Por António Pedro Costa*
Agora que se esfumam os ecos da Jornada Mundial da Juventude, que acompanhamos com particular interesse, chegamos à conclusão, em jeito de catarse, de que a Igreja de Jesus Cristo está bem viva, apesar do calvário que tem vindo a viver em várias partidas do planeta. Foi uma oportunidade para o Papa Francisco aproximar-se dos milhares de jovens peregrinos provenientes de todo o Mundo para os abençoar, desafiando-os à realização de sonhos de bem e a cultivarem nos seus países anseios de unidade, de paz e de fraternidade.
Considerado o maior acontecimento religioso da Igreja Católica a nível planetário, ele transformou Lisboa na capital da alegria, da tolerância e de encontros de cultura e de fé. Os inúmeros jovens que estiveram em Lisboa, numa concentração de um milhão e meio de peregrinos, não andaram pelas ruas a gritar protestos, mas a partilhar a esperança do Evangelho com júbilo e de forma fraternal.
Foram totalmente superadas as expectativas de afluência ao Parque Eduardo VII, bem como ao Parque Tejo, onde um milhão e meio de peregrinos ali assistiram às diversas celebrações que se realizaram. Momentos únicos foram vividos, desde a missa do acolhimento, como a deslumbrante via-sacra, que arrebatou o mundo que assistiu à interpretação jovem dos padecimentos de Jesus, desde que foi condenado à morte por Pilatos, até à sua ressurreição. Ficamos todos maravilhados com o desenrolar do admirável momento que emocionou milhares de crentes que não conseguiram deter as lágrimas perante a beleza do que os seus olhos viam, os ouvidos ouviam e sobretudo o que o coração sentia.
A empolgante vigília, em que os jovens dobraram os joelhos para adorar Jesus Sacramentado, foi uma ocasião orante muito profunda, que marcou este encontro do Papa Francisco com os jovens de todo Mundo, deixando uma mensagem profunda de que a única situação em que é lícito olhar de cima para baixo para uma pessoa é para a ajudar a levantar-se.
Eu, que assisti àquela jornada memorável, através da televisão, pode aperceber-me da alegria contagiante e da expressão da fé de tantos milhares de jovens que manifestavam sem rebuço a sua fé e a sua adesão à doutrina que a Igreja Católica, nem sempre da melhor forma, continua a espalhar junto dos homens de boa vontade.
Se foram momentos de intensa alegria para uns, para uns quantos que não professam nenhuma religião ou não concordaram com a realização das jornadas, foram momentos angustiantes por verem tantos jovens de rostos alegres e a conviver com todas as raças do mundo. Alguém dizia que tinha pena por não ter sido bafejado pela fé…
Num país tolerante, protestou-se por que entendiam que a Igreja católica continua a exercer um controlo social e cultural na nossa sociedade ao querer privar-lhes da liberdade e autonomia dos seus corpos. Enfim, posições marginais de um punhado de gente que se manifestou, numa sociedade democrática…
No nosso país, como na generalidade do mundo ocidental, tem grassado um certo tipo de laicismo subtil, uma espécie de teofobia, expressão que exprime uma aversão a Deus e olha a religião com base em generalizações, por vezes concretas e lamentáveis. Qual será o futuro desta crescente corrente teofóbica?
Depois destas jornadas, o que nos resta? Uma vez perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar na Igreja e o que é preciso para começar? A resposta foi simples e clara: que cada um abra o seu coração, para que Jesus lhe diga por onde começar. Ou como disse o Papa Francisco naqueles dias em Lisboa: que a igreja não seja uma alfândega para selecionar quem entra ou não. Todos. Cada um com a sua vida, com os seus pecados, como está diante de Deus, como está diante da vida. Todos, todos. Não coloquemos alfândegas na Igreja.
Nestas jornadas, um autêntico laboratório da fé, esperamos que a Igreja Portuguesa consiga empreender novos rumos, pois só assim terá valido a pena todo o entusiasmo intensamente vivido, não apenas pelo milhão e meio de peregrinos, mas por todos os que acompanharam pela televisão o decorrer da Jornada Mundial da Juventude. A Coreia do Sul será a próxima etapa desta evangelização jovem, que faz desta Igreja de Jesus verdadeiramente Católica.
*António Pedro Costa é presidente da Fundação Pia Diocesana de Nossa Senhora das mercês e a partir de hoje cronista regular, residente, do Igreja Açores