Por Renato Moura
Neste período de preparação para a Páscoa foram partilhadas duas reflexões, com muito de comum.
O nosso Bispo Armando, faz-nos lembrar os que “sofrem com a incerteza da vida e do futuro” e apela a uma “atenção, humilde e respeitosa, para com todos aqueles que a vida coloca ao nosso lado e nos faz encontrar”. Deseja que a doacção de Jesus “nos torne mulheres e homens «para os outros»”.
O nosso Papa, no Domingo de Ramos, citou Jesus na cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?». Francisco fez-nos lembrar que muitos precisam da nossa proximidade e confrontou-nos: “há tantos «cristos abandonados»” e entre outros citou: pobres “cujo olhar não temos a coragem de fixar”; “reclusos rejeitados, pessoas catalogadas como problema”; “doentes não visitados”; “cristos abandonados invisíveis, escondidos, que são descartados de forma «elegante»; idosos deixados sozinhos (…) abandonados nos lares de terceira idade”.
Há lares completamente cheios. Muitos dos «residentes» sofrem espiritualmente pela solidão, pela perda dos laços familiares e sociais, pelo abandono; pelo sofrimento da doença. Dilacera-os sentirem-se para ali empurrados pelas famílias, pelos herdeiros em testamento dos bens fruto de muito suor, lágrimas e dolorosa poupança. Muitos padecem ainda – real ou espiritualmente – por sentirem, nessa penúltima morada, incompreensões, silêncios, faltas de carinho, insultos, traições, rejeições.
Os trabalhadores dos lares têm um trabalho dificílimo: jamais pode ser exercido sem vocação, sem caridade. E muitos cumprem com excelência, assumem o dever de perceber que aquelas pessoas – a caminho do fim de vida – não suportam perder o pouco que resta: comida, que possam mastigar, a relembrar as suas tradições; higiene regular e decente; assistência na doença e medicação; uso da sua própria roupa; actividade que permita manter mobilidade; visitas às suas origens; entretenimento.
Aos membros dos órgãos sociais dessas instituições – a maioria Santas Casas – cabe alargar o horário das visitas, assegurar assistência espiritual, não só religiosa. Exige-se capacidade e empenho para exercerem todos os deveres e competências e uma paciência sem limites para ouvirem e ponderarem queixas, protestos e reclamações dos utentes e famílias, e dos irmãos, a quem também cumpre dever e espírito de cooperação.
Talvez em silêncio, mas há idosos a perguntar: Porque nos abandonaram?! O Papa lembrou-nos: “Jesus abandonado pede-nos para termos olhos e coração para os abandonados”.
Que Jesus ressuscite os nossos espíritos.