Por Renato Moura*
A contraposição permite estabelecer comparações e paralelismos; pôr em frente. Fundamentar como razões ou argumentos contrários. Agir ou argumentar num sentido, permite objectar, contraditar, refutar. Actuar, escrever e publicar cria um campo de contraditação.
Atravessamos um período muito activo da vida política nacional. Para alguns trata-se de uma convulsão. Uns arvoram-se de ter ganho as eleições, outros detêm, em resultado das mesmas, a maioria dos deputados. Uns ganharam o direito a formar governo, outros usaram o poder de não aceitar o programa de governo. Tudo constitucional.
Bom seria se a agitação política pudesse ao menos servir para se perceber que, nas eleições para a Assembleia da República, conforme a Constituição, se elegem deputados e não o primeiro-ministro, ao contrário do que muitos sempre apregoaram e fizeram convencer. Se a situação contribuir para os governos respeitarem mais os parlamentos, já algo se ganhou.
A discussão política é, por princípio, positiva, desde que imbuída de genuíno interesse pela causa pública. Há o dever de discernir e a obrigação de denunciar e condenar, se ao invés se colocam as conveniências partidárias acima do interesse público, ou se pretende o poder pelo poder, ou se a aspiração de ser político é mera busca de prestígio pessoal ou desejado trampolim para patamares de domínio económico ou social. Mas é necessário que o calor da emoção não destrua a força da razão. E quando se acusar outros de fome e sede de poder, é preciso não cair no erro, evidenciado pelo Evangelho, de ver o argueiro no olho do próximo e não ver a trave no próprio!
É mister que todos os órgãos exercem todos seus poderes, mas nenhum mais do que lhes compete. A democracia nem sempre se traduz no resultado que cada um desejaria. É imprescindível que os investidos em funções públicas não deixem que a paixão lhes embote a consciência.
É hábil a afirmação de que tão importante e notável é a acção política no poder, como na oposição; mas desfaz-se pela evidência do deleite no poder, quando confrontada com a ameaça de vingança na oposição!
“Na Sabedoria há um espírito inteligente, santo, único, multiforme, subtil, veloz, perspicaz, sem mancha; um espírito lúcido, inalterável, amigo do bem; penetrante, irreprimível, benfazejo, amigo dos homens; firme, seguro, sereno” é uma citação retirada do “Livro da Sabedoria”. Só em Deus está a sabedoria plena. Mas todos os homens e em especial os governantes têm o dever de buscar a sabedoria; para servir.
*Renato Moura é membro do Conselho Pastoral das Flores e a partir de hoje cronista do Sítio Igreja Açores, com a coluna Contraposições (O autor não escreve de acordo com o Novo Acordo Ortográfico)