Bispo de Angra preside pela primeira vez a esta festa em ano jubilar
A festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres, cuja celebração religiosa arranca hoje em Ponta Delgada, vai estar centrada na misericórdia e será presidida pelo Bispo de Angra, D. João Lavrador, contando igualmente com a presença do bispo emérito da diocese, D. António de Sousa Braga.
“Todos nós que somos pecadores precisamos da misericórdia e do perdão divinos e quando nos deixamos converter, arrependendo-nos, tudo se torna mais fácil e, assim, há uma complementaridade enorme entre a temática deste ano e o espirito desta festa” disse ao Sítio Igreja Açores o reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo, Monsenhor Augusto Cabral, que deverá ser pelo último ano o anfitrião destas festas.
A edição deste ano vai contar com uma presença “expressiva” do Seminário de Angra- reitor, equipa formadora e seminaristas- bem como do vigário geral e grande parte do cabido da Sé “como sinal da unidade eclesial”, para além da esmagadora maioria do clero micaelense, referiu também Monsenhor Augusto Cabral.
A festa, que já se realiza ininterruptamente há 351 anos, atrai todos os anos milhares de peregrinos a Ponta Delgada, oriundos das mais variadas partes do mundo, em particular os emigrantes dos Estados Unidos e Canadá que aproveitam este momento para regressarem à ilha.
Este ano a festa volta a contar com a presença do primeiro ministro de Portugal o que já não acontecia desde o tempo de José Manuel Durão Barroso.
“Poucas coisas mudam na organização e nas expetativas pois a mensagem do Ecce Homo é a mesma sempre”, disse o responsável pelo Santuário que só espera “que as pessoas se sintam bem e integradas nesta festa” e a vivam “com o entusiasmo que é um dom d Espírito Santo que temos de aproveitar em cada momento”.
“Somos objeto da misericórdia de Deus e somos instrumentos dessa misericórdia sobretudo quando olhamos para os outros; é preciso nunca nos esquecermos disso. Em cada momento temos de ter em conta a misericórdia e o perdão” referiu o sacerdote.
A vida em torno do Santuário “tem crescido muito e todos os anos há mais movimento”, adianta ainda Monsenhor Augusto Cabral.
“Registamos mais pedidos e mais ofertas e vemos, nestes cinco anos, que a crise e as preocupações das pessoas são alavancas para uma maior reflexão e vivência espiritual”, acrescenta ainda.
“É claro que temos de expurgar esta espiritualidade porque nem sempre está centrada no essencial, mas também temos de saber acolhe-la e potencia-la”, disse alertando para a necessidade de não “perder de vista a tarefa fundamental do Santuário”.
“É precisa muita atenção da igreja a este florir da espiritualidade de cada um”, precisou sublinhando as tarefas do Santuário: “é uma casa de espiritualidade, de oração e reflexão mas onde não pode ser descurada a atenção ao acolhimento dos peregrinos”.
“Saber aproveitar o quotidiano normal desta casa, respeitando os seus ritmos desde a Eucaristia aos sacramentos da reconciliação e comunhão ou os momentos de adoração é o principal desafio de quem para aqui vem” referiu, por outro lado, o reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo.
“Temos de saber ouvir e de cultivar o momento e o espaço de oração, pois esta casa é um espaço para a santificação” sublinhou.
A festa do Senhor Santo Cristo começou formalmente no passado sábado com o leilão do gado na Associação Agrícola de São Miguel, mas tem o seu ponto alto este fim de semana.
Esta sexta feira foi celebrada a missa dos doentes; à noite acendem-se pela primeira vez as luzes que ornamentam a fachada principal do Santuário e no sábado de madrugada será o tempo de cumprir algumas promessas. A partir das 11h00 começam as homenagens e à tarde haverá a procissão da mudança precedida da celebração da palavra.
É no sábado que a imagem é entregue à Mesa da irmandade que ficará responsável por todos os momentos celebrativos até domingo à noite. Além da procissão da mudança haverá ainda, ao inicio da madrugada de domingo, uma procissão de velas para a mudança da Imagem do Santuário para a Igreja de São José onde se realizará uma vigília que será animada por vários movimentos.
No domingo de manhã será celebrada a missa campal, presidida pelo bispo de Angra e que terá transmissão em direto na RTP Açores e RTP Internacional, seguindo-se à tarde a procissão do Senhor Santo Cristo, que durante quatro horas percorrerá as principais artérias da cidade, passando por todas as igrejas e conventos.
O Santo Cristo, a par das festas do Divino Espírito Santo, constitui um dos momentos mais altos da vivência da religiosidade popular açoriana.