Por António Pedro Costa
O Dia Mundial dos Pobres, uma iniciativa do Papa Francisco, foi instituído durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2016, pelo que passou a ser celebrado anualmente, no domingo que antecede o último domingo do ano litúrgico, que geralmente ocorre em meados de novembro.
O objetivo do Dia Mundial dos Pobres é chamar a atenção para as questões relacionadas com a pobreza, promover a solidariedade e encorajar os fiéis e todas as pessoas de boa vontade a se envolverem em ações concretas para ajudar os necessitados.
Nas sociedades modernas, a pobreza não se manifesta apenas de uma maneira única, mas pode assumir várias vertentes. Além da pobreza financeira tradicional, há outros tipos de pobreza que afetam as pessoas de maneiras diferentes.
As mensagens que o Papa Francisco divulga nestes dias incentivam a comunidade global a refletir sobre a importância de cuidar dos menos afortunados e onde destaca os desafios enfrentados pelos pobres e exorta à ação para aliviar o sofrimento e promover a justiça social.
Embora o conceito de pobreza esteja, muitas vezes, associado à falta de recursos materiais, a solidão pode representar nos grandes centros urbanos das sociedades ocidentais uma forma de carência social e emocional que condiciona significativamente a qualidade de vida das pessoas.
Por exemplo, a solidão, que está associada a vários problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade e stress, pode levar a um ciclo de pobreza emocional, afetando a capacidade das pessoas de desfrutar plenamente das suas vidas e realizar as suas capacidades e os seus talentos.
A inexistência de relações sociais e o apoio emocional são fundamentais para o bem-estar humano e a sua falta pode levar a sentimentos de isolamento e desamparo, contribuindo para uma sensação de pobreza existencial.
As pessoas que experimentam a solidão podem ter acesso limitado a recursos que promovem o desenvolvimento pessoal e social e a falta de redes sociais no terreno pode dificultar a obtenção de emprego, acesso a oportunidades educacionais e participação em atividades comunitárias.
É importante abordar a solidão e refletir sobre esta forma de pobreza e procurar estratégias que incentivem a participação em atividades comunitárias e o acesso a serviços de saúde mental, o que pode desempenhar um papel crucial na mitigação dessa forma de empobrecimento social.
Por outro lado, a pobreza nas sociedades urbanas modernas requer uma abordagem global, integrando políticas que visem não apenas a distribuição de recursos, mas também a promoção da igualdade de oportunidades em diversas esferas da vida urbana. Isso inclui investimentos na educação, habitação, saúde, inclusão social e medidas para combater a desigualdade económica.
É que a falta de acesso à educação pode perpetuar ciclos de pobreza, dado que a educação desempenha um papel crucial na capacitação das pessoas para romperem o ciclo da pobreza, e a falta de acesso a recursos educacionais adequados é limitadora de oportunidades.
Os bairros periféricos, muitas vezes habitados por emigrantes, constituem focos de pobreza, onde falta tudo, não apenas escassez de bens materiais, como o difícil acesso a serviços de saúde, falta de saneamento básico e ambientes poluídos e onde se enfrenta desafios significativos para manter uma boa saúde e cuidados médicos.
No mundo atual, a exclusão social advém também nas bolhas urbanas pobres da falta de acesso a atividades culturais, como arte, música, teatro e outros eventos culturais, privando esses extratos populacionais de experiências enriquecedoras e contribuem para uma pobreza cultural que promove a exclusão.
Cada vez mais dependentes do mundo digital, muitos são os que não têm acesso à tecnologia e à internet, resultando também nestes casos em desigualdades significativas no acesso à informação, a oportunidades de emprego e a uma participação plena na comunidade. Tais pessoas crescem em ambientes socialmente isolados e enfrentam desafios complexos para se promoverem e estabelecer relações interpessoais saudáveis.
Na sua mensagem para este dia, o Papa Francisco “exorta todos para que nos empenhemos no acolhimento dos pobres, dado que a pobreza se alastra as nossas cidades como um rio que engrossa sempre mais até extravasar; e parece submergir-nos, pois o grito dos irmãos e irmãs que pedem ajuda, apoio e solidariedade ergue-se cada vez mais forte”. Estejamos atentos.