“Por vezes sinto que pessoas perderam a capacidade de se abrirem à esperança que o Evangelho traz e de se compadecerem pelo sofrimento dos outros”, afirma padre Dinis Silveira

Pároco do Topo e Santo Antão é o convidado do programa de rádio Igreja Açores

O tempo de Natal, que é por definição um tempo “belo e de esperança porque é o tempo em que esperamos a vinda do Salvador, O único que verdadeiramente importa, Jesus Cristo”, deve ser vivido também na diocese de Angra como um tempo de “esperança pela chegada do novo Bispo” refere ao Igreja Açores o padre Dinis Silveira.

O sacerdote, que é pároco do Topo e Santo Antão, na ponta da ilha de São Jorge, e ainda vigário do curato da Fajã de São João, sublinha a oportunidade deste tempo que nos dá “a possibilidade de recomeçarmos”.

“Mesmo no meio da escuridão há sempre a esperança que tem um nome Jesus Cristo; temos esperança neste Deus que nasce para nós e nele buscamos a força necessária que a vida tem” afirma o padre Dinis Silveira numa entrevista que pode ser ouvida na íntegra no programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo, o quarto do Advento e último antes do Natal, no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, depois do meio-dia.

“Vivemos um ano atípico na vida da diocese e, por mais que se diga que já houve tempos em que o período sem bispo foi mais longo, a realidade é que hoje os tempos são diferentes e sem pastor, como diz o Evangelho, as ovelhas andam dispersas. Não estamos dispersados, mas a expectativa criada pela incerteza  e pela ausência de bispo, levou a que as pessoas se acomodassem(…). Foi um momento difícil até do ponto de vista ontológico: falta-nos o pastor” afirma o sacerdote, doutor em Direito Canónico pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

“Naturalmente que as coisas não pararam e a vida foi seguindo: o Evangelho continuou a ser anunciado, a Eucaristia celebrada mas faltava a cabeça e isso faz toda a diferença” enfatizou ainda, lamentando a ausência de um plano pastoral que oriente toda a diocese.

O sacerdote, nesta entrevista, lembra ainda o momento “de angústia e de medo” que sentiu nos Jorgenses durante a crise sísmica que afetou a ilha na Quaresma e na Páscoa.

“Foi um momento complicado, com sobressaltos permanentes e tocou-nos a nós acolher, nesta ponta da ilha. Foi um momento muito doloroso, porque as pessoas vinham com o pouco que podiam trazer, vinham desesperadas com os sismos e a eminência de um vulcão, mas graças a Deus tudo correu pelo melhor” afirma o padre Dinis Silveira sublinhando o trabalho das várias entidades no terreno, sob a coordenação da Protecção Civil, com a ajuda da Cáritas diocesana, das filarmónicas, das Casas do Espirito Santos, dos emigrantes, “foi um momento muito bonito de comunhão e de entre-ajuda”, refere.

“Foram momentos difíceis , de grande angústia mas ao mesmo tempo de grande partilha e sentido comunitário”, afirma ao destacar que, até no momento da oração, se via as pessoas mais comprometidas.

Nesta entrevista o sacerdote fala deste tempo de Natal, que “não é ornamento mas fermento” recordando uma frase do cardeal José Tolentino Mendonça; da necessidade das pessoas se abrirem à graça de Deus para que “o Evangelho não passe como água no alcatrão” e, consequentemente, seja um tempo em que os cristãos reaprendam a “compadecer-se com o sofrimento dos outros”.

“Levar o Evangelho  a este mundo, marcado por uma certa desesperança é difícil e é um desafio permanente. Mas o mundo é o que é” afirma.

O sacerdote, nesta entrevista aborda ainda a questão da Caminhada Sinodal proposta na diocese, que na sua opinião não foi bem sucedida.

“É preciso que as pessoas estejam despertas para essa realidade. As estruturas querem fazer pensar uma certa velocidade que não acompanha o ritmo das comunidades, que não estão preparadas. Não vale a pena falar de coisas pomposas, com nomes igualmente pomposos, que não entram da maneira correta e, por conseguinte, podem ser feitas a solo ou por dois ou três, mas não em conjunto”.

“Acho que é um trabalho profundo e necessário que é preciso desenvolver; não podemos é correr o risco de estar a impor um caminho que é contrário à sua própria essência” salienta ainda.

“ O que temos assistido na diocese é a um imposição de cima: o que chega chega mal, pouco traduzido naquilo que são as necessidades das pessoas e se as comunidades não têm a noção do que é ser Igreja, do que é a corresponsabilidade  e o que isso significa, e se o que chega é de tal maneira elevado e utópico, sem traduzir aquilo que é a vida das pessoas e das comunidades, não entra. Isto não se faz com chapa cinco”, afirma.

“Numa verdadeira caminhada sinodal temos de respeitar as velocidades diferentes que existem…E, às vezes, parece que o carro só tem uma velocidade e essa velocidade aplica-se a todos os passageiros e a todas as estradas”, conclui.

A entrevista do padre Dinis Silveira, Cavaleiro Magistral da Soberana Ordem Militar de Malta e sacerdote desde 2007 passa no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores a partir do meio-dia deste domingo.

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