Responsável pela Pastoral Social na Diocese de Angra lamenta aumento da precariedade laboral. *
Como se tem vindo a verificar e tem estado muito presente na Comunicação Social, o problema da precariedade social é uma realidade que, nos nossos dias, está a atingir grande parte da população portuguesa e também entre nós.
As notícias que têm vindo a público dão conta de decisões ou medidas tomadas ou a tomar, pelos responsáveis políticos que apontam para uma situação de precariedade cada vez mais expressiva, não só ao nível do trabalho ou do emprego precário, mas também pelas consequências derivadas dos “cortes” ao nível dos variados apoios de carácter social que afectam especialmente os mais desprotegidos.
A este respeito, já o Papa Francisco na sua conhecida exortação referia que “a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo vive o seu dia-a-dia precariamente, com funestas consequências”. Destes, o texto papal destaca “a desigualdade social como sendo cada vez mais patente” (nº 52).
A verdade é que se vai tornando cada vez mais clara a ocorrência de um aumento da desigualdade social, criando uma maior distância entre aqueles que, mesmo em tempo de crise económico-social, se tornam mais ricos e aqueles que empobrecem, muitos deles aproximando-se do limiar da fome.
Todas as instituições voltadas para actividades de apoio social são unânimes em afirmar a existência de uma cada vez maior procura de apoio, tanto em termos de auxílio económico ou monetário, como no que se refere à procura de bens de primeira necessidade.
Há pois, algo que está a falhar no domínio da política económico-financeira, concretamente, no que respeita à economia e distribuição dos rendimentos.
Felizmente que há instituições e movimentos sociais da Igreja e não só que se esforçam por apoiar pessoas e famílias em particular dificuldade.
Contudo, na linha do que diz o Papa na referida exortação, “os planos de assistência que acorrem a determinadas emergências, deveriam considerar-se apenas como respostas provisórias”, pois que os problemas dos pobres e do mundo não se resolvem, a não ser “renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social”, pois que, como afirma o mesmo texto, “a necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode esperar (nº 202).
Neste sentido, pode dizer-se que, o que está a faltar no mundo da política económica, em termos globais, é a coragem de adoptar, como valores maiores, “a dignidade de cada pessoa humana e o bem comum”.
Quando é esquecido o princípio fundamental do destino universal dos bens, a dignidade da pessoa e o bem comum, como condições para o acesso à justiça social, percebem-se as palavras do Papa Francisco, quando diz: “Incomoda que se fale de ética, incomoda que se fale de solidariedade mundial, incomoda que se fale de distribuição dos bens, incomoda que se fale de defender os postos de trabalho, incomoda que se fale de dignidade dos fracos, incomoda que se fale de um Deus que exige um compromisso em prol da justiça” (nº203).
É a toda esta incomodidade que, pelo menos os cristãos, não se podem furtar, tal como todas as pessoas que lutam por uma sociedade mais justa e mais humana.
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