Pico evoca centenário do nascimento do último bispo português de Macau, um homem com o “perfume da humildade, a paixão pela simplicidade e serviço até ao fim”- bispo de Angra

Foto: Igreja Açores/EM

Durante a homenagem foi descerrada uma lápide na casa onde nasceu, em São Mateus, seguindo-se uma eucaristia

Armando Esteves Domingues presidiu esta tarde em São Mateus, ilha do Pico à homenagem feita a D. Arquimínio Rodrigues da Costa, último bispo português de Macau, que nasceu há cem anos e era natural da ilha Montanha.

“Associo-me para manifestar o reconhecimento de toda a Diocese de Angra e dar graças a Deus pela sua vida e missão” afirmou o prelado diocesano durante a homilia, na qual lembrou os traços mais elementares do carácter do bispo açoriano que serviu em Roma e em Macau, onde esteve até à transição do território para a China, tendo depois regressado ao Pico, onde faleceu em 2016.

“D. Arquimínio da Costa, com D. Manuel Bernardo de Sousa Enes, D. João Paulino de Azevedo e Castro, D. José da Costa Nunes e D. Paulo José Tavares, faz parte de um grupo de açorianos missionários do Oriente e que foram todos eles, Bispos de Macau” recordou o bispo de Angra, aproveitando a oportunidade para convocar todos os cristãos para a missão.

“Oxalá este dias de homenagem nos deixe cheios de espírito de missão… de sonhos e de desafios para  voltar ao fervor do primeiro amor seja na família, na ordenação como nos compromissos profissionais, talvez esteja enfraquecido o ímpeto que nos moveu, a paixão que nos encheu de sonhos” salientou o prelado, a partir da liturgia desta segunda-feira.

O bispo de Angra destacou algumas das qualidades reconhecidas em D. Arquimínio Rodrigues da Costa, por todos os que com ele privaram, desde a sua tenra idade, salientando “o perfume da humildade, a paixão pela simplicidade e serviço” que o caracterizaram.

“D. Arquimínio da Costa é sem dúvida um daqueles que, saindo desta ilha do Pico ainda muito novo, nunca esqueceu as origens , a onde voltou e onde deixaria o perfume da humildade, da paixão pela simplicidade e serviço até ao fim, disponibilizando-se para servir em tudo o que os padres, vizinhos, jovens ou mais velhos lhe pediam” disse D. Armando Esteves Domingues, que foi portador de cumprimentos de bispos que com ele estudaram em Braga e em Roma e que foram seus amigos, reconhecendo os seus traços de “santidade”, tendo contribuído para uma renovação da diocese de Macau.

“Soube fazer pontes com os chineses, no diálogo cultural e religioso, procurando desenvolver a Igreja em Macau, sempre de olhos no futuro, em que bispos e padres seriam naturais da ilha e não tanto missionários vindos do continente” disse ainda.

“ Com os chineses, cuja língua bem falava, pregando mesmo em chinês, soube acentuar um “NÓS” maior: inclusivo, destemido, pronto para harmonizar as diferenças sem nunca impor uma uniformidade que despersonaliza. Um “nós” multicultural, um jardim de belas flores…”, frisou.

“Viveu imbuído de humanidade, de uma humanidade liberta, da humanidade que Jesus Cristo veio tocar com o corpo todo. A sua vida lembra que o crente que busca e pensa e o não crente que busca e pensa, estão muito próximo um do outro…”, concluiu o prelado.

 

A homenagem começou com o descerramento de uma placa na casa onde nasceu, seguindo-se a Eucaristia no santuário do Senhor Bom jesus Milagroso e depois uma sessão solene onde Manuel Serpa, amigo do bispo de Macau e ex sacerdote percorreu a biografia de D. Arquimínio Rodrigues da Costa.

O reitor do Santuário do Senhor Bom Jesus Milagroso, padre Marco Martinho, que juntamente com a Junta de Freguesia de São Mateus organizou esta homenagem deu graças por ter “podido conviver com a “sua humanidade e santidade” que “foi uma inspiração e um exemplo para todos nós”.

“Hoje estamos em festa no Céu e na terra; o senhor D. Arquimínio era um homem de São Mateus, da Madalena, dos Açores e do Mundo”, disse o sacerdote.

O Centenário do nascimento de D. Arquimínio Rodrigues da Costa foi lembrado no Clarim, jornal que se publica em Macau, pela pena do padre Jesuíta Luís Sequeira, ex reitor do Colégio Português de Macau, que destacou a sua humildade.

Embora possuindo uma inteligência fina, sendo culto e versado em línguas, nunca me apercebi nele modos arrogantes e muito menos de desdenho ou menosprezo para com alguém. Sempre o conheci discreto e afável para com todos, pobres ou ricos, importantes ou desconhecidos, homem ou mulher, jovem ou idoso; um Sacerdote de Deus e Bispo ao Serviço dos Outros, dentro e fora da Igreja”.

O padre Luís Sequeira destaca ainda os esforços do bispo de Macau no caminho da reconciliação entre o Vaticano e a China, rumo à unidade da Igreja apontando-o como o primeiro responsável pela nomeação do seu sucessor , o primeiro bispo de Macau de origem chinesa, D. Domingos Lam.

“Um gesto de humildade profunda, rico de sentido de Igreja. Na História da Igreja, sempre foi uma constante ver como, tarde ou cedo, as igrejas matrizes ou dioceses-mães dão origem a novas dioceses, como suas Filhas” refere o sacerdote jesuíta.

D.Arquimínio Rodrigues da Costa, nasceu em São Mateus a 8 de Julho de 1924; em 1938, juntamente com outros dois companheiros, foi levado para Macau por monsenhor José Machado Lourenço, missionário no Extremo Oriente.

O jovem entrou no seminário de São José, completando os seus estudos eclesiásticos em Teologia em junho de 1949; foi ordenado sacerdote a 6 de outubro de 1949.

O cabido da Sé de Macau elegeu-o como vigário capitular da diocese a 14 de junho de 1973; três anos depois, Paulo VI nomeou-o bispo de Macau, sucedendo ao também açoriano D. Paulo José Tavares, e a sua ordenação decorreu na Catedral Macaense a 25 de março de 1976.

A 06 de outubro de 1988, o Papa João Paulo II aceitou o seu pedido de resignação ao cargo de bispo de Macau; desde janeiro de 1989 fixou residência na sua terra natal.

A 07 de novembro de 1988 foi condecorado por Mário Soares, presidente da República Portuguesa, com o grau de Grã-Cruz da Ordem de Mérito.

(Com Elson Medeiros e padre Marco martinho)

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