiéis reunidos na catedral diocesana, o sacerdote destacou que o tempo do Advento, iniciado este domingo, começa com a bela promessa de que o Senhor virá.
“O evangelho não é uma ameaça, nem Jesus um ladrão, mas aponta duas maneiras diferentes de viver: na alienação e na atenção, na escuta e na contemplação: de quem vive debruçado sobre o infinito e sobre o mundo concreto e de quem vive fechado na sua pele, em si e para si; de quem é generoso com os outros em termos de pão e de amor e de quem está inclinado sobre o seu prato e o seu telemóvel” prosseguiu o cónego Hélder Fonseca Mendes sublinhando que neste período, pelo menos, “devemos estar interiormente em estado de alerta, se necessário em estado de contingência e em alguns casos mesmo em estado de calamidade. Cada um veja em que estado ou nível se coloca neste tempo do advento e que tome as medidas adequadas à protecção do nosso bem-estar, quer dizer à protecção do bem ser”.
“O tempo de advento é precisamente um tempo para darmos conta de (…), para nos apercebermos, para sairmos da superficialidade; tempo da atenção, que quer dizer, de tornar profundo, denso cada momento, cada rosto”, enfatizou, destacando o “das crianças vítimas da fome, do abandono, da violência, dos abusos; o das mulheres vítimas da violência e do machismo, usadas ou abusadas; o dos que buscam uma sobrevivência digna, com abrigo, com trabalho e com teto; o rosto dos trabalhadores precários e dos jovens que procuram emprego; o dos doentes, dos presos e dos idosos que facilmente são descartáveis; o dos que perderam a esperança a quem o futuro foi hipotecado ou roubado; os que vemos, ouvimos e lemos as ameaças da destruição do nosso planeta e não damos por nada”.
“Para quem vive neste estado precisa de um advento, de uma esperança que não engane, de um futuro que é em Deus. Se não vamos ao encontro d’Ele é Ele que vem ao nosso encontro. Não podemos é «não dar por nada»”, concluiu.
As três primeiras semanas, que recordam especialmente a segunda e última vinda de Cristo à Terra, esperada pelos cristãos para o fim dos tempos, tornam o Advento num tempo penitencial marcado pelo convite à vigilância, arrependimento e reconciliação com Deus, isto é, conversão.
A partir de 17 de dezembro a liturgia adventícia, pautada pela cor roxa, acentua a festa do nascimento de Jesus, o Natal, que os católicos assinalam a 25 de dezembro.
As leituras bíblicas proclamadas nas missas evidenciam as figuras bíblicas do profeta Isaías, de João Batista, precursor de Cristo, e de Maria, mãe de Jesus.
O tempo do Natal termina a 9 de janeiro de 2023, dia em que o calendário litúrgico evoca o Batismo de Jesus nos lugares onde a Epifania do Senhor é transferida para o domingo, como acontece em Portugal.