Festas em honra de Nossa Senhora dos Milagres “estão na alma” do povo terceirense
A semana que antecede o segundo domingo de setembro é marcada na ilha Terceira, pelas numerosas romarias, organizadas em grupo ou individualmente, até ao santuário de Nossa Senhora dos Milagres, na Serreta.
Este ano o mau tempo “pode condicionar” as peregrinações- “nunca vi a Serreta tão molhada”-, mas “o movimento começa a fazer-se sentir” disse esta quarta feira ao Portal da Diocese o reitor do Santuário, Pe Manuel Carlos que, desde sexta feira, dia 6 de setembro, está a orientar o novenário preparatório das grandes solenidades que acontecem no domingo, dia 14, com a celebração da missa, seguida da procissão com a imagem de Nossa Senhora dos Milagres, que este ano serão presididas pelo Reitor do Seminário Episcopal de Angra, Pe Hélder Miranda Alexandre.
“Quisemos recordar o pedido que o Bispo de Angra fez aquando da elevação desta igreja a Santuário, justamente no dia da oração pelas vocações, dia da mãe, em 2006. È uma forma de, também, darmos graças pelas vocações e lembrar que é preciso estimulá-las sempre através das nossas orações”, sublinhou o sacerdote que há dez anos lidera esta comunidade paroquial.
Aliás, foi dois anos depois da sua chegada à Serreta que a Diocese criou o Santuário.
“Quando aqui cheguei ouvi dizer que o Senhor Bispo tinha afirmado que só sabendo ao certo a dimensão desta festa é que se poderia equacionar a possibilidade da criação de um santuário. No ano seguinte pedi a colaboração dos escuteiros e procedemos à contagem dos peregrinos entre sexta feira e domingo de madrugada. Eram perto de seis mil , 4 mil deles tinham chegado aqui a pé. No ano seguinte a igreja foi elevada a Santuário, julgo que de uma forma justa”, remata o sacerdote lembrando que esta festa “traduz a alma terceirense”.
A história do culto remonta às guerras napoleónicas, altura em que autoridades militares e civis pediram a interseção da Senhora dos Milagres para que poupasse a Terceira à guerra, prometendo honrar este voto todos os anos, no segundo domingo do mês de setembro, tempo de colheitas e de vinho novo.
O cumprimento do voto ficou a cargo da Irmandade de Nossa Senhora da Serreta e todos os anos é honrado com o tradicional bodo de leite, cujo padroeiro é Santo Antão, uma das três imagens que habitualmente sai à rua nestas festas. O outro é Santo António que percorre as principais artérias da Serreta, na terça feira, a seguir às solenidades de Nossa Senhora dos Milagres.
Além da festa religiosa criou-se também a segunda- feira da Serreta, o dia de convívio em que as famílias de Angra rumavam a estas paragens para honrar o voto da irmandade.
“É uma festa muito alargada quer do ponto de vista geracional quer social onde todos convivem e celebram com base numa fé comum”, destaca o reitor do Santuário da Serreta que nesta altura monta um “posto” de acolhimento aos peregrinos que durante toda a semana da festa acorrem ao Santuário, numa viagem de ida e volta.
Grande parte dos que vêm a pé, de diferentes lugares da ilha, chegam com “muitos problemas”. A caminhada pode durar até seis ou sete horas “conforme o ritmo”, sendo que na maioria dos casos já há uma enorme mobilização de movimentos.
Por exemplo, peregrinos dos Cursilhos de Cristandade vão partir de São Carlos e da Agualva na próxima sexta-feira e animarão uma celebração eucarística, presidida pelo assistente espiritual, Pe José Júlio Rocha, na madrugada de sábado. Também as Equipas de Nossa Senhora de toda a ilha e os membros da Ordem Terceira já participaram nestas animações litúrgicas.
“A afluência é grande tal como a devoção”, lembra o Reitor sublinhando que “quando há uma situação difícil na encruzilhada da vida è a Nossa Senhora dos Milagres que os terceirenses recorrem”.
Os que aqui vivem e os que já partiram para outras paragens levando consigo o culto, mas “regressam sempre ao seu Santuário”, diz o Pe Manuel Carlos.
Durante todo o ano, o Santuário acolhe peregrinos. Funciona a partir das oito da manhã até à hora da missa vespertina, o que acontece por volta das seis horas da tarde. Durante o verão o horário estende-se até às oito da noite.