Porta-voz do Vaticano destaca Sínodo, viagens internacionais e denúncia contra perseguições

Padre Federico Lombardi passa em revista o ano do Papa Francisco. Em termos nacionais, a morte de D. José Policarpo marca o ano da Igreja Católica

O porta-voz do Vaticano escolheu como acontecimentos centrais no último ano de pontificado o Sínodo extraordinário sobre a família, as cinco viagens internacionais e as denúncias contra as perseguições no Médio Oriente.

O padre Federico Lombardi disse à Rádio Vaticano que o Sínodo, cuja segunda etapa vai decorrer em outubro de 2015, é a “principal” iniciativa pastoral e eclesial proposta por Francisco, até agora.

“É uma iniciativa muito corajosa, porque o Papa colocou sobre a mesa temas inclusive difíceis, delicados, mas, era algo realmente necessário”, declarou.

O responsável recorda a “situação absolutamente dramática” no Médio Oriente que tem merecido várias intervenções de Francisco em defesa de milhões de pessoas, “cristãos e não só”, que tiveram de fugir das suas casas, bem como luta do Papa contra a escravatura e o tráfico de pessoas.

Em relação às cinco viagens internacionais realizadas em 2014 (Terra Santa, Coreia do Sul, Albânia, Estrasburgo e Turquia), o diretor da sala de imprensa da Santa Sé sublinhou o diálogo ecuménico e inter-religioso, para além das mensagens deixadas em nações “onde a história da Igreja é caraterizada pelo martírio”.

O padre Federico Lombardi fala da passagem de poucas horas pela cidade francesa de Estrasburgo, com discursos do Papa no Parlamento Europeu e no Conselho da Europa, como um momento “fundamental” para compreender o que Francisco quer dizer ao Velho Continente.

A revista do ano incluiu uma referência à canonização dos Papas João Paulo II e João XXIII e à beatificação do Papa Paulo VI, “grandes acontecimentos” que têm como denominador comum “a atualidade do Concílio Vaticano II”.

O sacerdote jesuíta falou também do projeto de reforma da Cúria Romana, “parte de um projeto de renovação muito mais amplo que o Papa formulou na Exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’: de uma Igreja em saída, missionária”.

“Para o Papa o coração de qualquer reforma é interior: as reformas partem do coração, é dali que é preciso partir para renovar ou curar”, precisa.

Segundo o padre Federico Lombardi, a expressão “cultura do encontro” é aquela que melhor caracterizara o ano do Papa.

“O Papa Francisco tem precisamente esta atitude, um modo de se relacionar com os outros como pessoa que se encontra com outras pessoas e que coloca profundamente em jogo a sua vida e o seu ser, procurando que o outro, o seu interlocutor, se coloque em jogo a si mesmo”, observou.

Neste contexto, o porta-voz do Vaticano deu como exemplos a aproximação ao patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I (Igreja Ortodoxa) ou as recentes declarações dos presidentes de Cuba e dos Estados Unidos da América, após o restabelecimento de relações diplomáticas, agradecendo a intervenção do Papa.

“Por detrás da expressão ‘cultura do encontro’, vejo esta abordagem de ir em direção ao outro, em muitas dimensões – a religiosa, a espiritual, também as de caráter ecuménico ou político -, que revela uma caraterística deste pontificado”, concluiu.

Já em termos nacionais, o diretor do gabinete de imprensa do Opus Dei em Portugal realça, entre os acontecimentos do último ano, a morte do cardeal-patriarca de Lisboa, salientando que D. José Policarpo foi para os católicos “uma voz de referência” num tempo conturbado.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, que poderá ser acompanhada esta tarde a partir das 15h30 na RTP2, Pedro Gil recorda que D. José Policarpo “teve que enfrentar grandes dificuldades”, pois “apanhou todo um processo de secularização da sociedade”.

No entanto, isso não impediu o cardeal-patriarca de ser “sempre uma voz firme e esclarecida”, na defesa dos valores cristãos e na “comunicação da fé no meio da cultura”.

Por outro lado, D. José Policarpo aliava a sua “profundidade intelectual” a uma capacidade de “improviso surpreendente”, onde ficava patente toda a sua “grande sensibilidade para com o Espírito Santo”, complementa o responsável de comunicação da “Obra de Deus”.

Para Pedro Gil, o cardeal-patriarca, pela forma como procurava ler “os sinais dos tempos”, permanece como uma figura incontornável a seguir numa altura em que a Igreja Católica em Portugal está a redefinir a sua linha de ação pastoral.

Fazer a “ponte entre aquilo que é a realidade” da sociedade, do mundo, das pessoas, “e aquilo que é Jesus Cristo, Deus, presente nela”, é uma missão “problemática e difícil”, aponta o comunicador, que dá como exemplo o Sínodo sobre a Família que está a ser promovido pelo Papa Francisco.

Um processo de “discernimento”, que tem de contar com a colaboração de todos os católicos, não só com a hierarquia.

“Cada um de nós tem de manter o seu aparelho de escuta ligado e sensível para ouvir aquilo que Deus tem para dizer”, complementa.

A nomeação de novos bispos e a utilização das novas ferramentas digitais como forma de comunicar Cristo ao mundo foram outros pontos destacados por Pedro Gil, na análise ao ano que está a findar.

No primeiro caso, o diretor do gabinete de imprensa do Opus Dei realça a importância do surgimento de pessoas novas, dentro da estrutura da Igreja, que possibilitem a implementação de novas soluções pastorais.

“O Papa Francisco espera dos bispos uma missão clara, serem pessoas muito próximas do seu povo, atentos a ouvir os problemas das pessoas. Os novos bispos estão sensíveis a isso e julgo que isto é aquilo que a Igreja precisa neste momento”, acrescenta.

D. António Moiteiro foi designado novo bispo de Aveiro, em substituição de D. António Francisco dos Santos, que seguiu para a Diocese do Porto.

Ainda no campo das alterações, D. José Traquina e D. Francisco Senra Coelho foram nomeados bispos auxiliares das dioceses de Lisboa, e Braga, respetivamente, enquanto D. João Marcos abraçou o cargo de bispo coadjutor de Beja.

“Muitas vezes é mais fácil pensar que todo o trabalho compete aos bispos e à sua comunicação”, mas “também é uma responsabilidade das pessoas terem a preocupação de se informar e estar atentas àquela que é a orientação de cada bispo em cada lugar. A relação das pessoas com os bispos reveste-se de grande importância”, refere ainda a este respeito Pedro Gil.

Já quanto às novas tecnologias, aquele responsável considera a utilização delas por parte da Igreja um ponto fundamental, numa “cultura moderna que habituou muito a pessoas a viverem como se Deus não existisse”.

“Caminhos como estes, tão simples, permitem-nos corrigir o rumo e fazer com que as pessoas tentem novamente relacionar-se com Deus. No entanto, estas ferramentas devem ser usadas com profissionalismo”, conclui Pedro Gil na sua análise ao último ano.

CR/Ecclesia

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