O Papa presidiu este domingo à celebração do III Dia Mundial dos Avós e Idosos, no Vaticano, na qual apelou ao diálogo entre gerações, alertando para a solidão e abandono dos mais velhos, particularmente nas grandes cidades.
“Precisamos de uma nova aliança entre jovens e idosos, para que a seiva de quem tem uma longa experiência de vida regue os rebentos de esperança de quem está a crescer. Neste fecundo intercâmbio, aprendemos a beleza da vida, construímos uma sociedade fraterna”, referiu, na homilia da celebração, que teve transmissão online.
‘A sua misericórdia se estende de geração em geração’, uma passagem do Evangelho segundo São Lucas (Lc 1, 50) é o tema que o Papa Francisco escolheu para o III Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, celebração instituída no seu pontificado e que se assinala em todas as dioceses católicas, este domingo.
No Vaticano, a Missa congregou 6 mil pessoas na Basílica de São Pedro, entre elas muitos idosos oriundos de toda a Itália: avós acompanhados pelos netos e famílias, idosos convidados de lares e residências, pessoas idosas envolvidos na vida paroquial, diocesana e associativa.
“Não marginalizemos os mais velhos. Estejamos atentos para que as nossas cidades sobrelotadas não se tornem concentrados de solidão; não aconteça que a política, chamada a atender às necessidades dos mais frágeis, se esqueça precisamente dos idosos, deixando que o mercado os relegue como resíduos não rentáveis”, alertou Francisco.
Não esqueçamos os avós e os idosos: graças às suas carícias muitas vezes nos levantamos, retomamos o caminho, sentimo-nos amados, fomos curados interiormente. Sacrificaram-se por nós e nós não podemos apagá-los de entre as prioridades da nossa agenda”.
A homilia centrou-se na necessidade de “crescer juntos”, a partir das imagens usadas por Jesus Cristo em três parábolas, lidas durante a celebração dominical.
“O Senhor vem ter connosco com uma palavra benévola, que convida a acolher o mistério da vida com serenidade e paciência”, indicou Francisco.
O Papa, com 86 anos de idade, afirmou que a velhice é “um tempo abençoado”, a oportunidade para “reconciliar-se, para olhar com ternura a luz que supera as sombras”.
A reflexão apontou à convivência entre gerações, com os mais velhos a ser como “árvores frondosas”, nas quais “filhos e netos constroem os seus ninhos, aprendem o clima de casa e experimentam a ternura de um abraço”.
“Não aconteça que, à força de correr a toda a velocidade atrás dos mitos da eficiência e da produção, nos tornemos incapazes de abrandar para acompanhar quem sente mais dificuldade. Por favor, misturemo-nos, cresçamos juntos”, insistiu.
A parte inicial da homilia centrou-se na vida da Igreja, assumindo que em toda a história da humanidade “coexistem luzes e sombras, amor e egoísmo”, para apelar a uma “abordagem realista”, por parte dos católicos, “sem otimismos estéreis nem pessimismos nocivos”.
“O cristão é realista: sabe que no mundo há trigo e joio e, ao olhar para dentro de si, reconhece que o mal não vem só de fora nem é sempre culpa dos outros, e não é preciso inventar inimigos para combater”, apontou. Francisco convidou a imitar o a “pedagogia misericordiosa” de Deus, que “convida a ter paciência com os outros, a acolher – em família, na Igreja e na sociedade – fragilidades, atrasos e limites”. |
A celebração foi presidida, no altar, pelo cardeal Kevin Farrel, prefeito do Dicastério para os Leigos, Família e Vida, devido aos problemas que têm afetado o Papa num joelho.
A Missa quis ligar, simbolicamente, a jornada dedicada aos mais velhos à JMJ Lisboa 2023, com a entrega da “Cruz do Peregrino”.
No final da celebração, cinco idosos– representando os cinco continentes – colocam a Cruz do Peregrino da JMJ ao peito de cinco jovens que se preparam para viajar até Portugal, significando “a transmissão da fé de geração em geração”, indica uma nota enviada à Agência ECCLESIA pela sala de imprensa da Santa Sé.
Segundo o Vaticano, o gesto de envio no final da Eucaristia visou “representar também o compromisso que os idosos e avós assumiram, a convite do Santo Padre, de rezar pelos jovens que partem e acompanhá-los com a sua bênção”.
O momento foi acompanhado por uma oração do Papa.
“O salmista lembra-nos que uma geração narra à próxima as obras do Senhor (Sl 144) e todos nós somos chamados a transmitir aos mais novos – juntamente com o conhecimento e o gosto pela vida – a Palavra da cruz, a sabedoria de Deus e o poder para a salvação. Queridas avós e queridos avôs, esta é a vossa tarefa; e vós, jovens, fortalecei-vos neste sinal de fé que recebestes como dom no Batismo, para que cresçais no conhecimento do amor de Cristo e o testemunheis ao mundo”, disse Francisco.
(Com Ecclesia)