Patriarca rejeita ideia de «divórcio católico» e pede atenção à «complexidade» humana

D. Manuel Clemente vai ser um dos 253 participantes na assembleia extraordinária dedicada à família

O patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, sustenta que a terceira assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, dedicada às questões da família, tem de se preocupar com a “complexidade” humana e rejeita a ideia de um ‘divórcio católico’.

“Divórcio católico não faz sentido, porque não é isso que está em questão”, disse à Agência ECCLESIA o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa que vai participar, nessa condição, na assembleia sinodal que se inicia este domingo.

Segundo este responsável, o mais importante é “considerar a complexidade humana”, que hoje em dia “se vê mais como itinerário, como percurso, do que como ato decisivo que se resume no momento”.

D. Manuel Clemente diz partilhar das “expectativas” da Igreja e da sociedade, numa assembleia que foi preparada com a ajuda de um questionário com 38 perguntas para promover uma consulta alargada às comunidades católicas.

Um dos assuntos mais discutidos na opinião pública foi o do acesso à Comunhão pelos divorciados, em particular os recasados.

Segundo o patriarca de Lisboa, a vida sacramental na Igreja Católica “tem de coincidir, na sua globalidade, com aquilo que Cristo propõe, não são atos desgarrados”.

“Eu comungo se estiver em comunhão, para acrescentar a comunhão: se tenho na minha vida uma rutura grave, concretamente no campo do Matrimónio, como é que posso comungar Cristo se não o comungo naquele outro sacramento?”, questiona.

Segundo o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, por outro lado, a Igreja “pode verificar e cada vez verifica mais” se efetivamente “aquele ato sacramental” do Matrimónio aconteceu.

“Não se trata de divórcio, trata-se de perceber a natureza do consentimento”, precisa.

D. Manuel Clemente admite que o “acolhimento” dos divorciados que voltaram a casar vai ser um dos temas em cima da mesa, deixando em aberto a consideração de um “percurso penitencial”, sem perder de vista “o pensamento da Igreja, a tradição bíblica e a proposta de Jesus Cristo sobre o Matrimónio”.

Em relação à sua intervenção, o presidente do episcopado português adianta que vai salientar a necessidade de ter em conta “a realidade humana do marido, da mulher, dos membros da família, com a complexidade que ela hoje apresenta”, para melhor compreender “o que é um vínculo familiar e a maneira de o apoiar”.

“Temos de entender o casal na sua formação, no seu compromisso matrimonial e na sua manutenção, até na sua reconstituição, quando possível, à luz desta complexidade”, acrescenta.

A Santa Sé anunciou que 253 pessoas, incluindo 25 mulheres, têm lugar marcado na assembleia extraordinária do Sínodo que vai decorrer no Vaticano entre os dias 5 e 19 de outubro.

O próximo Sínodo tem como tema os “desafios pastorais sobre a família” e será seguido por uma assembleia ordinária em 2015; só após a conclusão destes dois momentos serão apresentadas propostas a Francisco, a partir das quais poderá redigir uma exortação apostólica.

Para D. Manuel Clemente, este percurso tem sido uma oportunidade para “assumir a condição sinodal” da Igreja.

 

A entrevista vai ser emitida esta quinta-feira pelas 14h30( hora dos Açores) no Programa ECCLESIA (RTP2).

 

O Sínodo dos Bispos, convocado pelo Papa, pode ser definido em termos gerais como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo.

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