Ouvidores agradados com orientações de pastoral, insistem na necessidade de mais e melhor formação na diocese de Angra, para padres e leigos
As orientações diocesanas de pastoral cairam bem junto de alguns ouvidores da diocese de Angra, contactados pelo Sítio Igreja Açores, que lembram que “a conversão em chave missionária” já é o caminho proposto por Jesus Cristo.
As orientações diocesanas de pastoral, têm como base inspiradora a exortação apostólica do papa Francisco – A Alegria do Evangelho- e propõem uma “nova” saída da igreja nos Açores para o terreno em nome de “um melhor conhecimento da realidade insular”, como refere o documento que a partir deste domingo serve de “guia” para a atuação da igreja na diocese de Angra.
“Este é o caminho evangélico que está para além dos caminhos conjunturais e para além de uma abordagem sociológica momentanea” refere ao Sítio Igreja Açores o ouvidor de Ponta Delgada, Pe José Medeiros Constância.
“A igreja está presente no mundo e tem uma vocação missionária”, refere o sacerdote acrescentando que “não basta uma presença de formação catequética ou de celebração liturgica, sendo muito importante uma presença no mundo”.
“Este caminho do Evangelho, que hoje nos é recolocado pelo Bispo de Angra, é certo e exige de todos os agentes pastorais uma conversão que não é mais do que cada um de nós compreender o nosso caminho”, conclui o responsável pela ouvidoria de Ponta Delgada, esperando que a formação agora proposta “ e que é essencial” deve “responder às ferramentas necessárias e adequadas à missão no mundo de hoje”.
O sacerdote refere, contudo, que a formação não deve ser igual para todos.
“Há que apostar numa formação mais popular que sensibilize e acorde os cristãos e, depois, desenvolver uma formação mais especifica para os animadores de pastoral e também para o clero”.
Também o ouvidor do Faial, Pe Marco Luciano, sublinha a importância da formação nestes novos desafios propostos pelo bispo diocesano, dado que muitas das periferias existentes “já estão dentro da própria igreja” e dá um exemplo concreto.
“A catequese é uma periferia dentro da igreja porque precisa que se volte a investir nela com toda a convição, recentrando a atenção naquilo que é essencial: o anuncio da Alegria do Evangelho. Neste momento não estamos a formar bem os cristãos”, diz o sacerdote.
“Temos catequistas de boa vontade mas não temos catequistas formados e é aqui que começa o primeiro anuncio”, diz o ouvidor eclesiástico do Faial sublinhando que os cristãos açorianos “podem ter uma fé infantil, mas os agentes de pastoral também revelam, por vezes, uma fé pouco esclarecida e aprofundada”.
Por isso, “é bom que quando falamos de periferias façamos um esforço para olhar para dentro de casa” diz o Pe Marco Luciano que regista com apreço este pedido de conversão pastoral feito pelo prelado diocesano, sublinhando a importância na aposta “da família, da juventude e da catequese”.
“Lidamos todos os dias com famílias descristianizadas; elas precisam de sensibilização para regressarem à greja e, por isso, nós temos de estar muito atentos”, conclui.
Esta pastoral de proximidade constitui para o ouvidor eclesiástico das Flores “um desafio” pois urge “ultrapassar uma certa ideia de igreja supermercado” onde as pessoas “vão buscar uma série de coisas que depois não vivem de facto”.
O Pe Davide Barcelos destaca a importância deste apelo diocesano, alertando que um ano “é capaz de ser curto para desenvolver este trabalho de proximidade com as comunidades, mas é um bom começo”.
“É aqui que a igreja tem de estar e nós nas Flores temos procurado viver a igreja em comunidade. A experiência de oito anos de trabalho in solidum, entre os sacerdotes, envolvendo as comunidades , abrindo-as a um trabalho para além da paróquia, tem despertado novos horizontes com ganhos para todos”, refere o sacerdote que “gere” na ouvidoria as paróquias mais pequenas da diocese, como é o caso do Mosteiro, no concelho das Lajes das Flores, onde residem apenas 30 habitantes.
Na ouvidoria da Terceira, em contrapartida a maior dos Açores, com cinco zonas pastorais, o principal problema é “reconquistar” fieis.
“Há uma diminuição muito significativa da frequênncia dominical, por exemplo, e isso deve fazer-nos refletir” disse ao Sitio Igreja Açores o ouvidor, Pe António Henrique Pereira.
“Podemos mesmo falar em desertificação das igrejas, sobretudo ao nível da juventude o que revela que há coisas que não estão bem e que precisam de ser urgentemente reformuladas”, denota o sacerdote que pede aos padres para serem os primeiros a “rever num exame claro à sua atuação o que não está bem e o que precisa ser mudado”.
A ouvidoria vai promover cinco sessões abertas a toda a comunidade sobre a exortação apostólica do papa porque “é importante que as pessoas se consciencializem da verdadeira alegria do Evangelho que é uma resposta muito atual aos problemas de hoje”, conclui o ouvidor da Terceira que adianta que os sacerdotes terceirenses “receberam muito bem estas orientações de pastoral”.
“Neste momento em que a Igreja e o mundo vibram com a pessoa, palavra e exemplo do Papa Francisco, a Diocese não poderia deixar de estar em sintonia com esta feliz realidade eclesial e em boa hora apresentou como tema central deste novo ano pastoral a temática “Da alegria do evangelho à saída missionária da Igreja”, refere ao Sítio Igreja Açores o ouvidor eclesiástico do Pico.
“Cada vez mais, mesmo nestas nossas ilhas açorianas, temos que ser uma Igreja em saída, levando a alegria do Evangelho a todos sem exceção. Para que tal seja eficaz teremos que conhecer a nossa realidade. Conhecer para amar e amar para servir, pautados pela alegria do Evangelho”, sublinha o Pe Marco Martinho.
O sacerdote destaca a “oportunidade para conhecer melhor a realidade dos Açores” e acentua a necessidade de “conhecer, orientar e evangelizar a religiosidade popular”, dado que “é a espontânea e genuína forma do povo viver a sua fé”.
“Julgo que nós pastores temos a responsabilidade de os ajudar a viver e a expressar esta mesma fé. A eficácia do nosso plano pastoral terá que passar pela vivência da religiosidade popular da nossa gente, para que também a religiosidade popular seja reflexo da alegria do Evangelho”, realça o sacerdote, lembrando a circunstância de, pela primeira vez, haver nas orientações de pastoral um capitulo dedicado à religiosidade popular.